Publicidade
da Folha Online
O Citigroup, o maior banco dos Estados Unidos, anunciou nesta sexta-feira que teve prejuízo de US$ 5,1 bilhões no primeiro trimestre deste ano, um resultado um pouco pior do que o esperado pelos analistas.
O fraco desempenho é resultado direto das perdas com a crise do crédito imobiliário de alto risco ("subprime") no país. O banco admitiu perda de cerca de US$ 12 bilhões com os papéis atrelados aos créditos subprime e outros que foram atingidos pela atual crise creditícia.
Entenda a crise que atinge a economia dos EUA
O prejuízo por ação ficou em US$ 1,02, enquanto que os analistas de mercado esperavam prejuízo de US$ 0,95 por ação.
Porém, o resultado foi melhor do que o banco teve no quarto trimestre do ano passado, quando anunciou prejuízo de cerca de US$ 10 bilhões.
Dos US$ 12 bilhões que perdeu com a crise creditícia, foram US$ 6 bilhões com papéis subprime e outros US$ 6 bilhões com outros tipos de papéis, incluindo derivativos e títulos com "auction-rate" (juros definidos em leilão). Também estimou uma perda de US$ 3,1 bilhões com o aumento dos custos para liberação de crédito para consumidores.
Somando o primeiro trimestre, o Citigroup agora tem perda acumulada de US$ 36 bilhões com a crise creditícia.
Neste mesmo período, o Citigroup levantou cerca de US$ 30 bilhões através da venda de ativos e de ações para investidores --em especial fundos soberanos de países asiáticos. Também está cortando custos, usando como armas a demissão de empregados (espera-se corte de até 4,2 mil pessoas) e a reorganização das divisões do banco.
sábado, 19 de abril de 2008
Em semana mais tranqüila, foco estará com resultados nos EUA e ata do Copom
Por: Rodolfo Cirne Amstalden
18/04/08 - 20h45InfoMoney
SÃO PAULO - Depois de uma série de indicadores sobre a economia dos EUA, a agenda para as próximas sessões promete ser relativamente tranqüila. "É uma semana mais calma, sem dúvida", avalia Fabiana D'Atri, economista da Mauá Investimentos.
Contudo, a temporada de resultados corporativos norte-americanos continuará desempenhando o papel de driver para os mercados. Para Eduardo Machado, analista da corretora Amaril Franklin, "os balanços lá fora serão importantes para ditar o rumo".
Até agora, os bancos dos EUA vêm anunciando dados bastante ruins sob bases históricas, mas próximos às expectativas. E algumas representantes de outros setores conseguiram até mesmo superar o consenso, como é o caso do Google. Nada mal.
Assim dá para apostar com otimismo. "Acho que a tendência para as bolsas é de alta mesmo no curto prazo", opina Eduardo Machado. Especialmente diante de uma semana mais amena, com feriado na segunda-feira e menos sustos prováveis nos pregões subseqüentes.
Ata do Copom e inflação
Para o Brasil, podemos esperar os investidores "muito focados na ata do Copom", descreve Fabiana. "Vamos ver se o Comitê abre um pouco o que disse na quarta-feira passada". Talvez com um sinal mais preciso sobre a chance de aumentos complementares da Selic.
Na visão do analista da Amaril Franklin, "só essa elevação do juro básico não será suficiente para conter a força dos preços, sobretudo dos alimentos". Algo óbvio para quem acompanha os índices de inflação.
A economista da Mauá também lembra do IPCA-15 de abril, programado para sexta-feira. "O mercado já espera que esse indicador siga mostrando pressões inflacionárias". Um incômodo que se apresenta rotineiro nesta e em próximas sessões.
Fonte: http://web.infomoney.com.br//templates/news/view.asp?codigo=1079894&path=/investimentos/
18/04/08 - 20h45InfoMoney
SÃO PAULO - Depois de uma série de indicadores sobre a economia dos EUA, a agenda para as próximas sessões promete ser relativamente tranqüila. "É uma semana mais calma, sem dúvida", avalia Fabiana D'Atri, economista da Mauá Investimentos.
Contudo, a temporada de resultados corporativos norte-americanos continuará desempenhando o papel de driver para os mercados. Para Eduardo Machado, analista da corretora Amaril Franklin, "os balanços lá fora serão importantes para ditar o rumo".
Até agora, os bancos dos EUA vêm anunciando dados bastante ruins sob bases históricas, mas próximos às expectativas. E algumas representantes de outros setores conseguiram até mesmo superar o consenso, como é o caso do Google. Nada mal.
Assim dá para apostar com otimismo. "Acho que a tendência para as bolsas é de alta mesmo no curto prazo", opina Eduardo Machado. Especialmente diante de uma semana mais amena, com feriado na segunda-feira e menos sustos prováveis nos pregões subseqüentes.
Ata do Copom e inflação
Para o Brasil, podemos esperar os investidores "muito focados na ata do Copom", descreve Fabiana. "Vamos ver se o Comitê abre um pouco o que disse na quarta-feira passada". Talvez com um sinal mais preciso sobre a chance de aumentos complementares da Selic.
Na visão do analista da Amaril Franklin, "só essa elevação do juro básico não será suficiente para conter a força dos preços, sobretudo dos alimentos". Algo óbvio para quem acompanha os índices de inflação.
A economista da Mauá também lembra do IPCA-15 de abril, programado para sexta-feira. "O mercado já espera que esse indicador siga mostrando pressões inflacionárias". Um incômodo que se apresenta rotineiro nesta e em próximas sessões.
Fonte: http://web.infomoney.com.br//templates/news/view.asp?codigo=1079894&path=/investimentos/
Preços devem garantir superávit expressivo em 2008
Nem mesmo o forte crescimento das importações será suficiente para reduzir montante
O primeiro trimestre de 2008 foi caracterizado por um forte aumento das importações, seja pelo sucessivo crescimento do quantum importado quanto pelo impacto mais recente do aumento de preços de itens como petróleo e combustível, trigo e fertilizantes.
Contudo, o ganho de preços pelo lado das exportações (acompanhando os preços de commodities) também tem sido considerável, o que deverá garantir um saldo comercial robusto em 2008.
De acordo com dados da equipe de economistas do banco Bradesco, os preços de exportação mostram ganhos de 13,5% no período de 12 meses terminados em março. Os valores foram influenciados pelo aumento dos preços das exportações de produtos básicos, sendo que os destaques podem ser divididos em dois grupos: o alimentício e o de commodities metálicas e energéticas.
No caso dos produtos alimentícios, o principal destaque fica com a soja, considerando sua importância na pauta de exportação e seu aumento de preço no mercado internacional desde meados de 2007, o que tem trazido efeitos favoráveis para a balança comercial.
Junto com o café, o preço das carnes in-natura – fortemente atrelado aos preços internacionais de grãos – acompanha o movimento de ganhos da soja, ainda que em uma escala menor. Contudo, a perspectiva desses preços permanece pressionada, já que estes reagem a demanda global gerada pela mudança de hábitos alimentares nos países emergentes onde existem ganhos de renda e processos de urbanização.
Embora o processo de avanço dos preços mostre uma maior preocupação no âmbito internacional, os economistas consideram “difícil” visualizar no médio prazo uma reversão considerável na tendência desses preços, de forma a comprometer as exportações. Segundo a instituição, o quadro mais razoável é a manutenção dos ganhos em termos de troca pela posição do país em termos de produção agropecuária.
Por outro lado, existe dentro dos itens básicos o aumento dos preços do grupo de commodities metálicas e energéticas. Segundo o banco, os aumentos dos preços de petróleo já estão sendo refletidos nos dados de preços de exportação, ao passo que os preços de minério de ferro deverão ser reajustados apenas a partir deste mês, por serem definidos por contrato.
Nesse sentido, o reajuste obtido de, no mínimo, 65%, deverá levar a um aumento médio em 2008 como um todo de 50%. Apenas o minério de ferro deverá responder por aproximadamente 3,3 pontos percentuais de acréscimo do preço da exportação para este ano.
Considerando o cálculo do carry-over (carregamento estatístico) do preço médio no primeiro trimestre, a média do preço de exportação é cerca de 13,8% acima ante o ano passado. Com a expectativa de preços gerada pelo minério de ferro, o viés de alta para o preço chega a 15%. Desta forma, os ganhos de preços de exportação deverão assegurar um saldo comercial em torno de US$ 27,3 bilhões neste ano.
Tatiane Correia
Fonte: http://www.dinheirovivo.com.br/Content.aspx?Id=11888
O primeiro trimestre de 2008 foi caracterizado por um forte aumento das importações, seja pelo sucessivo crescimento do quantum importado quanto pelo impacto mais recente do aumento de preços de itens como petróleo e combustível, trigo e fertilizantes.
Contudo, o ganho de preços pelo lado das exportações (acompanhando os preços de commodities) também tem sido considerável, o que deverá garantir um saldo comercial robusto em 2008.
De acordo com dados da equipe de economistas do banco Bradesco, os preços de exportação mostram ganhos de 13,5% no período de 12 meses terminados em março. Os valores foram influenciados pelo aumento dos preços das exportações de produtos básicos, sendo que os destaques podem ser divididos em dois grupos: o alimentício e o de commodities metálicas e energéticas.
No caso dos produtos alimentícios, o principal destaque fica com a soja, considerando sua importância na pauta de exportação e seu aumento de preço no mercado internacional desde meados de 2007, o que tem trazido efeitos favoráveis para a balança comercial.
Junto com o café, o preço das carnes in-natura – fortemente atrelado aos preços internacionais de grãos – acompanha o movimento de ganhos da soja, ainda que em uma escala menor. Contudo, a perspectiva desses preços permanece pressionada, já que estes reagem a demanda global gerada pela mudança de hábitos alimentares nos países emergentes onde existem ganhos de renda e processos de urbanização.
Embora o processo de avanço dos preços mostre uma maior preocupação no âmbito internacional, os economistas consideram “difícil” visualizar no médio prazo uma reversão considerável na tendência desses preços, de forma a comprometer as exportações. Segundo a instituição, o quadro mais razoável é a manutenção dos ganhos em termos de troca pela posição do país em termos de produção agropecuária.
Por outro lado, existe dentro dos itens básicos o aumento dos preços do grupo de commodities metálicas e energéticas. Segundo o banco, os aumentos dos preços de petróleo já estão sendo refletidos nos dados de preços de exportação, ao passo que os preços de minério de ferro deverão ser reajustados apenas a partir deste mês, por serem definidos por contrato.
Nesse sentido, o reajuste obtido de, no mínimo, 65%, deverá levar a um aumento médio em 2008 como um todo de 50%. Apenas o minério de ferro deverá responder por aproximadamente 3,3 pontos percentuais de acréscimo do preço da exportação para este ano.
Considerando o cálculo do carry-over (carregamento estatístico) do preço médio no primeiro trimestre, a média do preço de exportação é cerca de 13,8% acima ante o ano passado. Com a expectativa de preços gerada pelo minério de ferro, o viés de alta para o preço chega a 15%. Desta forma, os ganhos de preços de exportação deverão assegurar um saldo comercial em torno de US$ 27,3 bilhões neste ano.
Tatiane Correia
Fonte: http://www.dinheirovivo.com.br/Content.aspx?Id=11888
Os Estados Unidos provocam "crack" financeiro global
APOTEOSE E NAUFRÁGIO DA NOVA ECONOMIA
Os Estados Unidos provocam "crack" financeiro global
A economia mundial está sob controle de umas 200 corporações globais que controlam 25% do PIB mundial. Max Weber teceu cogitações sobre a superioridade do capitalismo a partir dos seus supostos atributos éticos, como a frugalidade, o ascetismo, o sossego. Tal capitalismo, se é que existiu alguma vez, evidentemente não existe mais.
René Báez - Alai Amlatina
As emblemáticas falências das gigantes Enron e WorldCom e as estrondosas quedas da Bolsa de Nova York, em 2000, ressuscitaram o fantasma da Grande Depressão dos anos 1930. Do seu lado, os descalabros monetário-financeiros no Mercosul no início desta década — mal amenizados pelas blindagens do FMI— vieram confirmar a presunção de que o capitalismo global tinha evoluído para um caso clínico. Os presságios sombrios multiplicaram-se inclusive entre os apologistas do establishment. O que estava por trás desses novos espasmos do capitalismo, que o atingiam tanto em seus núcleos centrais como na periferia?
Vamos abordar essa questão a partir da ótica da Economia Política.
Caracteriza o regime de produção capitalista seu desigual desenvolvimento no espaço (países que crescem e países que ficam estancados e, inclusive, retrocedem) e no tempo (ciclos com suas fases de apogeu, crise, recessão e reanimação). As crises constituem o momento crucial desse sistema econômico-social, uma vez que põem à prova sua capacidade de reprodução. E, inclusive, de uma perspectiva temporal mais ampla, interpelam sobre a validade do multissecular paradigma da Modernidade e do Progresso. Por que sobrevem uma crise? As crises capitalistas —independente das suas circunstâncias particulares e aleatórias— obedecem sempre à sua contradição essencial, ou seja, ao desajuste entre o valor das mercadorias produzidas e o volume da demanda por essas mercadorias. Dito em outros termos, revelam o desequilíbrio entre o caráter social da produção e a forma privada de apropriação dos frutos da atividade econômica. Este ponto de vista, mais do que expressar uma anacrônica visão teórica, reflete a realidade mais crua desta virada de século. Do que estamos falando?
Catapultado por seus grandes triunfos políticos (queda do “socialismo real”, ter cooptado o movimento operário das metrópoles e o enfraquecimento transitório do nacionalismo terceiro-mundista) e pelos espetaculares avanços tecnológicos, especialmente nos campos da informática e das comunicações —constitutivos da denominada Nova Economia—, o capitalismo central viveu uma nova apoteose na década dos anos 1990, montado sobre um impetuoso processo de concentração e centralização de capital, exacerbado pelo crescimento exponencial do capital financeiro especulativo. Dialeticamente, essa euforia do sistema teria incubado a crise do início desta década.
Explicando.
Como conseqüência do mencionado processo de concentração, a economia mundial está, atualmente, sob controle de umas 200 corporações globais —encabeçadas por companhias como ExxonMobil, General Motors, Ford Motor, DaimlerCrysler— que controlam 25% do PIB mundial e formam o "complexo totalitário" de que fala F. Clairmot. Este núcleo duro do capitalismo global se robusteceu nos anos 1990 brandindo um liberalismo econômico de uma só via; ou seja, avassalando países e continentes, desregulamentando as economias "anfitriãs", privatizando empresas estatais e pára-estatais, desestruturando sistemas de proteção trabalhista, arruinando competidores locais, promovendo blocos de integração assimétrica (do tipo TLCAN e ALCA). E, é claro, — segundo já foi dito — por meio de operações especulativas adiantadas em escala planetária.
Por que a bonança da economia estadunidense — a locomotiva do capitalismo global— começou a desandar a partir do ano 2000, disseminando as turbulências financeiras, a queda livre do dólar, a recessão, a relocalização dos investimentos, o desemprego e o ceticismo tanto no centro quanto na periferia? Que fatores concorreram para esgotar a fase expansiva dos Estados Unidos, baseada na famosa Nova Economia?
Além da queda da demanda solvente, a inflexão do crescimento no início desta década precisa ser explicada pela progressiva perda de competitividade dos Estados Unidos com respeito à Europa, Japão e China, tendência que, nos últimos anos, tem se traduzido em déficits comerciais da ordem dos 400-600 bilhões de dólares e em uma espiral de endividamento de Washington, provocando devastadores efeitos nos índices de emprego e de renda na metrópole. Da mesma maneira, um fator de contração da economia dessa potência mundial deve ser localizado na orientação capital intensiva das tecnologias de ponta, orientação que tem retroalimentado a queda da demanda e que gerou um desemprego de características estruturais e não apenas conjuntural.
A extrapolação destas condições para a economia internacional estaria na base da fenda de dimensões siderais entre a opulência e a miséria em escala mundial. Segundo as Nações Unidas, três "homens-corporação" detêm uma riqueza que supera o PIB total dos 48 países mais pobres (600 milhões de habitantes). Como poderia se reproduzir normalmente um capitalismo que miniaturiza o mercado a esse ponto?
O colapso da “financeirização”
O aspecto mais perceptível da crise financeira comentada foram os "cracks" bursáteis, popularizados com a denominação de "estouros" da bolha financeira. Além do mencionado processo de contração da demanda efetiva, quais foram os fatores que determinaram as debacles financeiras? Por que murchou o capital financeiro?
Para começar, a “financeirização” alude a um processo de crescimento exponencial do capital fictício. Maurice Allais, prêmio Nobel de Economia, calculou que os movimentos internacionais de capital especulativo superam em 40 vezes a liquidez originada na compra e venda de bens e serviços. Por sua vez, José Manuel Naredo, co-autor do livro Pensamento crítico vs. pensamento único (Debate, l998), lembra que o volume das reservas monetárias em poder dos governos corresponde apenas ao que é negociado diariamente no mercado de divisas, aproximadamente 1,8 trilhão de dólares. Como foi possível edificar essa colossal "economia de papel"?
A criação de capital fictício é uma tendência inata do regime capitalista. Um economista alemão do século XIX explicou-a associada à alienação que provoca esse regime produtivo e que se traduz em que os homens deixam de se reconhecer nos objetos que produzem, fazendo com que a troca assuma formas fantasmagóricas. Atualmente, esse "fetichismo da mercadoria" chegou a níveis surrealistas sob a batuta das corporações globais e dos bancos de investimento e cavalgando no descomunal crescimento dos mercados cambiais, intimamente relacionados com os juros de mercado. Como era de se esperar, a expansão destes mercados, fonte de lucros extraordinários para o grande capital, deu origem a uma variedade de "produtos" financeiros, também conhecidos como "derivados" —futuros, swaps, opções— e à conseguinte expansão da famosa bolha de capital fictício. Por que estourou a bolha financeira na conjuntura 2000-2001?
No mínimo pelas duas seguintes razões:
Em primeiro lugar, porque a “financeirização” ocultava a abissal dissociação entre capital financeiro e capital produtivo, o que determinou que, em qualquer momento, os títulos fiduciários possam perder seu valor de troca e transformar-se em papéis para a lixeira. É justamente o que constataram amargamente no início da década milhões de investidores estadunidenses (e de outros países). Como explicar essa espetacular queda dos valores bursáteis? Resposta: devido à confrontação que cedo ou tarde ocorre entre economia financeira e economia real. "A pretensão de esquivar-se das causas estruturais da crise — está escrito em um documento — por meio do descolamento das bolsas de valores promovido na década de 1990 nos EUA chegou ao seu limite. Na verdade, durante essa década o valor das ações cresceu 1.000%, mas a economia real cresceu apenas 50%". (Declaração do Comitê Equatoriano contra a ALCA, 2002).
Uma segunda causa está relacionada com o fato de que a hipertrofia do setor financeiro coloca as decisões mais importantes da vida econômica de continentes e nações em mãos de um grupo numericamente insignificante de pessoas, cujos critérios são definidos à margem dos interesses dos grandes contingentes humanos e dos vitais equilíbrios ecológicos, ou seja, dos componentes da economia real.
A "falha" ética do sistema
O "crack" financeiro nos Estados Unidos, incubado pela Nova Economia, pode ser explicado pelo esgotamento da estratégia da Administração Clinton encaminhada a disfarçar as pressões recessivas estruturais do ciclo através do expediente de "cevar" a bolha bursátil. Esta resposta, contudo, não é suficiente para compreender a complexidade da crise do capitalismo abstrato e cibernético e entrever suas implicações. Qual é a causa íntima dos desastres financeiros?
R. Garaudy antecipou uma explicação do fenômeno em seu ensaio publicado no livro coletivo A Nova Ordem Mundial (1996), onde coloca a tese de que o nosso tempo descreve uma luta entre o monoteísmo sórdido do mercado e os homens que acreditam que a vida tem um sentido. Mais recentemente, o citado F. Clairmont ensaiou uma teoria similar. "A religião do mercado — diz ele — continua sendo a livre circulação de capitais, mas começa a se materializar uma nova mensagem cada vez mais concreta e perigosa: é preciso fazer de tudo para conseguir "o maior valor para o acionista", por meio do aumento do valor das ações".
Traduzido para uma linguagem comum, isto não significa outra coisa a não ser que — na lógica desta virada de século do capitalismo e da modernidade — não são os balanços de perdas e lucros os que determinam o valor dos títulos. Atualmente, as cotações bursáteis chegaram a ser estabelecidas a partir de estimativas (especulações) sobre a situação futura de empresas reais ou imaginárias. Qual é o calcanhar de Aquiles moral deste Mundo Feliz?
Samir Amin visualizou a bolha fiduciária como uma patologia equiparável ao câncer, doença que —segundo se conhece— multiplica de maneira descontrolada as células em um processo que leva à morte do paciente. Qual é o câncer do capitalismo contemporâneo? Max Weber teceu cogitações sobre a superioridade do capitalismo a partir dos seus supostos atributos éticos, como a frugalidade, o ascetismo, o sossego. Tal capitalismo, se é que existiu alguma vez, evidentemente não existe mais. Atualmente, a "fria astúcia" rege as relações comerciais, e inclusive passou a ser um comportamento normal. Ceder de qualquer maneira diante de um opositor ou de um concorrente é considerado um erro imperdoável para aquele que tem uma vantagem quanto a posição, poder ou riqueza". (A. Solzhenitsyn, Fim de Século, 1996). As elites econômicas e políticas mundiais —inclusive seus congêneres do Sul— abraçaram, freqüentemente sem saber disso, o fundamentalismo da modernidade cifrado na sentença de Bentham, para quem "todo valor é um valor mercantil".
O horizonte desse axioma utilitarista é temível e não apenas por causa dos efeitos derivados das tormentas financeiras. Se as ações humanas vão ter como bússola exclusiva o sucesso econômico, vamos poder entender que tudo está permitido. Este, com certeza, foi o argumento esgrimido pelos sacerdotes da “contabilidade criativa”, cujas “façanhas” acabaram deixando à vista os pés de barro da Nova Economia.
Nos dias que correm, e depois de uma fraca e errática recuperação da economia norte-americana, sustentada no keynesianismo de guerra —ocupação do Afeganistão e do Iraque, Plano Colômbia, etc.— e do fabricado boom imobiliário obstinadamente instrumentalizados pelo governo de George W. Bush, a queda do Bear Stearns e as dificuldades do CitiGroup —o maior banco do mundo— são o prelúdio de graves tempestades não só para a potência unipolar, mas para o planeta inteiro.
"A peste já está aqui, o que fazer quando chega a peste?", diria o poeta Homero.
* René Báez, economista equatoriano, é professor universitário, Prêmio Nacional de Economia e membro da Internacional Writers Association.
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14936&editoria_id=7
Os Estados Unidos provocam "crack" financeiro global
A economia mundial está sob controle de umas 200 corporações globais que controlam 25% do PIB mundial. Max Weber teceu cogitações sobre a superioridade do capitalismo a partir dos seus supostos atributos éticos, como a frugalidade, o ascetismo, o sossego. Tal capitalismo, se é que existiu alguma vez, evidentemente não existe mais.
René Báez - Alai Amlatina
As emblemáticas falências das gigantes Enron e WorldCom e as estrondosas quedas da Bolsa de Nova York, em 2000, ressuscitaram o fantasma da Grande Depressão dos anos 1930. Do seu lado, os descalabros monetário-financeiros no Mercosul no início desta década — mal amenizados pelas blindagens do FMI— vieram confirmar a presunção de que o capitalismo global tinha evoluído para um caso clínico. Os presságios sombrios multiplicaram-se inclusive entre os apologistas do establishment. O que estava por trás desses novos espasmos do capitalismo, que o atingiam tanto em seus núcleos centrais como na periferia?
Vamos abordar essa questão a partir da ótica da Economia Política.
Caracteriza o regime de produção capitalista seu desigual desenvolvimento no espaço (países que crescem e países que ficam estancados e, inclusive, retrocedem) e no tempo (ciclos com suas fases de apogeu, crise, recessão e reanimação). As crises constituem o momento crucial desse sistema econômico-social, uma vez que põem à prova sua capacidade de reprodução. E, inclusive, de uma perspectiva temporal mais ampla, interpelam sobre a validade do multissecular paradigma da Modernidade e do Progresso. Por que sobrevem uma crise? As crises capitalistas —independente das suas circunstâncias particulares e aleatórias— obedecem sempre à sua contradição essencial, ou seja, ao desajuste entre o valor das mercadorias produzidas e o volume da demanda por essas mercadorias. Dito em outros termos, revelam o desequilíbrio entre o caráter social da produção e a forma privada de apropriação dos frutos da atividade econômica. Este ponto de vista, mais do que expressar uma anacrônica visão teórica, reflete a realidade mais crua desta virada de século. Do que estamos falando?
Catapultado por seus grandes triunfos políticos (queda do “socialismo real”, ter cooptado o movimento operário das metrópoles e o enfraquecimento transitório do nacionalismo terceiro-mundista) e pelos espetaculares avanços tecnológicos, especialmente nos campos da informática e das comunicações —constitutivos da denominada Nova Economia—, o capitalismo central viveu uma nova apoteose na década dos anos 1990, montado sobre um impetuoso processo de concentração e centralização de capital, exacerbado pelo crescimento exponencial do capital financeiro especulativo. Dialeticamente, essa euforia do sistema teria incubado a crise do início desta década.
Explicando.
Como conseqüência do mencionado processo de concentração, a economia mundial está, atualmente, sob controle de umas 200 corporações globais —encabeçadas por companhias como ExxonMobil, General Motors, Ford Motor, DaimlerCrysler— que controlam 25% do PIB mundial e formam o "complexo totalitário" de que fala F. Clairmot. Este núcleo duro do capitalismo global se robusteceu nos anos 1990 brandindo um liberalismo econômico de uma só via; ou seja, avassalando países e continentes, desregulamentando as economias "anfitriãs", privatizando empresas estatais e pára-estatais, desestruturando sistemas de proteção trabalhista, arruinando competidores locais, promovendo blocos de integração assimétrica (do tipo TLCAN e ALCA). E, é claro, — segundo já foi dito — por meio de operações especulativas adiantadas em escala planetária.
Por que a bonança da economia estadunidense — a locomotiva do capitalismo global— começou a desandar a partir do ano 2000, disseminando as turbulências financeiras, a queda livre do dólar, a recessão, a relocalização dos investimentos, o desemprego e o ceticismo tanto no centro quanto na periferia? Que fatores concorreram para esgotar a fase expansiva dos Estados Unidos, baseada na famosa Nova Economia?
Além da queda da demanda solvente, a inflexão do crescimento no início desta década precisa ser explicada pela progressiva perda de competitividade dos Estados Unidos com respeito à Europa, Japão e China, tendência que, nos últimos anos, tem se traduzido em déficits comerciais da ordem dos 400-600 bilhões de dólares e em uma espiral de endividamento de Washington, provocando devastadores efeitos nos índices de emprego e de renda na metrópole. Da mesma maneira, um fator de contração da economia dessa potência mundial deve ser localizado na orientação capital intensiva das tecnologias de ponta, orientação que tem retroalimentado a queda da demanda e que gerou um desemprego de características estruturais e não apenas conjuntural.
A extrapolação destas condições para a economia internacional estaria na base da fenda de dimensões siderais entre a opulência e a miséria em escala mundial. Segundo as Nações Unidas, três "homens-corporação" detêm uma riqueza que supera o PIB total dos 48 países mais pobres (600 milhões de habitantes). Como poderia se reproduzir normalmente um capitalismo que miniaturiza o mercado a esse ponto?
O colapso da “financeirização”
O aspecto mais perceptível da crise financeira comentada foram os "cracks" bursáteis, popularizados com a denominação de "estouros" da bolha financeira. Além do mencionado processo de contração da demanda efetiva, quais foram os fatores que determinaram as debacles financeiras? Por que murchou o capital financeiro?
Para começar, a “financeirização” alude a um processo de crescimento exponencial do capital fictício. Maurice Allais, prêmio Nobel de Economia, calculou que os movimentos internacionais de capital especulativo superam em 40 vezes a liquidez originada na compra e venda de bens e serviços. Por sua vez, José Manuel Naredo, co-autor do livro Pensamento crítico vs. pensamento único (Debate, l998), lembra que o volume das reservas monetárias em poder dos governos corresponde apenas ao que é negociado diariamente no mercado de divisas, aproximadamente 1,8 trilhão de dólares. Como foi possível edificar essa colossal "economia de papel"?
A criação de capital fictício é uma tendência inata do regime capitalista. Um economista alemão do século XIX explicou-a associada à alienação que provoca esse regime produtivo e que se traduz em que os homens deixam de se reconhecer nos objetos que produzem, fazendo com que a troca assuma formas fantasmagóricas. Atualmente, esse "fetichismo da mercadoria" chegou a níveis surrealistas sob a batuta das corporações globais e dos bancos de investimento e cavalgando no descomunal crescimento dos mercados cambiais, intimamente relacionados com os juros de mercado. Como era de se esperar, a expansão destes mercados, fonte de lucros extraordinários para o grande capital, deu origem a uma variedade de "produtos" financeiros, também conhecidos como "derivados" —futuros, swaps, opções— e à conseguinte expansão da famosa bolha de capital fictício. Por que estourou a bolha financeira na conjuntura 2000-2001?
No mínimo pelas duas seguintes razões:
Em primeiro lugar, porque a “financeirização” ocultava a abissal dissociação entre capital financeiro e capital produtivo, o que determinou que, em qualquer momento, os títulos fiduciários possam perder seu valor de troca e transformar-se em papéis para a lixeira. É justamente o que constataram amargamente no início da década milhões de investidores estadunidenses (e de outros países). Como explicar essa espetacular queda dos valores bursáteis? Resposta: devido à confrontação que cedo ou tarde ocorre entre economia financeira e economia real. "A pretensão de esquivar-se das causas estruturais da crise — está escrito em um documento — por meio do descolamento das bolsas de valores promovido na década de 1990 nos EUA chegou ao seu limite. Na verdade, durante essa década o valor das ações cresceu 1.000%, mas a economia real cresceu apenas 50%". (Declaração do Comitê Equatoriano contra a ALCA, 2002).
Uma segunda causa está relacionada com o fato de que a hipertrofia do setor financeiro coloca as decisões mais importantes da vida econômica de continentes e nações em mãos de um grupo numericamente insignificante de pessoas, cujos critérios são definidos à margem dos interesses dos grandes contingentes humanos e dos vitais equilíbrios ecológicos, ou seja, dos componentes da economia real.
A "falha" ética do sistema
O "crack" financeiro nos Estados Unidos, incubado pela Nova Economia, pode ser explicado pelo esgotamento da estratégia da Administração Clinton encaminhada a disfarçar as pressões recessivas estruturais do ciclo através do expediente de "cevar" a bolha bursátil. Esta resposta, contudo, não é suficiente para compreender a complexidade da crise do capitalismo abstrato e cibernético e entrever suas implicações. Qual é a causa íntima dos desastres financeiros?
R. Garaudy antecipou uma explicação do fenômeno em seu ensaio publicado no livro coletivo A Nova Ordem Mundial (1996), onde coloca a tese de que o nosso tempo descreve uma luta entre o monoteísmo sórdido do mercado e os homens que acreditam que a vida tem um sentido. Mais recentemente, o citado F. Clairmont ensaiou uma teoria similar. "A religião do mercado — diz ele — continua sendo a livre circulação de capitais, mas começa a se materializar uma nova mensagem cada vez mais concreta e perigosa: é preciso fazer de tudo para conseguir "o maior valor para o acionista", por meio do aumento do valor das ações".
Traduzido para uma linguagem comum, isto não significa outra coisa a não ser que — na lógica desta virada de século do capitalismo e da modernidade — não são os balanços de perdas e lucros os que determinam o valor dos títulos. Atualmente, as cotações bursáteis chegaram a ser estabelecidas a partir de estimativas (especulações) sobre a situação futura de empresas reais ou imaginárias. Qual é o calcanhar de Aquiles moral deste Mundo Feliz?
Samir Amin visualizou a bolha fiduciária como uma patologia equiparável ao câncer, doença que —segundo se conhece— multiplica de maneira descontrolada as células em um processo que leva à morte do paciente. Qual é o câncer do capitalismo contemporâneo? Max Weber teceu cogitações sobre a superioridade do capitalismo a partir dos seus supostos atributos éticos, como a frugalidade, o ascetismo, o sossego. Tal capitalismo, se é que existiu alguma vez, evidentemente não existe mais. Atualmente, a "fria astúcia" rege as relações comerciais, e inclusive passou a ser um comportamento normal. Ceder de qualquer maneira diante de um opositor ou de um concorrente é considerado um erro imperdoável para aquele que tem uma vantagem quanto a posição, poder ou riqueza". (A. Solzhenitsyn, Fim de Século, 1996). As elites econômicas e políticas mundiais —inclusive seus congêneres do Sul— abraçaram, freqüentemente sem saber disso, o fundamentalismo da modernidade cifrado na sentença de Bentham, para quem "todo valor é um valor mercantil".
O horizonte desse axioma utilitarista é temível e não apenas por causa dos efeitos derivados das tormentas financeiras. Se as ações humanas vão ter como bússola exclusiva o sucesso econômico, vamos poder entender que tudo está permitido. Este, com certeza, foi o argumento esgrimido pelos sacerdotes da “contabilidade criativa”, cujas “façanhas” acabaram deixando à vista os pés de barro da Nova Economia.
Nos dias que correm, e depois de uma fraca e errática recuperação da economia norte-americana, sustentada no keynesianismo de guerra —ocupação do Afeganistão e do Iraque, Plano Colômbia, etc.— e do fabricado boom imobiliário obstinadamente instrumentalizados pelo governo de George W. Bush, a queda do Bear Stearns e as dificuldades do CitiGroup —o maior banco do mundo— são o prelúdio de graves tempestades não só para a potência unipolar, mas para o planeta inteiro.
"A peste já está aqui, o que fazer quando chega a peste?", diria o poeta Homero.
* René Báez, economista equatoriano, é professor universitário, Prêmio Nacional de Economia e membro da Internacional Writers Association.
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14936&editoria_id=7
Estados Unidos: O pior da crise está por vir
DÍVIDA E RESTRIÇÃO DE CRÉDITO
Estados Unidos: O pior da crise está por vir
Os dois maiores temores atuais são a corrida bancária e uma queda ainda mais pronunciada do dólar. O montante da moeda em circulação nos Estados Unidos é mantido em segredo, sinal seguro de está sendo impresso dinheiro dia e noite e que cedo ou tarde a inflação vai disparar.
Johan Galtung*
TÓQUIO (IPS) – Dia a dia recebemos notícias que soam velhas sobre a crise econômica. E, como é habitual, essas notícias se referem à crise para os ricos e à "economia" como um sistema, mas nunca à miséria no fundo desse sistema. A esta crise dão nomes como “restrições ao crédito”, “falta de liquidez” ou “crise de investidores’. Naturalmente existe uma restrição de crédito e não há dinheiro disponível porque as pessoas da área financeira sabem melhor que ninguém quanto se tornou instável a economia e de que modo as dívidas, incluindo as hipotecas, são empacotadas, vendidas e revendidas até que a dívida original se torne irreconhecível.
Cada credor acrescenta novas condições, freqüentemente incluindo muito pronunciados aumentos de juros depois das fáceis condições iniciais dadas para atrair os crédulos. Além disso, os financeiros sabem que as instituições que estão emitindo certificados de solvência são de propriedade das próprias instituições financeiras as quais certificam, fazendo, assim, com que seus certificados AAA, etc, não tenham valor algum. Com esses certificados atraem crédulos municípios de todas as partes do mundo para a obtenção de créditos que depois lhe resultarão devastadores.
Por que fazem tudo isto? Por que são ardilosos e ambiciosos? Essa é parte da verdade, mas, também procuram garantir seus próprios interesses antes que venha a crise verdadeira. Por boas razões: as instituições financeiras já estão quebrando, os juros das dívidas não estão sendo pagos e a cadeia de instrumentos financeiros (incluindo os seguros) também está desmoronando. Então, por que não tentar obter algum reembolso enquanto existe algum dinheiro e muito poucas normas?Porém, alguns devedores também estão trapaceando e fazendo malabarismo dando informações de valores inexistentes para seus empréstimos com a esperança de poder pagá-los antes que subam as taxas de juros, por exemplo, usando cartões de credito. Os dois maiores temores atuais são a corrida bancária e uma queda ainda mais pronunciada do dólar. Vejamos o caso do Banco Northern Rock, da Inglaterra. As pessoas fizeram fila pare retirar seu dinheiro, confiando mais no dinheiro no bolso do que deixando-o depositado no banco, que, portanto, teve de ser objeto de um resgate financeiro.
O mesmo ocoreu nos Estados Unidos, com fundos privados ou federais, com a tentativa de cortar pela raiz uma profecia que por sua própria natureza contribui para não se concretizar. Não se pode saber se terão êxito, ou não. Deve-se dizer que a corrida bancária dos anos 30, não a crise econômica de 1929, esteve na raiz da depressão. O pior está por vir. O dinheiro retirado dos bancos pode se desvalorizar drasticamente, pelo menos por três razões:
Primeiro, o montante da moeda em circulação nos Estados Unidos é mantido em segredo, sinal seguro de está sendo impresso dinheiro dia e noite e que cedo ou tarde a inflação vai disparar.
Segundo: o custo da guerra, agora estimado em US$ 3 bilhões, é uma porção considerável da riqueza dos Estados Unidos. Mas, ainda mais importante é o pagamento dos juros dessa colossal dívida, contraída porque os Estados Unidos não querem que os contribuintes paguem diretamente o custo da guerra.
Terceiro. Essa dívida é sustentada por bônus norte-americanos em mãos de estrangeiros que estão ansiosos para se livrarem deles. Assim, o mercado se verá inundado de dólares que se agregarão aos recém-impressos, o que depreciará os bônus, os dólares e os Estados Unidos.
As exportações podem se beneficiar se a redução de preços for embolsada pelo comprador e não pelo comerciante. Mas, quanto atraente são atualmente os bens norte-americanos, especialmente os serviços, a qualquer custo? Em sua maioria, o que está subjacente nisto é a “especulação”. O que é isso. Uma expressão mais de uma economia enferma que leva a riqueza para os ricos, de modo que as pessoas morrem abaixo e nadam na liquidez acima. Eles usam a liquidez para obter mais dinheiro, mas, já que a economia real é lenta giram a economia financeira em bens para comprar e vender, não para o consumo, que valorizam rapidamente. Com essa grande liquidez extraída criam uma bolha destinada a se desfazer. Assim foi há alguns anos com as empresas.com e agora com as moradias.
Entretanto, há uma diferença. A moradia é uma necessidade básica, enquanto as empresas.com o são apenas indiretamente. As pessoas colocaram dinheiro na moradia em parte para viver, em parte para especular, apenas para ver como a bolha se desfaz. Elas perdem dinheiro, a casa, vivem com parentes ou em traillers (os bancos só perdem dinheiro) e em todo os Estados Unidos há colcoados diantes de seus antigos lares cartazes dizendo “Leilão” ou “Abertura de julgamento hipotecário”.
E o que ocorre? Os bancos que foram, inclusive, criminosos são recompensados com resgates financeiros, enquanto as pessoas, a maior parte delas honesta, são castigadas pela má ação dos bancos. Isto é abominável. Todo dinheiro deveria ser usado pelo menos para amortizar as hipotecas, beneficiando, dessa forma, tanto devedores quanto credores.
* Johan Galtung, professor de Estudos sobre a Paz e fundador da Transcend, rede global sobre paz e desenvolvimento.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14941
Estados Unidos: O pior da crise está por vir
Os dois maiores temores atuais são a corrida bancária e uma queda ainda mais pronunciada do dólar. O montante da moeda em circulação nos Estados Unidos é mantido em segredo, sinal seguro de está sendo impresso dinheiro dia e noite e que cedo ou tarde a inflação vai disparar.
Johan Galtung*
TÓQUIO (IPS) – Dia a dia recebemos notícias que soam velhas sobre a crise econômica. E, como é habitual, essas notícias se referem à crise para os ricos e à "economia" como um sistema, mas nunca à miséria no fundo desse sistema. A esta crise dão nomes como “restrições ao crédito”, “falta de liquidez” ou “crise de investidores’. Naturalmente existe uma restrição de crédito e não há dinheiro disponível porque as pessoas da área financeira sabem melhor que ninguém quanto se tornou instável a economia e de que modo as dívidas, incluindo as hipotecas, são empacotadas, vendidas e revendidas até que a dívida original se torne irreconhecível.
Cada credor acrescenta novas condições, freqüentemente incluindo muito pronunciados aumentos de juros depois das fáceis condições iniciais dadas para atrair os crédulos. Além disso, os financeiros sabem que as instituições que estão emitindo certificados de solvência são de propriedade das próprias instituições financeiras as quais certificam, fazendo, assim, com que seus certificados AAA, etc, não tenham valor algum. Com esses certificados atraem crédulos municípios de todas as partes do mundo para a obtenção de créditos que depois lhe resultarão devastadores.
Por que fazem tudo isto? Por que são ardilosos e ambiciosos? Essa é parte da verdade, mas, também procuram garantir seus próprios interesses antes que venha a crise verdadeira. Por boas razões: as instituições financeiras já estão quebrando, os juros das dívidas não estão sendo pagos e a cadeia de instrumentos financeiros (incluindo os seguros) também está desmoronando. Então, por que não tentar obter algum reembolso enquanto existe algum dinheiro e muito poucas normas?Porém, alguns devedores também estão trapaceando e fazendo malabarismo dando informações de valores inexistentes para seus empréstimos com a esperança de poder pagá-los antes que subam as taxas de juros, por exemplo, usando cartões de credito. Os dois maiores temores atuais são a corrida bancária e uma queda ainda mais pronunciada do dólar. Vejamos o caso do Banco Northern Rock, da Inglaterra. As pessoas fizeram fila pare retirar seu dinheiro, confiando mais no dinheiro no bolso do que deixando-o depositado no banco, que, portanto, teve de ser objeto de um resgate financeiro.
O mesmo ocoreu nos Estados Unidos, com fundos privados ou federais, com a tentativa de cortar pela raiz uma profecia que por sua própria natureza contribui para não se concretizar. Não se pode saber se terão êxito, ou não. Deve-se dizer que a corrida bancária dos anos 30, não a crise econômica de 1929, esteve na raiz da depressão. O pior está por vir. O dinheiro retirado dos bancos pode se desvalorizar drasticamente, pelo menos por três razões:
Primeiro, o montante da moeda em circulação nos Estados Unidos é mantido em segredo, sinal seguro de está sendo impresso dinheiro dia e noite e que cedo ou tarde a inflação vai disparar.
Segundo: o custo da guerra, agora estimado em US$ 3 bilhões, é uma porção considerável da riqueza dos Estados Unidos. Mas, ainda mais importante é o pagamento dos juros dessa colossal dívida, contraída porque os Estados Unidos não querem que os contribuintes paguem diretamente o custo da guerra.
Terceiro. Essa dívida é sustentada por bônus norte-americanos em mãos de estrangeiros que estão ansiosos para se livrarem deles. Assim, o mercado se verá inundado de dólares que se agregarão aos recém-impressos, o que depreciará os bônus, os dólares e os Estados Unidos.
As exportações podem se beneficiar se a redução de preços for embolsada pelo comprador e não pelo comerciante. Mas, quanto atraente são atualmente os bens norte-americanos, especialmente os serviços, a qualquer custo? Em sua maioria, o que está subjacente nisto é a “especulação”. O que é isso. Uma expressão mais de uma economia enferma que leva a riqueza para os ricos, de modo que as pessoas morrem abaixo e nadam na liquidez acima. Eles usam a liquidez para obter mais dinheiro, mas, já que a economia real é lenta giram a economia financeira em bens para comprar e vender, não para o consumo, que valorizam rapidamente. Com essa grande liquidez extraída criam uma bolha destinada a se desfazer. Assim foi há alguns anos com as empresas.com e agora com as moradias.
Entretanto, há uma diferença. A moradia é uma necessidade básica, enquanto as empresas.com o são apenas indiretamente. As pessoas colocaram dinheiro na moradia em parte para viver, em parte para especular, apenas para ver como a bolha se desfaz. Elas perdem dinheiro, a casa, vivem com parentes ou em traillers (os bancos só perdem dinheiro) e em todo os Estados Unidos há colcoados diantes de seus antigos lares cartazes dizendo “Leilão” ou “Abertura de julgamento hipotecário”.
E o que ocorre? Os bancos que foram, inclusive, criminosos são recompensados com resgates financeiros, enquanto as pessoas, a maior parte delas honesta, são castigadas pela má ação dos bancos. Isto é abominável. Todo dinheiro deveria ser usado pelo menos para amortizar as hipotecas, beneficiando, dessa forma, tanto devedores quanto credores.
* Johan Galtung, professor de Estudos sobre a Paz e fundador da Transcend, rede global sobre paz e desenvolvimento.
Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14941
JORNALISTAS ECONÔMICOS (OU NÃO)
A partir de agora nós iremos postar neste blog notícias e/ou análises sobre a movimentação econômica no Brasil e no mundo. Buscaremos inserir notícias sobre a crise do "subprime" nos EUA e seus reflexos no mercado de commodities, na economia chinesa, na economia brasileira - e o que mais acharmos relevante.
Quem quiser postar uma notícia e ainda não for autor, pode deixar um comentário.
Lembrando que é sempre bom colocar ao final da matéria/coluna a fonte.
Quem quiser postar uma notícia e ainda não for autor, pode deixar um comentário.
Lembrando que é sempre bom colocar ao final da matéria/coluna a fonte.
Assinar:
Postagens (Atom)