sábado, 10 de maio de 2008
Observatório da crise - Fundamentos de Economia/Noturno
1.OMS ............ www.wfo.org
2.FMI .............www.imf.org
3.IFI ............www.ifi.org
4.BIS ............ www.bis.org
5.UNCTAD ........www.unctad.org
6.FAO ..........www.rlc.fao.org
7.Financial market
www.fmcenter.org
8.CEPAL .........www.cepal.org
9. Portal da União Européia
http://europa.eu/index_pt.htm
10.FED
http://www.federalreserve.gov/newsevents/default.htm
Fonte de estudos acadêmicos
Instituto de Economia da Unicamp/ -Estudos Internacionais
http://www.eco.unicamp.br/pesquisa/CERI/index.php?itemID=Publicacoes
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Perguntas do grupo dos EUA para o grupo do Brasil
1) Afinal, os Estados Unidos estão em recessão ou não? Há perspectivas de impedir que uma recessão ocorra em um futuro próximo?
2) Para contornar a depressão de 1929, foram feitas mudanças que introduziram um maior controle do Estado na economia, no entanto, anos depois, o mercado financeiro encontrou formas de se liberalizar. Se a atual crise dos EUA for resolvida apenas com as medidas paliativas aplicadas pelo governo, será perdida a oportunidade de estabelecimento de mudanças estruturais mais definitivas para o controle do mercado?
(Consultar a matéria: http://vozes-internas.blogspot.com/2008/05/o-risco-da-calmaria.html)
3) A desvalorização do dólar pode ser vista como um contraponto à crise para os EUA?Participação declinante
Enquanto o PIB cresceu em média 2,8% ao ano entre 1976 e 2006, o rendimento médio real dos trabalhadores ocupados aumentou 1,1%, em média.
"Tivemos um período de regressão do ponto de vista da remuneração, em um cenário de elevado desemprego e precarização do trabalho", afirma o presidente do Ipea, Márcio Pochman.
Em 1979, o número de desempregados era de 1,2 milhão de pessoas, o que correspondia a 2,7% da população ocupada no Brasil, segundo dados da Pnad. Em 2006, esse número chegou a 8 milhões, o que equivalia a 8,7% dos ocupados.
O estudo também mostra que, em 1980, 50% da renda nacional era formada pelo rendimento do trabalho. Em 2005, esse percentual foi de 39,1%.
"Apesar de o rendimento médio real ter iniciado um movimento de recuperação nos últimos cinco anos, a trajetória para recuperar o poder de compra dos salários é longa", diz.
Proteção social do trabalho
Em 2006, 48,8% das pessoas ocupadas tinham alguma proteção social mínima, como acesso à Previdência Social, considerando dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE.
Se a economia brasileira mantiver crescimento até 2010 parecido com o do ano passado, de 5,4%, e o mercado de trabalho criar por ano 2,5 milhões de vagas, essa proporção pode subir para algo próximo a 50%, percentual parecido com o de 1980, de 50,3%. O que significa que há 30 anos a proporção de trabalhadores com proteção social não se alterou no país.
Os cálculos e as projeções foram feitas por Marcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Para ele, trabalhador com proteção social é aquele que tem ao menos acesso à Previdência Social, como o assalariado, o autônomo, o trabalhador por conta própria e também o funcionário público.
"De 1976 até 1980 houve aumento da proteção social. Com a crise da dívida externa brasileira, em 1980, a proporção de trabalhadores protegidos voltou a cair [para 47,4,%, em 1984]. Depois houve nova recuperação, mas, com a abertura do mercado brasileiro, voltou a cair [para 43%, em 1994]. A partir da década de 90 ganhou dimensão a geração de postos de trabalho precários, sem proteção social e trabalhista", diz.
A partir de 2000, segundo Pochmann, com a mudança no regime cambial, a criação de ocupações com proteção social passou a ocorrer num ritmo maior do que a de postos de trabalho sem proteção.
"Essa tendência de recuperação ainda levará de dois a três anos para voltarmos ao percentual próximo de 50%. Nos últimos 30 anos o mercado de trabalho não foi favorável ao brasileiro", diz Pochmann.
Se a economia continuar crescendo no ritmo de 2007, na avaliação Clemente Ganz Lucio, diretor técnico do Dieese, a tendência é de criação de empregos com proteção social ser maior do que a criação de empregos sem proteção.
Nos últimos 12 meses terminados em março deste ano, os postos de trabalho com carteira assinada cresceram 9,2% e as ocupações sem carteira, 5,7%, segundo a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), do Dieese, realizada em seis regiões metropolitanas do país.
Nas regiões metropolitanas a proteção social do trabalhador é maior, segundo Ganz Lucio. "Cerca de 60% dos trabalhadores têm proteção. No final dos anos 90 esse percentual era da ordem de 50%. E está melhorando cada vez mais. Em algumas regiões do país esse percentual chega a 65%", afirma.
O grande desafio do país hoje, na opinião do diretor técnico do Dieese, é a busca por mecanismos de proteção social para os trabalhadores que não são assalariados, como o trabalhador autônomo da construção civil e o trabalhador rural com várias ocupações no mês.
"Se um autônomo sofre um acidente e não é contribuinte da Previdência Social, fica sem renda. A idéia é fazer com que a proteção se estenda para mais trabalhadores", diz Ganz.
com dados Folha de S. Paulo, 09-05-2008
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Alza en precios de los alimentos es por especulación, según ONU
"Actualmente tenemos suficiente comida en este planeta para alimentar a todos", afirmó el director del Programa para el Ambiente de la ONU, Achim Steiner, en una entrevista por teléfono a The Associated Press.
Empero, agregó, "la forma en que los mercados y los suministros son influenciados actualmente por las percepciones de los mercados de futuros está deformando el acceso a esa comida".
"Las personas de verdad y las vidas de verdad están siendo afectadas por una dimensión que es esencialmente especulativa", agregó Steiner al subrayar que hay millones de pobres incapaces de paga por su comida desde que los precios empezaron a subir empinadamente a inicios del año.
La semana pasada, el Programa Mundial de Alimentos (PMA, una agencia especializada de las Naciones Unidas) pidió a 755 millones de dólares adicionales para cubrir un déficit de su presupuesto causado por los precios en alza y la creciente dependencia entre los pobres del mundo hacia la ayuda alimentaria.
En similitud con los comentarios de Steiner, el relator de la ONU para el Derecho a la Alimentación, Jean Ziegler, dijo que los altos precios de la comida estaban desestabilizando al mundo.
En la oficina principal de la ONU en Ginebra, Ziegler dijo a reporteros el lunes que la "masacre diaria del hambre" estaba empeorando debido a intermediarios privados que buscan sacar ganancia de los altibajos en los precios de las materias primas en los mercados internacionales.
La semana pasada, Bart Chilton, comisionado de la comisión reguladora del gobierno estadounidense para el mercado de futuros de las materias primas, rechazó la idea de que el comercio especulativo sea el culpable principal detrás de los crecientes precios del maíz, el trigo y otras cosechas.
Según Chilton, los mercados de las materias primas estaban funcionando apropiadamente, y que la verdadera razón para el aumento sin precedentes de los precios eran el menor volumen de las cosechas, menores inventarios de granos y la devaluación del dólar frente a otras divisas.
Por FRANK JORDANS The Associated Press, 28 de abril, 2008
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Frase do dia
"Propriedade privada é uma estrutura vital. Ela é parte dos direitos humanos. Se nós não aprendermos a respeitá-la e protegê-la, nós vamos continuar vivendo com atraso e desolação."
ECONOMIA
"Nós devemos controlar a inflação com o que foi estipulado em nossa economia no final do ano passado... Esse é o preço que pagamos para participar do clube das nações em desenvolvimento. A conclusão é simples: nós precisamos desenvolver nossa própria economia e agricultura."
Dmitri Medvedev, novo presidente da Rússia, sobre política econômica que pretende seguir após 8 anos de Putin e de sua política econômica mais direcionada ao controle estatal.
A armadilha monetária da China
05/05/2008
A China experimentou ao longo dos anos recentes um veloz crescimento no PIB, mercados acionários e imobiliários extremamente especulativos e, nos últimos meses, inflação acelerada - atualmente registrando taxa anualizada de 13% para o primeiro trimestre de 2008. Esse superaquecimento é quase certamente causado pelo regime cambial do país, ainda que não pelos motivos freqüentemente citados em grande parte do debate político, de que uma moeda subavaliada permite ao setor exportador da China expandir-se devido à subavaliação das mercadorias chinesas nos mercados mundiais, e esse setor exportador em expansão impulsiona crescimento e lucratividade no resto da economia. O regime cambial é a principal causa da expansão econômica chinesa atual, em grande parte devido ao seu impacto sobre as condições monetárias internas. |
No momento em que escrevo, o yuan é negociado a ligeiramente menos de 7 para o dólar dos EUA, uma apreciação de mais de 17% desde 21 de julho de 2005, quando a moeda nacional foi desvinculada do dólar americano. Para estabelecer o valor da moeda, o Banco do Povo da China (BPC) precisa comprar ou vender tantos dólares quantos o mercado solicitar. A elevada taxa de poupança da China e o veloz crescimento da produção industrial têm significado que o país precisa produzir um superávit na balança comercial, e o ingresso de dólares oriundo da conta da balança comercial tem sido dilatado por ingresso adicional na conta de capital, num momento em que investidores compravam ativos chineses para se aproveitarem dos preços baixos e do crescimento. |
Nos últimos anos, a conseqüência tem sido crescimento acelerado nas reservas, culminando na alta dessas reservas em mais de US$ 154 bilhões para os três primeiros meses de 2008 - que já representam praticamente um terço dos impressionantes US$ 464 bilhões do ano passado. Esse aumento nas reservas prendeu a China numa cilada monetária. As reservas em alta, alimentadas pela disparada no superávit da balança comercial, devem ser acompanhadas por crescimento no dinheiro local, enquanto o BPC provê os recursos para a compra dos dólares que entram no país com yuan e títulos do banco central. |
Essa geração de moeda acaba desembocando em grande parte no sistema bancário, no qual a maior parte da disparada na expansão do crédito alimenta produção, em vez de consumo. No momento em que a produção industrial chinesa se avoluma, o resultado é um aumento no superávit da balança comercial, que por si só provoca salto adicional nas reservas. |
O sistema financeiro da China é rígido, inexperiente em gestão de risco e, apesar das recentes tentativas de fazer uma faxina nos empréstimos não pagos, ainda está sobrecarregado com uma vasta e crescente quantidade de empréstimos irrecuperáveis, que será agravada por uma retração econômica ou por uma correção abrupta nos mercados imobiliários. O frágil sistema financeiro refreia gravemente as opções políticas do BPC, ao dificultar, por exemplo, a administração das taxas de juros. Permitir que as taxas de depósitos e de empréstimos aumentem de forma rápida demais quase certamente provocará dificuldades de crédito a uma grande quantidade de tomadores de empréstimos marginais, ainda que simultaneamente estimule ingressos especulativos adicionais. |
O que as autoridades podem fazer? Há várias medidas convencionais que poderiam ser usadas para retomar o controle da política monetária - mais flexibilidade na taxa de câmbio, aumento nas exigências de reservas mínimas, reforma do sistema bancário e desregulamentação da taxa de juros. À exceção da última, as autoridades tentaram todas elas, mas parece que quase não surtiram efeito. Ao contrário, a maioria das medidas de crescimento aumentou nos anos passados. |
Corte brusco do crescimento chinês pode levar a uma queda repentina nos preços das commodities |
Mais importante ainda, a produção industrial continua em disparada e, junto com ela, o superávit na balança comercial e a base monetária. Se a causa fundamental dos desequilíbrios chineses é o regime cambial, isto não deveria ser surpresa. Sem uma política que reduza diretamente os ingressos de conta corrente e de conta de capital da balança de pagamentos a um nível mais gerenciável, nenhuma dessas medidas tomadas pelo BPC e pelas autoridades conseguirá deter a marcha da economia e moderar aumentos nos preços dos ativos. O crescimento vertiginoso se manterá até a economia ser obrigada a se ajustar de modo inesperado e talvez danoso. |
Existem atualmente duas opções amplamente discutidas que poderão refrear ou, até, reverter os ingressos de conta corrente e de conta de capital. Primeiro, o BPC pode manter a veloz apreciação da moeda, de aproximadamente 12% - 14% anualmente. O risco é que uma apreciação mais veloz estimula maior surto de ingressos especulativos e, assim, mina a própria meta que espera atingir. Na verdade, na maioria dos cálculos, os ingressos de dinheiro de curtíssimo prazo ("hot money") até agora no ano estão se acumulando a um nível três vezes superior ao da já elevada taxa do ano passado. |
A segunda opção, que teria sido discutida em outubro num documento interino, mas rapidamente rejeitada pela liderança, estabelecia que o BPC arquitetaria uma maxi-revalorização de 15% a 20%. A medida provavelmente não afetaria imediatamente o volume de exportação - determinado, na sua maior parte, pelo crescimento na produção industrial - mas estimularia as importações e reduziria ou até reverteria os ingressos especulativos. O risco é que os lucros de exportação poderiam desmoronar, alimentando, assim, os crescentes níveis de empréstimos não pagos no já vulnerável sistema bancário. |
As autoridades relutaram em ajustar o regime cambial devido ao seu impacto potencial de curto prazo sobre a expansão da taxa de emprego. Acredita-se amplamente que a taxa de desemprego urbano seja muito superior aos 4,3% oficiais - algumas estimativas situam o número em 8% a 10%. A taxa de desemprego entre os jovens é muito maior e existem algumas evidências de que a taxa de desemprego entre universitários recém-formados esteja aumentando rapidamente - segundo um comunicado recente do Ministério da Educação, 30% dos pós-graduados de 2007 continuam desempregados. Nenhuma dessas condições deixa o governo mais ansioso para organizar um ajuste que poderá provocar um aumento repentino na taxa de desemprego no curto prazo, especialmente entre os jovens nas regiões urbanas. |
Apesar disso, não está nem um pouco claro que as autoridades poderão continuar permitindo algo próximo da taxa atual de expansão monetária. Para os meses remanescentes de 2008, a respeito do qual o vice-premiê Wen já alertou, afirmando que será um ano "extremamente difícil", a China será obrigada a escolher entre caminhos que provavelmente envolverão dificuldades significativas ao sistema financeiro. Apesar de ser possível que as condições globais se tornem propícias, permitindo que a China ajuste o seu regime cambial sem prejudicar demais o crescimento do PIB, existe um risco real de um abrupto ajuste forçado que poderá ter um impacto gravemente negativo sobre o crescimento. Esse ajuste, de corte brusco do crescimento chinês e, com ele, a demanda chinesa por importações de commodities, poderá levar a uma queda repentina nos preços das commodities. |
No médio prazo, é uma aposta razoável que a China manterá a sua expansão veloz, apesar de que, quando os fatores demográficos ficarem negativos, em 2010 e 2011, a taxa de crescimento vai se desacelerar de forma significativa ante os níveis atuais. No curtíssimo prazo, porém, especialmente se a inflação continuar aumentando, existe uma probabilidade considerável e crescente de uma abrupta reversão das condições ideais que a China desfrutou. Se isso ocorrer, o impacto sobre o crescimento global e os preços das commodities será severo. |
Michael Pettis é professor de Finanças na Universidade de Pequim. Fonte: Valor Econômico |
Alegria: o Brasil é grau de investimento
JORNALISMO ECONÔMICO Por Rolf Kuntz em 6/5/2008 | |
A imprensa entusiasmou-se quase tanto quanto o governo com a elevação do Brasil ao grau de investimento, anunciada na última quarta-feira de abril (30/4) pela agência de classificação Standard & Poor’s. A notícia foi manchete dos principais jornais na quinta-feira. Alguns limitaram-se a informar, no título, a nova classificação conferida ao país. Outros foram além e reproduziram a opinião da agência: o Brasil, proclamaram, tornou-se local seguro ou mais seguro para os investidores. Todos mencionaram, ainda na primeira página, o entusiasmo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de seus ministros e a reação na bolsa de valores, com alta de 6,23% do Ibovespa, a maior em seis anos. Tudo bem, a notícia era realmente importante e os editores tinham uma boa razão para dedicar muito espaço ao material. Por muito menos se enchem, às vezes, páginas e páginas dos cadernos de economia. Tudo bem, igualmente, com a reprodução das falas entusiasmadas do presidente Lula, do ministro da Fazenda, Guido Mantega, do presidente do Banco Central, Henrique Merelles, e de um monte de economistas, operadores do setor financeiro e empresários privados. Um pouco mais de perspectiva, porém, não atrapalharia a cobertura nem depreciaria indevidamente a nova classificação do país. Em primeiro lugar, valeria a pena um pouco mais de atenção ao texto distribuído pela Standard & Poor’s. Em duas páginas e meia, os economistas da agência explicaram seus critérios e mostraram por que decidiram elevar a classificação do Brasil. Mas não ficaram nisso. A primeira página contém uma lista de três fatores positivos e três negativos para o julgamento dos investidores. Os três primeiros pesaram mais na decisão, obviamente, mas os negativos são importantes e podem determinar, mais tarde, um rebaixamento do Brasil. Ritmo de crescimento insustentável Só alguns jornais mencionaram os dois conjuntos de fatores e deram mais destaque aos positivos, como a continuidade das políticas fiscal e monetária, a contenção da inflação e a melhora dos indicadores de endividamento. Até aí, tudo OK, mas os pontos negativos aparecem duas vezes no relatório. Na primeira são indicados sinteticamente: 1) grande endividamento público e pesada carga de juros; 2) rigidez orçamentária e gasto corrente elevado; 3) obstáculos estruturais ao investimento e a um crescimento econômico mais em linha com o dos outros países emergentes. Esses pontos são retomados no final do relatório, de modo mais extenso, acompanhados de uma série de recomendações. É preciso elevar a taxa de investimento, reduzir o custo Brasil, simplificar o regime tributário, baixar tarifas de importação e facilitar a participação privada no setor de energia e noutras áreas da infra-estrutura. Os avanços conseguidos até agora, segundo a Standard & Poor’s, são suficientes para um crescimento sustentável de 4% a 4,5% ao ano. Para mais que isso, são necessárias aquelas outras inovações. Nenhum jornal destacou esse detalhe na parte informativa. Ao indicar um limite para o crescimento sustentável da economia brasileira nas atuais condições, a agência contrariou uma opinião sustentada com muito empenho por muita gente do governo federal e por alguns economistas de renome. Em outras palavras: a Standard & Poor’s, ao atribuir ao Brasil o grau de investimento, reconheceu avanços ocorridos nos últimos anos, mas ainda considera o país incapaz de sustentar o ritmo de crescimento dado como realizável pelo governo. Tendências preocupantes Os editores talvez valorizassem mais esse detalhe se não esquecessem, ao tratar da boa nova, duas das notícias mais importantes da semana: a deterioração das contas externas e as pressões inflacionárias apontadas pelo IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado) de abril. O IGP-M desmente a idéia de pressões limitadas ao setor agrícola – ao "feijãozinho", como disse o ministro da Fazenda. As matérias-primas industriais também pressionam fortemente os custos. Quanto às contas externas, em apenas um trimestre o país acumulou um déficit de US$ 10,7 bilhões em transações correntes, quase todo o valor previsto pelo BC para 2008: US$ 12 bilhões. Os dados da inflação e das contas externas estão longe de ser catastróficos, mas indicam tendências preocupantes. Como esquecer esses dados, ao noticiar o primeiro grau de investimento concedido ao Brasil? Fonte: Observatório da Imprensa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=484IMQ003) |
terça-feira, 6 de maio de 2008
O risco da calmaria
Paul Krugman
Cruze os dedos, bata na madeira: é possível, mas de modo algum garantido, que o pior da crise financeira tenha passado. Essa é a boa notícia.
A má notícia é que enquanto os mercados se estabilizam as oportunidades para reformas financeiras fundamentais podem estar escapando. Em conseqüência, a próxima crise provavelmente será pior do que esta.
Vamos examinar a história até agora.
Depois da crise financeira que trouxe a Grande Depressão, os reformadores do New Deal regulamentaram o sistema bancário, com o objetivo de proteger a economia de futuras crises. O novo sistema funcionou bem por meio século.
Com o tempo, porém, Wall Street contornou a regulamentação, usando complexos arranjos financeiros para colocar a maior parte dos negócios bancários fora do alcance dos reguladores. Washington poderia ter revisado as regras para abranger esse novo "sistema bancário à sombra" -mas isso teria ido contra a ideologia adoradora do mercado destes tempos.
Em vez disso, importantes autoridades, de Alan Greenspan para baixo, cantaram elogios à inovação financeira e desprezaram as advertências sobre os riscos crescentes.
Então veio a crise. Em agosto passado, enquanto os investidores começavam a perceber o alcance da confusão das hipotecas, a confiança no sistema financeiro desmoronou.
Acredito que tivemos sorte por ter Ben Bernanke na presidência do Federal Reserve nestes tempos difíceis. Ele pode não ter o talento de Greenspan para personificar o Mágico de Oz, mas é um economista que pensou muito sobre a Grande Depressão e sobre a década perdida do Japão nos anos 1990, e entende o que está em jogo.
Bernanke reconheceu, talvez mais rapidamente do que outros teriam reconhecido, que estávamos em uma situação que tinha uma semelhança familiar com a grande crise bancária dos anos 1930-31. Sua primeira prioridade, superando qualquer outra preocupação, era evitar uma cascata de falências financeiras que paralisariam a economia.
Os esforços do Fed nos últimos nove meses me lembram a antiga série de TV "MacGyver", cujo herói engenhoso sempre saía das situações difíceis montando dispositivos inteligentes com objetos caseiros e fita adesiva.
Como as instituições em dificuldades não se chamavam bancos, as ferramentas habituais do Fed para lidar com problemas financeiros, criadas para um sistema centrado em bancos tradicionais, eram de modo geral inúteis. Por isso o Federal armou arranjos improvisados para salvar o dia. Houve o TAF e o TSLF (não me perguntem), houve linhas de crédito para bancos de investimento e tudo culminou no resgate inédito e quase ilegal da Bear Stearns em março -um resgate não da Bear em si, mas de suas "contrapartes", os que estavam do outro lado de suas apostas financeiras.
Ainda está longe de garantido se toda essa improvisação resolveu a crise. Mas foi a coisa certa a fazer, e por enquanto as coisas parecem estar se acalmando.
Então, dois vivas para Bernanke. Infelizmente, seu próprio sucesso -se é que houve- coloca outro problema: dá à indústria financeira a oportunidade de bloquear as reformas.
Agora sabemos que as coisas que não se chamam bancos podem de qualquer modo gerar crises bancárias, e que o Fed precisa executar resgates do tipo bancário em prol delas. Segue-se que os fundos hedge, os veículos de investimento especiais, etc. precisam de regulamentação do tipo bancário. Principalmente, eles precisam ser obrigados a ter o capital adequado.
Se nosso sistema financeiro descontrolado foi ruim para o país, porém, foi muito bom para os especuladores, que ganham taxas enormes quando as coisas parecem ir bem e depois saem andando ilesos -na verdade, muitas vezes com grandes pacotes de demissão- quando as coisas dão errado. Eles não querem regulamentos que estabilizariam a economia mas prejudicariam seu estilo.
E agora que as nuvens financeiras se ergueram um pouco o movimento contra uma regulamentação sensata está em plena ação. Até a proposta muito modesta do Fed de conter os empréstimos de hipotecas abusivos com novos padrões está sendo alvo de críticas e há sinais preocupantes de que o Fed poderá recuar.
Talvez uma vitória democrata em novembro possa reavivar a causa da reforma financeira, mas neste momento parece que logo voltaremos a tudo como era antes.
O paralelo que me preocupa é o que aconteceu uma década atrás, depois que o fundo hedge Long-Term Capital Management faliu, causando um congelamento temporário de todo o sistema financeiro.
Com sorte e capacidade essa crise foi contida -mas em vez de servir como advertência o episódio alimentou a falsa crença de que o Fed tem todas as ferramentas necessárias para lidar com choques financeiros. Então nada se fez para remediar as vulnerabilidades que a crise do LCTM revelou -as mesmas que estão no centro da crise muito maior de hoje.
E se não consertarmos o sistema agora há todos os motivos para se acreditar que a próxima crise será ainda maior -e que o Fed não terá fita adesiva suficiente para juntar as coisas.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Paul Krugman, The New York Times
Notícias do século XXI
“É preciso vir à China porque tudo o que está acontecendo no século XXI está acontecendo neste enorme país. O que acontece aqui tem escala mundial e afeta a todos: o preço do petróleo e dos alimentos, as relações comerciais, o desenvolvimento tecnológico, os custos trabalhistas...”, afirma Enrique Concha, diretor da Associação Cooperação Sino-espanhola em Tecnologia e Inovação, que há mais de três anos mora em Pequim.
Não está sem razão. A chegada ao terminal 3 do aeroporto de Pequim situa de cara o viajante em outra dimensão. O terminal, recentemente inaugurado e desenhado também por Norman Foster, é como a mãe do terminal 4 de Madri-Barajas. Um cenário colossal a partir do qual se inicia o trajeto até o centro de uma cidade de mais de oito milhões de habitantes que vive a maior parte dos dias encoberta por uma densa camada de poluição e poeira.
Pequim se encheu nos últimos quatro anos de gigantescos e pesados arranha-céus de ferro, cristal e cimento, construídos sem ordem nem concerto, que são atravessados por passagens elevadas e enormes avenidas que tornam quase impossível cruzá-las antes que o semáforo se fecha novamente. Tanto é assim que em algumas delas há pessoas munidas de bandeiras com as quais procuram apressar os pedestres como se fossem bandeirinhas que exigem que a jogada continue.
A capital chinesa não dorme. Há tempo, os carros substituíram as bicicletas, e os engarrafamentos, inclusive de noite, já fazem parte da rotina. Com as obras de destruição dos bairros antigos e a construção de novos prédios comerciais, nos quais milhares de operários trabalham incansavelmente dia e noite em precárias condições de segurança por cerca de 150 euros por mês.
A China tem um projeto de país que consiste em conseguir o bem-estar, e os Jogos Olímpicos são uma magnífica ocasião para mostrar ao mundo que esse projeto já é uma realidade. Por isso doem tanto ao Governo as críticas ocidentais à violência dos direitos humanos, à repressão no Tibet ou à péssima qualidade do ar da capital.
O que pretendia ser a vitrine dos progressos já realizados está se convertendo no flanco pelo qual os competidores e rivais atacam sem piedade. De momento, o espetáculo é só político e cada comparação entre Pequim 2008 e Berlim 1936, quando emergiu outra superpotência, é interpretada pelo regime como uma tentativa ocidental de humilhar a China. As autoridades respondem exacerbando o nacionalismo da população, recordando, como fazia há alguns dias o jornal China Daily, a época em que as concessões européias dividiam a soberania chinesa e agitavam o fantasma dos laowai (velhos estrangeiros).
Responsáveis do Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista, e porta-vozes do Ministério de Assuntos Exteriores repetem imperturbáveis o discurso oficial: “A imprensa ocidental mente. Os rebeldes tibetanos são criminosos. Os jornalistas estrangeiros não podem ir ao Tibet porque não podemos garantir sua segurança pessoal”. Mas este repúdio dos despachos, onde se intui a vontade de substituir a velha ideologia comunista pelo nacionalismo, não se faz sentir, ao menos no momento, de forma opressiva nas ruas.
Na capital, restam apenas símbolos da Revolução de Mao – o único visível é seu gigantesco retrato da Praça de Tiananmen – e as ruas não trazem, diante do que se poderia esperar – os nomes dos heróis ou dos mártires do povo. Desde que, há quase 30 anos, Deng Xiaoping inaugurara a era da abertura e da reforma econômica, calcula-se que aproximadamente 300 milhões de chineses saíram da pobreza, demonstrando que o sucesso da China é provavelmente também o sucesso da humanidade.
Dois lugares simbolizam atualmente a nova Pequim. O bairro central de Houhai, literalmente “o lago dos fundos”, reúne ao longo de suas melancólicas margens dezenas de restaurantes e bares com estilo, dos quais sai música pop, ocidental ou chinesa, e por onde cada noite pululam um monte de jovens que, vestidos como seus companheiros de geração dos Estados Unidos ou Japão, põem à prova que o partido seja mais forte que a MTV. Houhai tem todas as credenciais para fazer seu agosto com a enxurrada de estrangeiros que beberão em seus locais para sacudir o rubor do verão de Pequim em busca de ladies e massagens.
O outro lugar é o distrito 798, um gigantesco centro de arte situado nos arredores da capital. Um complexo de antigas fábricas de eletrônica, construídas com a ajuda soviética por arquitetos da Alemanha Oriental, que agora alberga esplêndidas galerias com o melhor da arte de vanguarda chinesa (extremamente crítica e irônica) e numerosos cafés e restaurantes. O ambiente boêmio e cool da zona contrasta com os olhares de assombro dos imigrantes recém chegados do campo para asfaltar suas ruas e construir os novos altares do bem-estar.
Mas, são esses operários e os moradores dos hutong, os becos de Pequim onde vivem amontoadas famílias inteiras, que, com um sacrifício inigualável em outros pontos do mundo e outro tanto de desejos de aprender, estão decididos a que desta vez, exatamente 50 anos depois, o grande salto para frente seja uma realidade e não um novo fracasso.
China: a economia (02)
Entre os analistas há consenso de que uma eventual recessão nos Estados Unidos terá conseqüências para a economia chinesa, que hoje envia ao mercado americano cerca de 45% de suas exportações. Para o governo chinês, porém, as principais preocupações parecem ser a inflação crescente e o risco de insatisfação social. Em relatório divulgado no fim de abril, a Academia Chinesa de Ciências Sociais reconhece que, em 2008, a velocidade de crescimento cairá em quase um ponto percentual, o que, mesmo assim, significa um crescimento de 10,7% neste ano.
É um número superior aos 9,7% de crescimento do país, em média, nos últimos trinta anos e próximo aos 11% previstos, em relatório sobre as perspectivas da China, do economista Qu Hongbin, do HSBC. Para o HSBC, a desaceleração na China, mesmo insuficiente para fazer a economia cair abaixo de 8%, pode causar a perda de milhões de empregos, e deve provocar, como resposta das autoridades, o aumento no gasto com habitação e infra-estrutura.
Montadas sobre reservas superiores a US$ 1,5 trilhão e taxas de poupança em torno de 40% do Produto Interno Bruto (PIB), as autoridades chinesas têm instrumentos para evitar uma queda muito brusca, e vêm tentando equilibrar o controle da inflação com a geração de emprego e renda para a crescente massa de migrantes rurais para as cidades, ainda que analistas internacionais, como Stephen Roach, do Morgan Stanley, apontem o risco de crise inflacionária caso o governo não haja rápido, com aumento de juros, para levar a taxa de crescimento abaixo de 9%.
Na tentativa de se prevenir contra uma aterrissagem forçada da economia, o governo da China reduziu os recursos disponíveis para o crédito e adotou medidas para desestimular investimentos em setores altamente consumidores de recursos e energia, como o siderúrgico. É o que as autoridades locais chamam de "crescimento científico", e orienta investimentos chineses no exterior, como a associação da siderúrgica Baosteel com a Vale para produção de aço no Espírito Santo.
No caso do aço, o governo chinês chegou a extinguir mecanismos de devolução de tributos aos exportadores (tax rebate) e aplicar imposto de exportação.
"Na exportação de vergalhões de ferro, a China passou de um incentivo de 15% a um desincentivo de 15%, e teve medidas similares para outros produtos", comenta o analista Germano de Paula, da Universidade Federal de Uberlândia, um dos principais especialistas brasileiros do setor. A trajetória das exportações, crescente no início de 2007, é, agora, de redução, garantindo preços altos para o aço no mercado mundial, prevê. No Brasil, como em toda a América Latina, nunca as decisões do comitê central chinês tiveram tanta importância. (SL)
Valor Econômico 06-05-2008
segunda-feira, 5 de maio de 2008
Dólar cai, petróleo sobre
“O forte aumento nos preços do petróleo e dos combustíveis coincidiu hoje com mais um dia de desvalorização do dólar frente ao euro e a outras divisas, o que costuma encorajar o investimento em matérias-primas nos mercados internacionais “
(EFE-05/05/)
Fundos de hedge vêem Brasil vulnerável a queda nas commodities
Por Elzio Barreto
SAO PAULO (Reuters) - Preocupações com uma queda nos preços das commodities podem pesar sobre o principal índice acionário da Bovespa e sobre o real nos próximos meses, disseram gerentes de fundos de hedge nesta terça-feira.
A economia brasileira pode ser capaz de superar a recessão norte-americana, pois a demanda global tem sido o principal guia para expansão recentemente.
Mas o mercado brasileiro é vulnerável a uma queda nos preços das commodities causada por uma desaceleração norte-americana, à medida que o índice Bovespa é liderado por empresas do setor de metais, petróleo e aço.
"Não existe um efeito direto da crise norte-americana, mas o risco é com os preços de commodities, já que grande parte do índice Bovespa é commodities", disse Enio Shinohara, sócio da Claritas Investments, um fundo de hedge nacional com aproximadamente 1,1 bilhão de dólares em ativos, em seminário.
O Brasil tem ficado parcialmente isolado das crises na economia norte-americana e nos mercados de crédito devido aos preços do minério de ferro, petróleo, soja e de outras commodities que atingiram recordes de alta.
O índice Bovespa, que subiu 43 por cento no ano passado, perdeu 0,1 por cento até o momento em 2008, contrastando com o mergulho de mercados emergentes como China e Índia, além dos principais mercados norte-americanos e europeus.
Os altos preços das commodities ajudaram a elevar o fluxo de entrada de dólar com exportações e alimentaram a atração por empresas como a Vale e a Petrobras . Investidores disseram que a alta nos preços das commodities pode ter chegado ao fim, elevando as preocupações de que um declínio nos preços irá afetar diretamente a Bovespa.
"Nós temos preocupações com commodities, com certeza", disse Christopher Edwards, diretor gerente da Fabien Pictet & Partners Ltd, fundo de hedge sediado em Londres com 700 milhões de dólares em ativos de mercados emergentes. "Você não pode ter sempre uma demanda crescente e preços crescentes."
Edwards disse que vendeu ações da Petrobras e Vale, apostando na queda das commodities.
O real ganhou 4,2 por cento, após subir mais de 20 por cento em 2007, em parte por causa da entrada de dólares via exportações de commodities e também por ser vulnerável a uma baixa
nos preços das commodities.
"Nossa moeda está sendo considerada um moeda de commodity. À medida que as commodities ganharam neste ano, a moeda se apreciou", disse Luiz Fernando Figueiredo, sócio da empresa de hedge fund Mauá Investimentos e ex-diretor de política monetária do Banco Central.
Fonte: O GloboOnline (http://oglobo.globo.com/pais/mat/2008/04/29/fundos_de_hedge_veem_brasil_vulneravel_queda_nas_commodities-427126753.asp)