sexta-feira, 20 de junho de 2008

O fazer jornalístico de Kucinski

Em palestra realizada em 12 de junho, Bernardo Kucinski relatou sua experiência como jornalista e afirmou ser possível ter um jornalismo econômico brasileiro


[Por Vanessa Maeji]

Aprender a ser dentro de suas possibilidades. É em torno disso que o jornalista Bernardo Kucinski apresentou sua palestra, no último dia 12, para os alunos de jornalismo da ECA-USP. Kucinski, que até ano passado dava aulas no curso, pôde ter um contato além da relação autor-leitor com os estudantes, já que um livro de sua autoria, Jornalismo Econômico, foi texto-base para uma das disciplinas de graduação. Talvez por seu saber econômico já ser, teoricamente, conhecido pelos alunos que o foco não tenha sido a economia em si e centrou-se mais no fazer jornalístico.


Como não podia faltar, Bernardo Kucinski deu algumas dicas práticas sobre a profissão, como evitar críticas a colegas, da necessidade de fazer parte de grupos, fora dos quais “é difícil sobreviver”, e a ser correto com fontes e com o que se escreve – em outras palavras, abusar do “fair play”.


No entanto, saber lidar com as próprias etapas, para Kucinski, é essencial no jornalismo. Ele lamentou haver o jovem protótipo de jornalista que já possui um ceticismo tamanho frente ao que faz. “Ninguém precisa ser jornalista”, afirmou. Mas declarou que este profissional deve ter a “dupla capacidade de se maravilhar e se indignar”. Ele acredita que o melhor caminho talvez seja começar a profissão em veículos que permitem maior liberdade e que, assim, o jornalista possa se lapidar e aprofundar seus aprendizados sem se preocupar em seguir as regras da casa, antes de sofrer o que Kucinski considera uma espécie de “domesticação”.


E esta posição de humildade em aceitar seus próprios desconhecimentos (e que, em verdade, tem um fundo egocêntrico), remete ao papel do jornalismo econômico do Brasil no cenário mundial. O professor ressaltou a inexistência deste tipo de jornalismo brasileiro, pois afirmou ser “de fora e fora de contexto” o que se conhece sob o nome de “jornalismo econômico”. É um processo similar ao que acontece com países periféricos quando se adquire o hábito sem haver produção – o que pode ser prejudicial. O professor acredita que tentar se inserir na economia sem, de fato, conhecer do que se é capaz pode se tornar um empecilho. O Brasil, por exemplo, não deve ter a mesma dinâmica nas teorias econômicas daquela de países centrais – apesar de ser afetado por elas –, pois sua economia tem características diferentes.


Saber que o subdesenvolvimento não é um estágio do desenvolvimento e que um país não necessariamente avança para o último pode ser importante para se posicionar na economia global – dentro do que o país pode ser. Aceitar o aprendizado e tempo das etapas e ter consciência que elas não farão com que se torne um país central podem ser fator decisivo na constituição de uma teoria da economia propriamente brasileira. Dessa mesma forma, ter noção de que seja muito provável que não se alcance veículos maiores não diminui a importância de ter um by line, uma autoria e responsabilidade naquilo que se faz.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Kucinski critica ignorância no jornalismo econômico

Ugo Pozo (Nº USP: 4903258)

O jargão econômico seria uma forma de esconder a ignorância dos atuais jornalistas da área de economia, de acordo com Bernardo Kucinski. O veterano jornalista econômico, ex-professor e ex-assessor de comunicação do presidente Lula esteve na Escola de Comunicações e Artes, na Universidade de São Paulo, e, em palestra ministrada no dia 12 de junho, fez duras críticas à forma como o jornalismo é conduzido atualmente no país.

Para Kucinski, boa parte dos jornalistas da área econômica atualmente não possuem compreensão plena dos processos que noticiam. Isso os levaria a se apoiarem no denso jargão econômico para tratar de assuntos que não são capazes de explicar de uma forma clara.

O jornalista, porém, é contra a simplificação exagerada. “Não se deve diminuir o nível de complexidade dos processos, e sim utilizar uma linguagem simples para explicar processos complexos”, afirma. Como exemplo, Kucinski citou uma série de matérias que realizou para a Gazeta Mercantil, durante o segundo choque do petróleo, em que traduzia em termos claros o desenrolar da crise.

“Espião do Mossad”

Kucinski também fez comentários a respeito de sua reportagem considerada mais polêmica: o caso do urânio que o Brasil vendeu ao Iraque, em 1981. “Como isso foi logo depois de Israel ter bombardeado o Iraque, no dia seguinte, os outros jornais, que não tinham condições de ir contra o poder instituído, saíram publicando que eu era um ‘espião do Mossad’ [serviço secreto israelense].”

Entretanto, Kucinski, que é graduado em física, tinha acesso a círculos de físicos brasileiros, em que a venda era tratada até mesmo com naturalidade. “O Estadão não quis se envolver diretamente comigo, mas me ajudou porque veio aqui no IPEN [Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares], de onde saíam os caminhões carregados de urânio, e fez uma matéria completa, irrefutável”.

O fim do “monopólio da mediação” do jornalista

Outro tema abordado por Kucinski foi o surgimento de novas mídias e as conseqüências para o jornalismo impresso. Categórico, cravou que “o jornalismo escrito não vai morrer”, mas que o jornalista teria perdido o “monopólio da mediação da informação”.
“Há alguns anos atrás, a [Rede] Globo [de Televisão] tinha em seu cadastro cerca de 20 mil cinegrafistas amadores. Hoje, [com a popularização da Internet e das câmeras digitais], quantos não devem ser?”, conjecturou.

Para ele, a Internet é revolucionária e libertária, e traria a democratização para a área da comunicação. “Antes, o jornalista esperava pelo retorno de seus pares, como um editor que colocasse sua matéria na capa. Hoje, o retorno vem direto do leitor”, exemplificou.

Kucinski: "Nunca critique um colega de profissão”

Veterano do jornalismo econômico fala para estudantes sobre os percalços da profissão na prática.

por André Cabette Fábio

Quinta-feira, dia 12 junho Bernardo Kucinski se dirigiu a uma turma de 30 alunos do segundo ano de Jornalismo da USP. No lugar da aula de Jornalismo Econômico, matéria que o próprio costumava passar e que normalmente ocorre às quintas, ocorreu uma palestra com o jornalista veterano. O comparecimento dos alunos foi incomumente alto para os padrões da turma de jornalismo noturno de 2007.

Kucinski começa a palestra fazendo algumas considerações a respeito da cobertura econômica atual, em particular a respeito da volta da inflação. Para o jornalista, a cobertura que a mídia tem feito do assunto é omissa. “Todo mundo aqui [no Brasil] entende muito de inflação”, mesmo assim, diz, uma distinção importantíssima é deixada de lado. Ele ressalta que o que vemos atualmente é uma inflação causada por aumento de custos e não de demanda. Uma inflação de demanda é proveniente do aumento do ritmo de consumo maior que o ritmo de produção. Uma inflação de custos, por sua vez, é causada pelo aumento dos custos de produção, no caso isso acontece com o alardeado aumento dos preços das commodities. “é importante essa distinção porque elas [as formas de inflação] exigem remédios totalmente diferentes”. Uma saída para uma inflação de demanda é o “confisco” do dinheiro do consumidor, ou seja, diminuir seu poder de compra e, conseqüentemente, a demanda em si, daí o aumento dos juros. Para uma inflação de custos, no entanto, isso não faz sentido, “é um remédio totalmente oposto”. Nesse caso, o poder de consumo da população não é a raiz do problema, diminuí-lo com juros não seria uma solução. Pra Kucinski, a imprensa estaria omitindo essa discussão pois “é interesse dos bancos aproveitar essa crise pra retomar um processo de elevação dos juros”.

A maior parte da palestra, no entanto, não foi dedicada à cobertura econômica. Kucinski aproveitou a hora e meia que teve com os futuros jornalistas para passar um pouco da experiência de seus vários anos de carreira. É um retrato realista e um tanto desiludido da profissão, vindo de um homem que diz ter brigado com todo tipo de redação possível – Kucinski diz que resolveu prestar concurso para professor da USP depois que brigou com a revista Ciência Hoje. “O sistema aceita os dissidentes até um certo ponto. Passou dali o cara entra numa espécie de lista negra”. A partir disso Kucinski passa algumas dicas práticas para os futuros jornalistas se manterem no mercado com a integridade de suas idéias. “uma solução (...) é ser muito bom”, ou seja, mergulhar em cada tema que for cobrir, evitar o chamado “jornalismo tangencial”. Dessa forma o jornalista questionador compensa o fato de ser um “risco à empresa”. Ele destaca também o dever e a necessidade de ser correto com suas fontes e seus leitores. Esse é o tipo de relação que independe da empresa para qual se trabalha. Uma atitude ética atrelada a seu nome é algo que demissão nenhuma atinge.

Kucinski destaca também alguns cuidados quase que políticos que devem ser tomados. “O jornalismo no Brasil, como muitas coisas, é formado por panelinhas”. Entrar nessas “panelinhas” é imprescindível para manter algum apoio dentro do mercado. “Nunca critique um colega de profissão”, sob a pena de criar um atrito duradouro, também é algo que o jornalista recomenda fortemente.

Mas, desse choque de jornalismo prático pelo qual os 30 alunos passaram, há uma mensagem que deixou uma impressão mais forte.
“Vocês não podem ser grandes jornalistas num certo dia, depois, no futuro. É uma coisa que já começa na escola”.

Samurais da informação

12/06/08

por Lia Chartouni Segre (n° USP 5993088)

Em palestra ministrada a alunos do segundo ano de jornalismo, Bernardo Kucinski fala de ética e valores da profissão

“Compromisso com os leitores e com a verdade”. Por trás da frase aparentemente batida há uma grande mensagem: pelo menos para o ex-professor de jornalismo da ECA, Bernardo Kucinski. Homem de história notável e gestos simples, impressionou os jovens futuros colegas de profissão com sua postura admiravelmente firme em um meio corrompido. O choque entre duas gerações tão antagônicas seria considerável de qualquer jeito, ainda mais pelo fato de uma das partes ter tanto a dizer a respeito do que a maioria daqueles que estavam na sala tanto ouvem falar, e querem ainda vivenciar. Se for de uma época (discutivelmente) de ouro então, nem se fala.

"Sou um clássico", disse a certa altura da falação, explicando em muito sua opção de defender formas menos inovadoras de se fazer jornalismo. Sente saudades dos tempos de redação, aonde se aprendia fazendo, discutindo em um ambiente naturalmente favorável ao encontro humano e a elucubração sobre o que se acontecia além dos escritórios. Critica o jornalismo de colunas, com cada repórter na sua torre de marfim e especialidade própria. Mesmo com um discurso em vários pontos, demasiado nostálgicos e irreais para a atual conjuntura; a sua principal tecla – postura ética jornalista - é mais que atual.

Mesmo sendo saudosista em alguns aspectos, Kucinski sempre foi lúcido quanto ao panorama da imprensa no país. A crise ética é muito mais antiga do que ele gostaria, e sim, há mais carreiristas e inconseqüentes no meio do que seria aceitável. Avisa que o que acontece hoje é longe do decente, seja entre repórteres, seja na relação repórter-empresa. Essas, diz, estabelecem um diálogo utilitarista com o funcionário. Por isso, aconselha a ser independente, se garantir com a sua agenda pessoal (em arquivos seguramente gravados em casa), coleção de reportagens, matérias, enfim: ter seu próprio método de trabalho. Tanto cuidado, perceberam os aspirantes a repórteres, não é exagero para os tempos turbulentos que estamos passando.

Bakumatsu: turbulência e renascimento

Tempos de redação são cada vez mais distantes: é mais que consenso hoje em dia que com a internet e as facilidades em geral de conexão (a qualquer lugar, de qualquer lugar), que não é preciso estar em alguma sede de veículo para fazer notícias. "Há uma democratização incrível", opina o jornalista, e concorda que, mais que em outras épocas, com as novas ferramentas, qualquer um faz notícia. Entre esse ser informacional e emissor e o jornalista, Kucinski acredita caber ao segundo maior responsabilidade sobre o que emite. Segundo o professor, não há como prever o futuro do ramo e do exercício profissional, mas há coisas que nunca mudam.

É preciso ser sempre fiel às suas fontes, respeitá-las; e aos seus leitores. Não é raro encontrar jornalistas que ao invés de fazerem entrevistas, buscam aspas ou esperam um erro para fazer manchetes curiosas, polêmicas. Só que esse profissional certamente perderá a credibilidade. Mesmo que o caminho da incorruptibilidade seja mais difícil do que a desonestidade - vigente -, ao final, você terá contatos que confiam em você - diz o experiente profissional, dando a receita que seguiu. Com essa fórmula que teve muitas portas fechadas, principalmente no começo, mas foi a que o possibilitou chegar à função de assessor da Presidência da República.

As virtudes não param por aí. Sim, é preciso ser perfeito, ou ao menos tentar errar o mínimo, pois sempre terá alguém para apontar suas falhas. Mas por isso também é bom ter amigos - e discorreu sobre a importância da panelinha como pé de sustentação para uma carreira saudável: ninguém é nada sozinho. E aconselha mais: nunca criticar os colegas. É necessário ser uma rocha, que não sucumba ao mais corriqueiro e usual, tão clichê.

Experiências e críticas do jornalismo contemporâneo

Por Pedro José Sibahi

O jornalista e cientista político, ex assessor da Presidência e antigo militante estudantil, Bernardo Kucinski, esteve no último dia 12 na Universidade de São Paulo, em palestra para alunos.

Falando em tom um tanto amargado pela vida, mas jamais arrependido pelo caminho escolhido, Bernardo falou de sua experiência profissional na imprensa e na academia, deu opiniões e conselhos, fez críticas quanto à cobertura na atualidade e comentários sobre suas perspectivas para o futuro do jornal.

De início ele apontou a necessidade de se desenvolver uma teoria do jornalismo que condissesse com as características do nosso país. Kucinski definiu o Brasil - assim como outros países em desenvolvimento - como imerso em um regime autoritário, assim, o jornalismo também necessitaria de uma “Teoria do jornalismo em sistemas autoritários”. Essa construção se faz importante pois nossa realidade não condiz com a dos países desenvolvidos, nos quais as noções de democracia e liberdade são mais desenvolvidas, assim como as forças políticas são diferentes. Fazendo uma comparação entre estes dois modelos, Bernardo falou de sua experiência no exterior. “Lá eles o querem pelo que você é. Aqui, eles precisam de você para realizar uma tarefa”. Para o ex-professor a diferença fica explícita principalmente no momento de assinar a matéria: enquanto em outros países a regra é colocar seu nome, aqui é preciso insistir muito e, muitas vezes, só ser aceito depois de "domesticado". Através dessa domesticação as empresas asseguram que nada contra os interesses da casa seja publicado.

Falando de sua especialidade, o jornalismo econômico, Kucinski teceu diversas críticas. A principal foi quanto à elitização das publicações, fechadas sobre sí mesmas, excluindo grande parte do público através de um "economequês" que normalmente esconde a ignorância do próprio jornalista. Além disso, o poder do capital financeiro sobre as pautas das publicações tem sido muito maior do que o aceitável, refletindo o que já ocorre no próprio sistema financeiro. Hoje o Brasil é terreno de engorda para o capital internacional. “Ele chega pequeno, cresce, e vai embora.” Como a economia é dependente, o capital econômico acaba se submetendo ao capital financeiro. Isto poderia ser observado, por exemplo, na questão da volta da inflação. Segundo ele, uma importante discussão sobre qual seria o tipo da inflação que está nos atingindo, de custo ou de demanda, está sendo negligenciada pela imprensa. Assim, preserva-se o interesse do capital financeiro, personificado pelos bancos, interessado em aproveitar a situação para retomar a trajetória de crescimento dos juros, inflando seus lucros. Juros altos poderiam solucionar uma inflação de demanda, mas não resolveriam o problema de uma inflação de custo, como a que estamos vivendo.

Quando falava sobre os grandes jornais, Bernardo disse esperar que eles se tornem cada vez mais autoritários, mas que veículos alternativos tem aparecido, inclusive através de ONGs. Estes novos meios parecem ser a saída do monopólio informacional, apesar de ressalvas quanto à alguns deles e as práticas de um jornalismo menos criterioso. Pensando nas escolhas de uma carreira, ele também acrescentou que de qualquer forma é sempre importante que "o jornalista seja dono dos seus próprios meios", e ressaltou a necessidade de se criar um arquivo próprio de entrevistas, material de referência, etc.

Finalizando sua palestra, Kucinski deu diversos conselhos, baseado no que vivenciou. Falou da importância que dá à ética, tanto com leitores quanto com fontes, assim como o repúdio quem tem pela chamada promiscuidade. Explicou os problemas quanto a falta de regulamentação através de uma lei de imprensa, o que leva ao uso do código civil e aos muitos processos por calúnia e difamação. Não deixou de criticar os "Cães de Guarda", colunistas que defendem o status quo através da imprensa, e colocou a importância de se levar a sério enquanto profissional desde cedo, comprometendo-se com o trabalho.


Citando o exemplo de um ex-aluno que fez seu TCC sobre a guerra na Indonésia, ele marcou muitos colegas com a predição de que não se deve almejar grandes trabalhos no futuro, pois os melhores jornalistas se destacam no dia-a-dia da escola.

Kucisnki compara jornalismo no Brasil e no exterior

por Pedro Maino, nº. USP 5903288

Profissionais brasileiros se auto-censuram e nem sempre jogam limpo na visão do professor aposentado do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP

Em palestra realizada no último dia 12, o jornalista econômico e ex-professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Bernardo Kucinski, falou, em palestras aos alunos do segundo ano, sobre a diferença entre os tipos de jornalismo praticados no Brasil e no exterior. Para o palestrante, que trabalhou tanto no Brasil quanto na imprensa estrangeira, há muitas diferenças entre o jornalismo aqui e nos Estados Unidos, por exemplo.

Segundo Kucinski, os jornalistas brasileiros são contratados apenas por seus serviços, ao contrário do que os estudantes possam pensar. “As empresas não querem você por suas idéias. Elas querem que o profissional exerça uma tarefa, enquanto as idéias cabem aos editores”, explicou o professor, que explicou a situação como um processo de domesticação do jornalista. “No período da ditadura era assim, mas isso ainda se observa nos dias de hoje”.

O convidado explicou ainda que os repórteres brasileiros sofrem com a auto-censura. “Aqui, o jornalista deixa de publicar algo por receio de se comprometer com a fonte e, com isso, perdê-la. É publicada então uma ‘ficção sobre o real’ e a verdadeira história só aparece depois do expediente. Só que ninguém precisa ser jornalista. Quem não quiser se comprometer pode arranjar outra profissão”, analisou, apontando o contrário em outros países. “Isso nem é cogitado por um repórter estrangeiro. Se ele tem uma informação apurada e confiável, nunca irá passar pela cabeça dele segurar esta notícia”.

A respeito da atual ética vigente no jornalismo brasileiro, Kucinski foi crítico, afirmando que no Brasil impera a ‘ética da malandragem’. “Infelizmente, a honestidade está lá embaixo na nossa escala de valores. O profissional pensa apenas em conseguir o que precisa e tem uma relação predatória com sua fonte”. Em uma comparação com os americanos, o palestrante ressaltou que apenas dois pontos são importantes no Código de Ética deles. “Nos Estados Unidos, o jornalista deve ser correto com as fontes: buscar a verdade e jogar limpo (fair play)”.

Ainda sobre a ética e a atuação do profissional no Brasil, o professor explicou que isso faz com que as fontes tenham pavor de jornalistas. “Eles nunca sabem se você escreverá apenas o que ele disse”. No entanto, deu dicas para ganhar a confiança dos entrevistados. “No início, pode parecer mais complicado jogar limpo, mas isso te dá uma credibilidade que te diferencia dos demais no futuro”.

Kucinski criticou ainda a relação tangencial de alguns jornalistas com o conhecimento e disse que é algo comum. “Certa vez em uma entrevista, o âncora me questionou sobre quais perguntas deveria me fazer ao vivo. Isso, obviamente, o livra das responsabilidades de se aprofundar no assunto tratado”. Ele, por outro lado, aconselhou aos alunos que façam justamente o oposto. “Jornalista bom é aquele que é informado, que sabe do que está falando e se aprofunda no tema”.

Durante a palestra, o professor revelou ainda uma série de outras dicas para que os estudantes possam se dar bem na imprensa, considerada com autoritária por ele. Uma delas se refere ao material utilizado pelo jornalista. “O brasileiro precisa fazer uso de uma ética defensiva, ou seja, deve ser dono de seu próprio material. Não pode depender de uma empresa, pois você pode ‘tomar um pé’ dela a qualquer momento”.

Além disso, Kucinski falou que o jornalista deve ser muito bom. “Pode parecer óbvio, mas, além de inteligente, você deve ser esperto e saber se inserir no sistema. É importante, por exemplo, não criticar, um colega de profissão. Além disso, é fundamental estar em uma ‘panelinha’. Ninguém te contrata porque você é bom, mas porque pertence a determinado grupo”. Bem humorado, o professor afirmou que, em último caso, o profissional deve montar a própria ‘panelinha’.

O professor encerrou dizendo que ninguém será um bom jornalista em um dia, ou em um determinado momento. De acordo com ele, o talento deve aparecer durante a faculdade. “Se a pessoa não escreveu algo descente para o ‘Jornal do Campus’, (com circulação interna na Universidade de São Paulo), dificilmente escreverá algo assim no futuro”. Para Kucinski, a vida profissional começa na escola.

Jornalismo, economia, e o que fazer com isso tudo

Por Eduardo Tavares (nº USP 4921589)

“Falta uma teoria do jornalismo em sistemas autoritários”. Essa foi a tônica da palestra ministrada pelo ex-professor de Jornalismo Econômico da ECA-USP, Bernardo Kucinski na última quinta-feira (12). Na aula, Kucinski desenvolveu uma análise da atual cobertura jornalística da economia brasileira, a qual, segundo ele, se encontra deficiente. O professor também abordou aspectos da profissão jornalística, além de dar conselhos aos estudantes.

De quem começou há muito tempo...
A principal carência do jornalismo brasileiro, segundo Kucinski, é o fato de que, diferentemente das coberturas em outros países, as idéias do próprio jornalista não apresentam grande relevância na elaboração das matérias. No Brasil ocorre uma “despersonalização” do jornalista, à medida que ele é “domesticado” conforme o projeto editorial da empresa em que trabalha. Kucinski, que possui uma vasta experiência na grande imprensa, criticou a atuação dos editores, que frequentemente deformam as matérias escritas pelos jornalistas, moldando os textos para adequá-los à mensagem que o veículo quer transmitir.

A censura que os jornalistas fazem sobre seu próprio trabalho também representa um grande obstáculo para o ganho de qualidade no jornalismo. Kucinski critica o hábito de muitos profissionais que administram a quantidade de informação a ser disponibilizada em suas matérias. Comportamentos como esse, visando algum tipo de privilégio ou prestígio ao manter informações em segredo, criam um paradoxo, já que a função do jornalista é incompatível com a atitude de impedir que a verdade completa seja propagada.

Quanto ao jornalismo econômico, especificamente, Kucinski o aponta como um agente de função ideológica, com o objetivo de convencer os leitores de que a situação está sob controle, quando, na verdade, não é exatamente essa a situação. O professor afirma que não há profundidade na cobertura, e o tipo de informação veiculada – e o modo como isso é feito – demonstram uma comunicação horizontal, de elite para elite. Os “jornalões”, como define Kucinski, são ainda caracterizados pela mesmice e pelo autoritarismo em seus noticiários.

Um exemplo comentado pelo professor diz respeito à atual discussão sobre o aumento da inflação, e as medidas do BC e do governo para conter esse aumento. A falha dos jornalistas, nesse caso, estaria no fato de não proporem reflexões sobre questões básicas, como as causas da inflação. Para Kucinski, abordagens cruciais como a demanda e os custos, que influenciam diretamente na oscilação da inflação, têm sido feitas de forma superficial. E essa insuficiência na investigação dificulta, inclusive, a procura de soluções para o aumento inflacionário.

Outra característica que denuncia a superficialidade na cobertura jornalística da economia é vocabulário utilizado nas notícias dos “jornalões”. O excesso de jargões, e o vocabulário por vezes exageradamente técnico e rebuscado significam, muitas vezes, uma tentativa dos jornalistas em esconder sua própria ignorância sobre o tema. Tal postura acaba por enfraquecer a credibilidade do jornalista, não somente frente aos leitores, mas também para com as fontes.

...para quem está apenas começando
Entretanto, ainda que o autoritarismo da grande mídia seja predominante, essa situação desestimulante é compensada pelo que Kucinski aponta como o “florescimento de outros tipos de imprensa escrita”. Essas novas mídias, segundo o professor, seriam uma boa alternativa, não só para leitores, mas também para jornalistas iniciantes, por estarem menos sujeitas a serem instrumentos na luta ideológica. Por isso, o conselho do professor para os jovens profissionais é que não fiquem obcecados com a grande mídia.

Kucinski ainda exorta aos jornalistas em formação a que persigam valores fundamentais da profissão, como o respeito e a honestidade com as fontes e com os leitores, a ética na investigação e o incessante desejo de aprofundamento nos assuntos sobre os quais se escreve. E, principalmente, Kucinski enfatiza o fato de que o jornalista deve “ter a capacidade de se maravilhar e também se indignar com o que está acontecendo”.

Atividades econômicas têm cérebro no exterior

por Ricardo Balsani Ferraz, nº USP 5133540

No Brasil, as atividades econômicas são dirigidas por empresas que possuem seu centro de decisão nas grandes potências do capitalismo, de modo que aqui o jornalismo econômico não tem a mesma função que exerce em outros países. Com o “cérebro no estrangeiro”, ele pratica tão somente um minimalismo informacional, destinado a fazer ressonar as idéias de uma elite para ela mesma. Essa é a opinião de Bernardo Kucinski, jornalista e cientista político, que retornou à USP, onde lecionou, para ministrar palestra aos alunos do curso de jornalismo. Ele traçou um panorama do jornalismo econômico no país, e ensinou estratégias de sobrevivência em um ambiente que define como cada vez mais autoritário nas redações brasileiras.

Para Kucinski, hoje o Brasil é terreno de engorda para o capital internacional. “Ele chega pequeno, cresce, e vai embora.” Com uma economia dependente, o capital financeiro exerce domínio sobre o capital econômico, o que acaba tendo implicações também para o jornalismo. Isto poderia ser observado, por exemplo, na questão da volta da inflação. Segundo ele, uma importante discussão sobre qual seria o tipo da inflação que está nos atingindo, de custo ou de demanda, está sendo negligenciada pela imprensa. Assim, preserva-se o interesse do capital financeiro, personificado pelos bancos, interessado em aproveitar a situação para retomar a trajetória de crescimento dos juros, inflando seus lucros. Juros altos poderiam solucionar uma inflação de demanda, mas não resolveriam o problema de uma inflação de custo, como a que estamos vivendo.

Segundo Kucinski, esse caso demonstra que as discussões econômicas no Brasil são dominadas pelo interesse de uma elite, que mantém uma relação promíscua com o jornalismo. Ele cita as próprias manchetes de jornais para exemplificar como o grosso da população está sendo excluída do jornalismo econômico, que acaba falando ao próprio umbigo, pautado e direcionado às elites. O jornalista que inicia sua carreira em redações como essas acaba adquirindo vários vícios, como por exemplo a autocensura. Este, aliás, é apontado por Kucinski como um dos mais graves defeitos do jornalista brasileiro. Ao contrário de seus colegas estrangeiros, ele retira de seu texto as informações mais picantes ou polêmicas, o que resulta em uma ficção sobre o real, e não jornalismo.

Como alternativa ao jornalista iniciante, Kucinski destaca um florescimento editorial, com o surgimento de novos veículos, e o revigoramento da imprensa alternativa. São esses ambientes que ele aponta como desejáveis para que um jornalista passe os primeiros anos de sua carreira, pois assim ele será menos utilizado na luta ideológica. Para ele, ser muito bom é uma das soluções para que o jornalista sobreviva no nosso mercado, e para isso ele deve aproveitar as chances que a profissão dá e mergulhar nos assuntos que trabalhar. Assim, além de se desenvolver, ele evita o que Kucinski chamou de jornalismo tangencial, que apenas fica na superfície dos temas. Para ele, o jornalista também deve se maravilhar e indignar com o que vê, evitando uma postura cética ou cínica. O jornalista que não exercita a capacidade de se comover acaba ficando fraco.

Baseado em suas próprias experiências, Kucinski aconselhou os estudantes a investirem nas relações pessoais com seus colegas de profissão. Seria importante pertencer as “panelinhas”, grupos de jornalistas reunidos por uma afinidade natural, ou um projeto em comum. Ao invés de excluir as pessoas de for, sua função seria a de oferecer suporte mútuo aos membros dos grupos, quando as horas não forem as melhores. Além disso, ele recomenda que os jornalistas tenham um tato especial na hora de fazer críticas a um colega, evitando, se possível, citá-lo nominalmente. Ele argumenta que elas sempre pesam para quem as recebe, e isso pode ser virar contra a pessoa que apontou os erros.

Kucinski também defendeu a ética defensiva como estratégia de sobrevivência. Ser correto com as fontes, e posteriormente com os leitores, fará com que a sociedade respeite mais o jornalismo. Para os casos em que acontecem abusos, ele defende uma legislação específica para a imprensa, pois se os jornalistas têm alguns direitos especiais, também devem ter maior responsabilidade. Para ele, muitas vezes a imprensa falta com o respeito por algumas pessoas, que são expostas, caluniadas e difamadas.

O jornalismo em sistemas autoritários

Em palestra, Bernardo Kucinski fala aos alunos sobre os vícios do jornalismo brasileiro

Marcelo Osakabe - nº USP 5904511

Para quem esperava uma palestra sobre jornalismo econômico, uma surpresa. Bernardo Kucinski, professor recém aposentado do CJE, passou as quase duas horas de aula discorrendo sobre as características do modo brasileiro de fazer jornalismo.
Num tom um tanto amargo (mas não decepcionado), ele nos contou a sua experiência tanto como profissional da área como de professor, bem como suas perspectivas e apostas para questões do campo hoje e no futuro, entremeadas de alguns conselhos para os ingressantes no mercado de trabalho.
Ele começou nos apontando para a necessidade de se criar uma teoria do jornalismo que condissesse com as características do nosso país, uma “Teoria do jornalismo em sistemas autoritários”. Essa teoria substituiria os modelos europeu e americano, utilizados atualmente, mas que pouco têm a ver com nossa realidade.
Kucinski trabalhou tanto na imprensa nacional como na estrangeira. “Lá eles o querem pelo que você é. Aqui, eles precisam de você para realizar uma tarefa”. A diferença, para o ex-professor, fica claro quando chega a hora de assinar uma reportagem. No exterior, qualquer reportagem vem assinada. Aqui, é necessário batalhar muito para pôr seu nome numa matéria. E isso aconteceria somente após o que ele chamou de “processo de domesticação”, em que a um jornalista só é permitido assinar depois de mostrar que não vai contra os posicionamentos da casa.
Essa espécie de autocensura embutida a força faz com que o jornalista brasileiro guarde algumas coisas para si, apesar de a sua função social seja revelar, algo contraditório e que simplesmente não existe lá fora. A verdadeira história só é revelada depois, naquela conversa depois do expediente. O que sai na matéria é apenas uma ficção sobre o real, incompleta.
O ex-professor criticou severamente o noticiário financeiro, dizendo que é escrito de elite para elite e que profissionais da área se escondem atrás do “economês” para não demonstrar a sua incompreensão do assunto. Explicou ainda como o jornalismo econômico é pautado pelo capital financeiro há anos e como se tornou extremamente viciado, entrevistando sempre o mesmo grupo de “entendidos”, que também fazem parte do jogo e que defendem interesses.
Deu como exemplo a recusa dos grandes jornais em tratar a recente aceleração da inflação como provocada por um aumento dos custos e não da pressão da demanda. Essa omissão deliberada vai de encontro com o desejo do sistema bancário, que, com os juros cada vez mais baixos, temia ter que mudar a matriz de negócios que o norteou durante anos no país, a saber, lucrar quase que exclusivamente financiando a dívida pública brasileira, que rendia os “juros mais altos do planeta”, em vez da produção.
Kucinski ainda disse que a tendência dos jornalões é ficarem cada vez mais autoritários, mas que diversos veículos novos estão surgindo, publicações que não são usados como instrumento ideológico e que por isso permitem que os jornalistas tenham mais liberdade na hora de escrever e assinar matérias.
Daí em diante, passou a responder perguntas e dar conselhos aos alunos. Disse que precisávamos, antes de tudo, ser muito bons: aprofundar nos temas novos, descobrir fontes, conciliar sucesso pessoal e conduta ética. Emendou conselhos como “nunca criticar um colega de trabalho ou discutir com o editor” com outros mais espantosos do tipo “Se você não acontece logo na escola, não acontece nunca mais”. Falou da importância de se participar de uma “panelinha” e que o jornalista deve adotar uma ética defensiva (ser dono dos próprios instrumentos) para com os jornais.
Questionado sobre Lei de Imprensa (ou a sua supressão), explicou que a grande diferença entre ela e o código civil é que a primeira trata dos erros no caso específico do jornalismo, que ocorrem de um modo proporcionalmente diferente. “A calúnia pode ser justamente absolvida caso se dê o direito de resposta em igual condição”. Por fim, afirmou que a interface entre jornalismo e ONGs é muito interessante (mas duvida que esse jornalismo engajado vai algum chegar a tocar em questões estruturais) e lamentou o esvaziamento das redações, antes espaço de troca e aprendizado.

O jornalismo como ele é

Em palestra a estudantes da ECA-USP, Bernardo Kucinski revela o lado prático da profissão.

Por Juliana Varella Reginato, nº USP5402522


O curso de Fundamentos da Economia teve sua última aula na quinta-feira, dia 12 de Junho. Convidado a expor uma palestra ao grupo, o professor recém-aposentado Bernardo Kucinski surpreendeu os estudantes de jornalismo com cerca de duas horas de conselhos práticos sobre o dia-a-dia da profissão.

O primeiro ponto abordado foi o ensino. O ex-professor criticou a falta de uma teoria de jornalismo genuinamente brasileira, e explicou que os modelos usados são geralmente de outros países, onde a realidade da profissão é bem diferente. Isso, frisou, contribui para o desencanto dos jovens, que saem das faculdades com uma noção irreal do trabalho, e encontram um ambiente conservador, que valoriza o jornalista mecânico, cumpridor de tarefas. “Aqui, é preciso conquistar o direito de assinar, de ter idéias”.

A economia, como esperado, também foi alvo de comentários, curtos porém esclarecedores, do especialista. Ele classificou o Brasil como “terreno de engorda” dos capitais estrangeiros, já que aqui se aplicam investimentos, mas não se fixa a renda. Concluiu que, se tanto os capitais quanto os centros de decisão das grandes empresas não estão no país, a economia brasileira permanece altamente dependente. Em seguida, destacou a desigualdade econômica interna do país, que se reflete no jornalismo, com jornais feitos por uma elite que só consegue falar às elites. Também foi pautada a influência negativa dos grandes bancos sobre os jornais diários, que acostumaram-se a omitir informações importantes à população, por serem indesejadas e possivelmente prejudiciais a eles.

Num momento mais otimista, o ex-professor esforçou-se em traçar um panorama das possibilidades para o jovem jornalista. Alertou que, nos grandes jornais, tem crescido o autoritarismo e decrescido a qualidade, com páginas recheadas de pautas previsíveis e textos superficiais. Lembrando que o jornalista de campo não é tão responsável por essa falha quanto a linha editorial, que o molda. A boa notícia é que as pequenas revistas, especializadas ou alternativas, estão seguindo o caminho contrário, crescendo e caprichando no conteúdo. Começar nesses espaços, aconselha Kucinski, pode ser muito mais gratificante do que na grande mídia. Isso porque, em geral, as revistas de menor porte tendem a dar mais espaço ao jornalista, e mais liberdade para que ele tenha opinião. Assim, com a possibilidade de errar e responder pelos próprios erros, fica muito mais fácil aprender e evoluir.

Diante de um cenário tão limitado, os alunos começaram a se perguntar se haveria uma saída, à qual respondeu o convidado com uma lista de conselhos. “Para sobreviver no mercado, primeiramente, seja muito bom.” A frase, aparentemente óbvia, despertou expressões de dúvida nos ouvintes, atentos. O palestrante prosseguiu, explicando que o jornalismo brasileiro tem perdido muita qualidade pela ausência de certas atitudes. Uma delas, continuou, é aproveitar as oportunidades de aprendizado. Deixar de lado a matéria superficial e empenhar-se em estudar realmente o assunto tratado, pois aquele conhecimento poderá ser útil na vida pessoal ou profissional. Outra atitude imprescindível, segundo ele, é sentir. Maravilhar-se e indignar-se com a mesma intensidade, tornando a profissão mais prazerosa e o resultado muito mais rico.

O ex-professor pincelou ainda outros conselhos preciosos aos aspirantes a jornalistas. Comentou a importância de ser ‘correto’ com as fontes e com os leitores, evitando o seu afastamento e facilitando a obtenção de futuros depoimentos. Afinal, a desconfiança causada por palavras distorcidas e conversas gravadas sem aviso mancham a imagem do jornal e do jornalista, até mesmo como pessoa.

Entre discursos e conversas, o palestrante revelou experiências pessoais, das quais aprendeu algumas das lições que agora repassava aos alunos. Uma delas, a de jamais criticar um colega de trabalho. Discordar do editor pode ser, muitas vezes, um erro irreparável. “Para evitar situações como essa, o melhor é tomar todo o cuidado antes de entregar uma matéria.” Com isso, explica, evita-se que o superior faça muitas alterações no texto. Se, ainda assim, elas forem feitas, ele sugere que não se discuta.

Os últimos momentos da aula foram marcados por discussões mais fervilhantes, como sobre a lei de imprensa e a internet. Ao primeiro tema, o ex-professor respondeu com uma crítica aos jornalistas. “Temos muito privilégio, mas é preciso ser mais responsável (com os direitos alheios, como o de imagem)”. Sobre a internet, Kucinski aposta na permanência do jornalismo impresso, mas defende a versão online como uma nova satisfação para quem escreve. “Antes, o jornalista só interagia com o editor; agora o leitor está muito mais próximo”. Não se sabe ao certo como as novas ferramentas serão incorporadas pelo jornalismo, nem como será o mercado quando esses alunos saírem das salas de aula. O futuro, de fato, assusta e intriga. Mas um toque de experiência pode tornar o processo da descoberta, no mínimo, menos doloroso.

Acima de tudo, um amante do ofício

Por Tatiane Cristina Ribeiro (n° usp 5903034)

Bernardo Kuscinki demonstrou sua relação de amor e ódio com o jornalismo em palestra eloqüente

Amar o jornalismo não parece ser muito difícil. Mas só parece. Uma profissão com tantos nuances e tantos “debaixo dos panos” faz com que muitos desistam e muitos acabem por se render ao sistema. Esse é o diagnóstico de Bernardo Kucinski, jornalista e ex-professor da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP). Apesar de parecer um daqueles que cansou do sistema, ele demonstra que lutar contra ele é ser um bom jornalista.
Falando sempre sobre a importância da profissão para o mundo atual, ele contou histórias sobre a sua jornada pelo mundo jornalístico, apresentando sempre um discurso de dignidade e abertura na profissão. Para Kucinski, um jornalista não deve usar as informações que tem como trunfos e guardá-los, mas sim exercer seu dever: o de informar.
Ao falar de jornalismo econômico, ele lançou duras críticas ao modelo atual, acusando os jornais econômicos de serem usados apenas para disseminar ideologias, sem informar as verdadeiras mazelas da economia mundial. Feitos diretamente para as classes dominantes, jornais como DCI e Gazeta Mercantil só repetem aquilo que os detentores da renda no país já dizem, e camuflando políticas que podem prejudicar o país.
Sempre dando dicas aos estudantes que o ouviam, Kucinski mostrou que ser contra a situação atual não é apenas reclamar todos os dias do que lemos nos jornais, mas sim lutar por um jornalismo justo, sincero e que inclua toda a população. Nunca camuflando, mas mostrando a verdade, doa a quem doer.

"É uma inflação de custos, e não de demanda", diz Kucinski

Por Ricardo Régener - Nº USP 5902930

Em Palestra a alunos da Escola de Comunicações e Artes da USP, o Professor Bernardo Kucinski fala sobre o retorno da Inflação , discute as diferenças com outros períodos e faz uma crítica à cobertura da imprensa.



"Há uma promiscuidade muito grande entre jornalistas e fontes"



"Ninguém precisa ser Jornalista por ser, se for pra escamotear a verdade, não seja"


"Estamos vivendo uma volta da inflação", constata o Professor Bernardo Kucinski, introduzindo o tema sisudo em um tom didático e informal. Em conferência com alunos do curso de Jornalismo da ECA-USP, durante o mês de junho, o professor Bernardo Kucinski traçou um panorama do retorno do "Dragão Inflacionário" ao cotidiano dos brasileiros. Kucinski, que já prestou assessoria sobre Assuntos Estratégicos para a Presidência da República, enfatiza que vivemos um quadro inflacionário muito distinto de ocasiões anteriores: "Trata-se de uma inflação de custos, e não de demanda".

Segundo o professor, a inflação de demanda, mais comum em períodos históricos passados, ocorre quando as pessoas estão com dinheiro demais, consumindo, e não há oferta suficiente. Nesse caso torna-se necessária a imposição de impostos, a queda de salários, o aumento da taxa de juros, entre outras políticas comumente adotadas. A Inflação de Custos, no entanto, ocorre devido ao aumento, por motivos diversos, dos preços de produção, “ela representa em si o confisco do dinheiro do povo, o cidadão vai consumir de qualquer forma certos produtos, mas vai ter que pagar um pouco mais por eles (...) ela por si já derruba a demanda, já faz que as pessoas tenham menos dinheiro pra gastar com outros bens".

Para Kucinski, essa distinção é de suma importância pois "ela [a inflação de custos] exige um remédio totalmente diferente". No entanto, a adoção de políticas mais condizentes com tal realidade está dificultada em parte devido a atuação dos Jornalistas na cobertura da crise; conforme o professor “[a mídia] está omitindo deliberadamente o fato de que se trata de uma inflação de custos”, e isso se deve a “uma promiscuidade muito grande entre Jornalistas e Fontes”. Kucinski critica o fato dos profissionais de jornalismo terem sempre as mesmas fontes, o que os faz, em muitos momentos, meros difusores dos interesses dos bancos. A estes o professor associa o principal interesse pela omissão de nuances aprofundadas da crise: “É de interesse dos bancos aproveitar essa crise pra retomar o processo de elevação dos juros, não é conspiratório, é uma coisa que vai acontecendo naturalmente, e precisa ter uma certa perspicácia pra perceber".

No decorrer da palestra, além de falar sobre inflação e criticar incisivamente a ação dos Jornalistas nessa cobertura, Kucinski também deu muitas dicas práticas para a formação de profissionais ao mesmo tempo bem-sucedidos e honestos. “Ninguém precisa ser jornalista só por ser. Se for pra escamotear a verdade, não seja”.

Kucisnki revela as verdades do jornalismo em palestra

Ex-professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP critica o jornalismo brasileiro e revela as minúcias do mundo das redações

Francisco Laurentiis (número USP: 5904504)

Na última quinta-feira (12/06), Bernardo Kucinski, jornalista de renome internacional e atual ombudsman do Jornal do Campus (feito pelos alunos do curso de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes) deu uma palestra descontraída, mas sobre temas sérios, aos alunos da disciplina Fundamentos de Economia. Na conversa, o ex-professor de economia da ECA, que se aposentou no final de 2007, abordou não apenas a economia mundial, principal foco do curso, mas também os problemas nas coberturas jornalísticas feitas pelos grandes veículos e o sistema autoritário das redações. Ele ainda deu dicas aos estudantes de como se destacar em um mercado de trabalho acirrado como é o do jornalismo.

Kucinski tem autoridade de sobre falar sobre o mundo do jornalismo. Sua experiência em meios de comunicação nacionais, como a Veja e a Gazeta Mercantil, e estrangeiros (como o jornal The Guardian e a rede de televisão BBC, ambos da Inglaterra), além de seu trabalho como escritor (é autor de Jornalismo Econômico, publicado pela Edusp, entre outros), são provas disso. E, logo no início da palestra, declarou com a sinceridade quem nunca lhe faltou em muitos anos de profissão: “Falta uma ideologia jornalística genuinamente brasileira”. Segundo o ex-professor, os valores do jornalismo nacional são importados dos Estados Unidos e da Europa e nossas principais publicações estão sempre copiando o que fazem as estrangeiras. Ele também comparou o jornalismo brasileiro com a economia do país: “A economia do Brasil é guiada e direcionada pelos estrangeiros”, já que as decisões econômicas mais importantes não são tomadas no país, mas nos países estrangeiros. Kucinski completou dizendo que o Brasil é um “terreno de engorda” do capital estrangeiro.

Em seguida, o jornalista fez críticas ao sistema autoritário imposto pelas redações brasileiras. Segundo o palestrante, os editores, “responsáveis pelas idéias”, são meros “cortadores”, “canetadores” de matérias, enquanto os jornalistas, “responsáveis por todo o trabalho”, são os “cordeirinhos” das redações: eles só assinam as matérias se seguirem à risca os manuais técnicos e ideológicos dos veículos, são muitas vezes obrigados a se “autocensurarem” para evitar problemas jurídicos para os veículos e não se aprofundam nos assuntos abordados para “não complicar” para os editores. Kucinski também destacou um dos piores hábitos do jornalista brasileiro: “Jornalista brasileiro gosta de formar ‘panelinhas’ redações”. Como jornalista, ele garante que isso atrapalha principalmente a troca de informações entre os profissionais e desestabiliza o ambiente de trabalho na redação. O palestrante ainda se mostrou um severo defensor da ética no jornalismo: “O profissional de mídia deve ser sempre correto e honesto com suas fontes, e também não deve criticar colegas de profissão”.

O jornalismo econômico brasileiro também foi tema da palestra. Kucinski destacou que os as notícias do caderno de economia são muitas vezes persuasivas, enganosas e pouco compreensíveis para maior parte da população. Ele também critica o excesso de jargões utilizados pelos jornalistas da área: “Usar jargões é uma forma de mascarar a própria ignorância perante um assunto”. A seleção de valores empregada no caderno econômico foi definida por Kucinski como negligente: “Há excessiva promiscuidade entre editores, jornalistas e o capital financeiro”. Para o palestrante, muitos assuntos não aparecem no caderno de economia pois não interessam à “elite” para quem essa parte do jornal é dirigida.

Para os alunos que esperavam ver uma palestra sobre o “romantismo” do jornalismo e a crise econômica contemporânea, as críticas ácidas de Kucinski podem até ter soado um pouco exageradas. Mas a sinceridade de jornalista, aliada à boa argumentação do professor, mostraram as verdades por trás das redações e advertiram os futuros jornalistas da ECA sobre o que vão encontrar daqui a algum tempo. Kucinski falou a verdade, como sempre fez em sua carreira, e como deve fazer todo jornalista, não importando a ocasião.

Conselhos a um jovem jornalista

Em palestra a estudantes, o ex-professor Bernardo Kucinski falou dos desafios do jornalismo no país.


Por Bruno Benevides (nº USP: 5903969)


O ex-professor da Universidade de São Paulo (USP) Bernardo Kucinski destacou a importância da honestidade no jornalismo e mostrou as dificuldades para um profissional defender suas idéias. Em palestra intitulada “Jornalismo em sistemas autoritários”, dada para alunos do curso de jornalismo da USP, ele destacou que no Brasil um repórter costuma receber pressão de diferentes grupos, mas que a tarefa dele é divulgar as informações.
Para Kucinski o que caracteriza o Brasil como um sistema autoritário é a nossa economia dependente do exterior, uma vez que os centros de decisão das empresas não estão aqui. Ele diz ainda que o país serve como “terreiro de engorda do capital estrangeiro”, de modo que investidores internacionais ganham dinheiro e depois vão embora, sem deixar qualquer legado.
Esta estrutura, ainda segundo ele, traz dificuldades ao jornalista, principalmente o de economia, pois o capital financeiro acaba exercendo grande pressão para que a mídia não trate de assuntos potencialmente desagradáveis para os investidores. Isto geraria um conflito, pois a tarefa do repórter é revelar informações, ao mesmo tempo que é pressionado para escondê-las. Para Kucinski muitos profissionais acabam fazendo uma “auto-censura”, o que significa que ter cuidados excessivos ao fazer as matérias, segurando informações que poderiam causar problemas para algumas pessoas ou grupos.
O resultado de tudo isso acaba refletido na grande imprensa, defende Kucinski. Ela estaria repetitiva e autoritária, desrespeitando os leitores. Ele acusa esta, também, de fazer uma “ficção sobre o real”, de tratar apenas da elite, dela mesma e esquecer o mundo real. Para ele a função do jornalista deveria ser persuadir a população para o debate, municiando-a com informações.
Kucinski, que já trabalhou em veículos como Veja e The Guardian e se aposentou da USP no ano passado, criticou ainda a falta de uma teoria jornalística nacional. O jornalismo brasileiro se basearia em teses estrangeiras que são inadequadas à nossa realidade. Isso porque essas teses vêm de países que não são dependentes, o que muda completamente a estrutura social e de poder. “(Os veículos de comunicação) não querem você por suas idéias, querem você para fazer uma tarefa”, diz ele, completando que “quem tem as idéias é o editor, o dono”. Em outros países não dependentes, como os EUA e as potências européias, o jornalista seria contratado exatamente a partir de suas idéias e convicções. Apesar de todas as críticas que fez, Kucinski vê algumas saídas no jornalismo. O mais importante é “não ficar obcecado pela grande imprensa”, tentando assim achar seu espaço. Para ele o florescimento de outras modalidades, como a Internet e as revistas de nichos específicos, é um bom caminho. Destaca ainda que é importante ser correto e ético tanto com as fontes quanto com os leitores, finalizando que o jornalista deve “tanto se maravilhar quanto se indignar com o que vê”.

Ex- professor da ECA dá palestra a estudantes

Fernanda Braite
número usp: 5902947

Bernardo Kucinski critica a grande mídia e dá conselhos sobre a profissão do jornalista

Nessa última quinta-feira, dia 12 de Junho, Bernardo Kucinski, jornalista e ex-professor da USP, ministrou uma palestra aos estudantes de jornalismo da ECA. O tema partiu de economia e seguiu analisando a profissão do jornalista, com conselhos e dicas aos futuros profissionais. Kucinski começou sua palestra destacando a desigualdade social em que vivemos e como isso influencia no jornalismo. “Se vocês trabalham nos jornalões,” disse o professor, “ (...) estão escrevendo em um jornal que fala do próprio umbigo. Estão falando de uma elite para uma elite, não tem nada a ver com o povo”. Isso influencia não apenas o foco e os temas a serem tratados nos jornais mas também o que não deve ser falado. “Nesses últimos 10 anos, há um domínio muito notável e impressionante do capital financeiro sobre o jornalismo econômico. Ele praticamente pauta os jornais.”, diz Kucinski, e como exemplo disso citou o atual retorno na inflação.

Embora seja normal sempre haver uma inflação de fundo, atualmente ela vem subindo e atingindo outras faixas. Apesar de todos os jornalistas entenderem muito bem a situação, estão omitindo deliberadamente o fato da atual crise de preços ser resultado de uma inflação de custo, e não de demanda. “Essa distinção é importante porque elas exigem remédios totalmente diferentes.”, frisa Kucinski. Uma inflação de custo se dá quando o preço sobe devido a um aumento no custo de produção. Isso representa um confisco de dinheiro público, pois não podemos deixar de consumir certos produtos, e acabamos pagando mais, mesmo com o preço elevado. Nesse caso, não se deve tomar medidas de confisco, pois a situação em si já derruba a demanda e já acarreta em menos dinheiro para a população gastar em outros bens. Já uma inflação de demanda se dá quando as pessoas estão comprando demais e não há oferta suficiente. Aí sim, é necessário impor um imposto, diminuir salários ou aumentar as taxas de juros para que as pessoas tenham de pagar mais pelos bens e, conseqüentemente, diminuir a demanda. É uma solução completamente oposta da necessária para uma inflação de custo.

Isso porém, não é mencionado nos jornais e não está em discussão. O motivo é o interesse dos bancos em aproveitar a inflação para elevar as taxas, mantendo a ignorância da população sobre o fato de que essa inflação de custo não se revolve com o aumento de juros. “Os juros iam caindo, (...) as pessoas estavam indo para a poupança. Então eles aproveitaram a crise para retomar o estado de juros absurdamente altos.” Por conta disso, nenhum jornal publica nem discute o tipo de crise e inflação que estamos passando. Essa podagem do que se pode ou não escrever, porém, depende do veículo onde se trabalha. Segundo o palestrante, vivemos uma contradição no jornalismo: enquanto os grandes jornais estão cada vez mais autoritários e jornalistas são demitidos por não quererem seguir as rédeas da empresa, está havendo um grande crescimento de outras modalidades de imprensa escrita e novos mercados para se escrever. “É muito importante não ficar obcecado (para trabalhar) na grande imprensa”, sugere Kucinski. E aconselha que o ideal é começar por veículos que são menos usados na luta ideológica, onde há mais liberdade para se desenvolver como jornalista, para “só depois enfrentar a barra pesada na telinha da Globo, na Folha, na Veja, e nesses lugares que são realmente massacrantes”.

Para Bernardo Kucinski, o bom jornalista é aquele que se aprofunda o máximo nos assuntos que vai tratar e é honesto com a fonte e com o leitor. Além disso, é bom procurar pertencer a grupos de influência e evitar criticar colegas de profissão. O professor também elogiou a profissão e definiu o profissional do jornalismo com paixão: “O jornalista tem que ter a dupla capacidade de se maravilhar e se indignar com as coisas”.

Namorando o jornalismo, por Kucinski

Vandson Lima

Em palestra para alunos de jornalismo da USP, professor Bernardo Kucinski demonstra bom humor, simplicidade e indica rumos para os jovens que escolheram a profissão.


12 de junho, quinta-feira, dia do namorados. Talvez não parecesse o dia mais indicado para uma palestra de economia, quando muitos estavam por demais preocupados nos presentes dados e recebidos – e aqueles que não tinham a quem dar ou de quem receber presentes por demais preocupados em demonstrar que nem ligavam para isso.

Mas Bernardo Kucinski, sorriso aberto a todos que entravam na sala onde começaria sua palestra - mesmo aos atrasados - , ministrou a disciplina de “Jornalismo Econômico” nessa mesma universidade, com as mesmas portas amarelas e barulhentas, durante 11 anos, e agora voltava, para um “bate-papo”, segundo o próprio.

Seu discurso, ao mesmo tempo realista e apaixonado sobre essa profissão, por vezes tão controversa, ganhou os presentes logo de início, ao elucidar de forma clara o funcionamento da maioria das grandes redações do país, onde “querem pessoas que cumpram tarefas, não que tenham personalidade. Há um processo de domesticação que só permite que se assine a matéria depois de passar por essa ‘lavagem cerebral’. Por isso, aconselho os jovens a começarem por veículos menores, que lhes dêem a possibilidade de uma escrita mais livre, assim desenvolvendo um estilo próprio, e ganhando respeito”.

Ter a dupla capacidade de se maravilhar e se indignar com as coisas. Para Kucinski, optar pelo jornalismo não é apenas escolher uma carreira, mas se oferecer a uma causa, pois “ninguém precisa ser jornalista, só por ser. Se for pra escamotear a verdade, não seja”.

Sua afirmação vem de encontro às angústias de muitos iniciantes, ávidos por fazer de sua profissão um meio de promover a justiça social, mas que, ao ingressarem nos grandes veículos, encontram um cenário onde o exercício crítico é desestimulado, e a escalada na carreira se dá muito mais por uma maleabilidade, onde quem ‘abraça’ as posições da empresa, muitas vezes delineadas por interesses escusos, é promovido. “Há uma promiscuidade, uma defesa nos interesses próprios que não condiz com o exercício do jornalismo. Os ‘cães de guarda’ defendem o sistema; não se fala do que não é do interesse dos parceiros e, por isso, no noticiário econômico, imperam as entrevistas ligadas ao setor financeiro; não se conta tudo o que se sabe; usa-se uma linguagem truncada, feita para iniciados, muitas vezes escondendo o simples fato de que o jornalista não entendeu o que está dizendo”.

Por fim, Bernardo Kucinski, apesar de todos os percalços, se mostra otimista com o futuro, em especial com o advento das novas tecnologias, que baratearam os custos de produção dos veículos, revigorando a existência de uma imprensa alternativa. Maior liberdade demanda maiores responsabilidades, e é necessário ter ciência disso: “Ser correto com as fontes e com os leitores e evitar a ‘ética da malandragem’ geram credibilidade. Se você omite uma informação, é diretamente responsável pelas conseqüências de uma possível tragédia. É preciso assumir o que se escreve”.

Kucinski mostra a trilha para um bom jornalismo

Por: Renato Santino
nºUSP: 5902972



Na opinião de Bernardo Kucinski, as perspectivas atuais do jornalismo brasileiro são bastante preocupantes. Aposentado desde o fim de 2007, o ex-docente responsável pelas aulas de Jornalismo Econômico na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, originalmente graduado em Física, mas doutorado em Ciências da Comunicação, trabalhou em grandes veículos de comunicação brasileiros e estrangeiros e chegou ao posto de assessor de comunicação do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Em palestra ministrada aos estudantes de sua antiga disciplina, o ex-professor pôde debater sobre os rumos do jornalismo e apresentou um panorama crítico sobre o exercício da função nos dias atuais.

Durante a palestra, ministrada na última quinta-feira, dia 12 de junho, o conferencista criticou duramente a ausência de uma teoria do jornalismo autenticamente brasileira. Desta forma, o modelo jornalístico brasileiro acaba fatalmente atrelado aos manuais norte-americanos e europeus, o que acaba por descaracterizar o jornalista do nosso país, o qual é limitado por teorias que não se adequam à nossa realidade.

O autor do livro Jornalismo Econômico, publicado em 1996 pela Edusp, ainda comenta um problema recorrente quando se trata desta vertente do jornalismo que é abordado no livro supracitado, que é o do “economês”, linguagem formada por jargões, sobre os quais Kucinski afirma que são “uma maneira de esconder sua própria ignorância”. Ininteligível pela maioria da população, este rebuscamento acaba por afastar o leitor comum, que perde o interesse em um conteúdo importante para análise da situação de um país. Desta forma, o jornalismo econômico, feito pela elite, define um público-alvo: a própria elite.

Kucinski ainda explica a relação entre o byline (assinatura do autor da matéria) e a perpetuação dos padrões elitistas do jornalismo econômico. Para ele, há um grande esforço para se conseguir o byline, mas para alcançá-lo, é necessário seguir as regras dos grandes jornais. Como os "jornalões" possuem visões de mundo próximas, o jornalista se vê encurralado: ou segue as regras e consegue divulgar seu nome, ou as confronta e corre o risco de ver um triste "Da Redação" assinando sua matéria. Como alternativa a essa "sinuca de bico", Kucinski propõe que o jornalista inicie sua carreira na mídia alternativa, onde não haja a possibilidade de assinar seus textos.

Bernardo Kucinski ainda deu algumas dicas para os jovens jornalistas para que possam seguir uma carreira de sucesso. Para ele, o bom jornalista deve ser íntegro e, acima de tudo, deve respeitar sua fonte e seu leitor. Devido à escassez crescente destes valores no atual panorama do jornalismo, torna-se comum o receio da fonte conceder uma entrevista a qualquer jornalista, pois não há garantias do que ele fará com as informações que lhes serão passadas, visto que o mau uso dessas informações é bastante comum. Uma vez que se possui a confiança da fonte, o jornalista pode se aprofundar cada vez mais no assunto, o que não seria possível sem essa confiança.

Outra dica importante dada pelo jornalista aos seus futuros colegas de profissão foi a de “jamais criticar o trabalho de um colega”. Kucinski relata a importância das “panelinhas” para uma carreira bem sucedida. Para tal, o bom relacionamento com todos os seus companheiros de trabalho é importante, mas é ainda mais importante estreitar os laços com algum grupo no qual o jornalista possa confiar e usar como apoio.

Jornalismo econômico é propaganda ideológica?

Camila Souza Ramos

Nº USP 59003354



A cobertura jornalística brasileira sobre a atual volta da inflação é uma mostra clara da função ideológica que o jornalismo econômico cumpre em nosso país. Segundo o jornalista Bernardo Kucinski, que lecionou aulas de Jornalismo Econômico na Escola de Comunicações e Artes (ECA) até o ano passado, estão sendo escamoteadas informações cruciais sobre esta crise.

“Uma inflação pode ser de custos ou de demanda”, explica Kucinski durante palestra na ECA. A atual inflação, segundo ele, é de custos, porque o que está condicionando a alta dos preços é o aumento do custo das matérias-primas. “Isso representa um confisco do dinheiro do povo”, afirma o ex-professor. “Logo, não se pode tomar outras medidas de confisco, porque esta inflação já está contendo a demanda”, acrescenta. A lógica, portanto, de defender a elevação dos juros como forma de conter a inflação é um remédio para outro tipo de inflação, a de alta de demanda, mas não para esta. Segundo Kucinski, há dois tipos de inflação, com dois tipos de remédio totalmente diferentes. “Mas não se discute isso no jornalismo”, pontua o jornalista.

Para ele, esta omissão na cobertura é intencional e serve aos interesses dos bancos. O grande problema, segundo Kucinski, é a forma como é produzida a notícia da área econômica. “Há uma promiscuidade grande entre jornalistas e fontes, que geralmente são apenas pessoas ligadas a consultorias financeiras ou ex-presidentes do Banco Central”. Tendo em mãos sempre as mesmas fontes, a produção de conteúdo torna-se viciada e análises mais profundas sobre o vai-e-vem da economia são dificultadas.

Byline e dependência

A univocidade do jornalismo econômico praticado no Brasil tem também outras causas. Segundo o ex-professor, nesta área “luta-se muito para conseguir o byline”, que é o direito do jornalista de assinar sua matéria. Para conseguir o byline, afirma Kucinski, “o jornalista deve se alinhar ao jornal”. E, uma vez que os grandes jornais têm o mesmo alinhamento político, o jornalista se vê se opção para atuar fora da voz dominante.

Para manter-se no mercado de trabalho, hoje altamente competitivo, o profissional não apenas submete-se a constantes interferências dos editores nas matérias produzidas, como acaba incorporando os mecanismos de censura de seus chefes no próprio ato de apurar e escrever sua matéria. “O jornalista não conta tudo o que sabe. A censura está introjetada e faz parte do ethos dele”, lamenta o ex-professor.

“Esta característica é típica de sistemas autoritários”, afirma o jornalista. Em sua visão, o jornalismo brasileiro opera com uma ideologia importada, a do neoliberalismo, assim como foi o modelo de democracia que seguimos. Segundo Kucinski, esta postura é adotada por todas as redações porque “há um domínio do capital financeiro sobre o jornalismo econômico”. Ele ainda ressalta o peso que o capital externo exerce sobre a economia, e, desta forma, também sobre o que é veiculado sobre ela. “Somos uma espécie de ‘terreno de engorda’ do capital estrangeiro (...), o que torna a economia mais dependente ainda”.

Otimismo

Sua visão sobre o futuro, no entanto, não é tão pessimista. “Está havendo um notável florescimento de outras imprensas escritas”, diz Kucinski, “e me parece que há um revigoramento da imprensa alternativa”. Para ele, somente fora das grandes redações é possível o jornalista desenvolver um trabalho mais livre, sem se prender às mesmas fontes ou limitar a informação a ser veiculada. Ele diz acreditar que a internet possa ser um espaço mais democrático e uma possibilidade de “mostrar que sua voz ainda é diferente”.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

“Jornalismo: profissão especial, cativante”

Por: Patricia Golini
nºUSP: 5970051


Na última quinta-feira, dia 12 de junho de 2008, o jornalista e professor Bernardo Kucinsky conversou com os estudantes da disciplina Fundamentos de Economia, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Durante esse bate-papo, como ele mesmo denominou sua palestra, Kucinsky abordou não apenas a economia mundial – foco do curso, mas também a cobertura jornalística feita pelos grandes veículos, a mídia alternativa e ainda, deu dicas aos estudantes de como proceder perante um mercado de trabalho tão competitivo

O professor iniciou sua palestra falando brevemente sobre o momento vivido pela economia mundial. Segundo Kucinsky, a economia dependente é a grande vilã dos países em desenvolvimento. Aqui “o capital chega pequeno, é engordado, como um bezerro”, depois que os investidores já conseguiram o sucesso financeiro almejado, eles retiram os investimentos do país. A economia dos países mais pobres, dessa forma, é prejudicada, pois dificilmente, alcança um momento de estabilidade.

Kucinsky, autor do livro Jornalismo Econômico, comentou que os jornalistas desta área não escrevem para o povo. Os jornais especializados se isolam em uma linguagem demasiadamente abstrata para grande parte da população. Assim, os profissionais do jornalismo econômico parecem esquecer a importância que essa área tem na vida das pessoas. Ela é tão importante quanto os outros assuntos abordados nos veículos de comunicação, porém permanece inatingível em seus jargões, caracterizando-se como algo que beira a simples ideologia dos veículos de comunicação não tendo o povo como principal alvo das publicações.

Ao ser questionado sobre o possível fim de algumas mídias, como o jornal impresso, Bernardo Kucinsky afirmou que essa é “uma previsão muito arriscada, impossível de ser feita”. É fato que diante do avanço das tecnologias, os jornalistas tenham perdido a exclusividade do direito de falar ao grande público, milhares de pessoas manifestam suas opiniões em blogs. Dessa forma, o mercado e o próprio povo exigem que os meios de comunicação se modifiquem para melhor suprir as necessidades da sociedade.

Bernardo Kucinsky, ao fazer uma breve análise sobre o jornalismo atual, afirmou que no Brasil, alguns profissionais detêm informações de extrema relevância, porém, eles não as publicam, pois temem punição por parte dos veículos em que trabalham ou complicações diante de possíveis processos. Contudo, em países como os Estados Unidos, onde a imprensa é mais liberal e madura, essas informações são reveladas de forma aberta, tal que há o compromisso com a busca da verdade.

Ainda completou o tema dizendo que as empresas de comunicação estabelecem com os jornalistas uma “relação predatória”, na qual o jornalista é usado durante o tempo que convier à empresa. Os veículos de comunicação não valorizam necessariamente as opiniões do profissional, mas sim, a capacidade de disseminar a informação de forma clara, sem manifestar suas idéias ou impor suas ideologias aos leitores.

Ao dar conselhos aos jovens estudantes de jornalismo, o professor disse que “os grandes veículos impressos tiram a autoria do jornalista”. Assim, muitos profissionais só alcançam o reconhecimento dos jornais com anos de experiência no mercado de trabalho, e tantas vezes passam a assinar suas matérias após anos de prestação de serviços a determinadas empresas. Mesmo assim, os jornalistas devem usar o “trabalho para aprender”, dedicando-se ao máximo a cada assunto, tornando-se, a partir daí, um especialista a cada texto escrito, pois “jornalismo é uma profissão especial, cativante” que exige muito de cada um nós.

Kucinski passa experiência a novos jornalistas


O jornalista e ex-professor da USP fala sobre as perspectivas para a atuação de futuros colegas de profissão

Por Bruna Escaleira (Nº USP: 5903778)

“No jornalismo, você nunca é responsável por dizer a verdade, mas é responsável por suas omissões, pois sua função é revelar”, aponta Bernardo Kucinski a estudantes de jornalismo da Universidade de São Paulo. Aposentado ao final de 2007, após ministrar a disciplina “Jornalismo Econômico” desde 1996, o profissional voltou à sala de aula, na noite da última quinta-feira (12), como conferencista convidado.

Sua experiência em meios de comunicação nacionais (como Veja, Gazeta Mercantil e os jornais alternativos Opinião, Movimento e Em Tempo) e estrangeiros (como o jornal The Guardian e a rede de televisão BBC), além de sua participação em publicações alternativas atuais (como a revista eletrônica Carta Maior), lhe permite propor perspectivas para o futuro. Para o ex-professor, o novo profissional da comunicação deve estar atento às possibilidades de atuação na “imprensa alternativa”, uma vez que os grandes jornais “estão cada vez mais autoritários”, com estruturas hierárquicas mais rígidas.

Kucinski aconselha os estudantes a “não se afligirem por começar (carreira) em grandes jornais; começar onde se tem mais liberdade” e possibilidade de assinar matérias, “o que também cria mais responsabilidade”. Para ele, um dos campos atualmente mais abertos ao desenvolvimento de jornalistas é o trabalho com Organizações Não Governamentais.

No entanto, independente da área de atuação, o jornalista deve sempre “ser correto com as fontes e os leitores”, pois isso cria “a longo prazo, uma credibilidade que o destaca”. Kucinski defende que “qualidade e uso ético” da informação são indispensáveis no atual cenário de perda do “monopólio da informação” pelos jornalistas, devido à disseminação de novas tecnologias.

O autor de “Jornalismo na era virtual - ensaios sobre o colapso da razão ética” (São Paulo: Fundação Perseu Abramo; UNESP, 2005), ressaltou que a Internet é “uma mídia revolucionária e libertária, que gera grande interlocução com os leitores”, pois estes podem expor seus comentários com mais facilidade do que na mídia impressa. Isto também é importante para o jornalista, que recebe respostas mais imediatas, diretamente do público.

Sobre o jornalismo econômico, destacado pelos estudantes como nicho no qual enfrentam maiores dificuldades, sobretudo, em relação à linguagem, Kucinski comenta: “boa parte do jargão (usado no jornalismo de economia) é uma maneira de (o jornalista) esconder sua própria ignorância”. “A linguagem simples é vista como vulgar, mas não é necessariamente assim; é preciso explicar novos conceitos”, até que se tornem familiares para o público, expôs.

“Muitos de nós só começamos a entender, de verdade, as matérias de economia quando passamos pelo curso (de jornalismo econômico), quando nos foram introduzidos alguns conceitos; mas como passar isso para os leitores ‘não iniciados’?”, questionaram alguns alunos presentes.

“O ponto de partida para escrever de forma inteligível e acessível é entender o processo” econômico do qual se está tratando, continuou Kucinski, que critica o jornalismo “tangencial” ou superficial. Segundo ele, o jornalista precisa aproveitar a oportunidade de “mergulhar no tema de cada matéria”, o que sempre enriqueceu e enriquecerá o trabalho do comunicador social em qualquer época.

Uma visão realista da profissão para futuros jornalistas

Por Renato Rostás (nº USP 5903191)

Para Bernardo Kucinski, o jornalismo brasileiro e seu profissional encontram-se em uma crise. Ex-professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, hoje aposentado, Kucinski possui graduação em Física, mas ministrava aulas de Jornalismo Econômico. Trabalhou na área tanto no exterior quanto em publicações nacionais e chegou até a ser assessor de comunicação do presidente Lula. Em palestra para os alunos de 3° semestre de Jornalismo da ECA, o jornalista procurou expor os pontos sobre a carreira que atualmente o deixam descontente e o que afeta negativamente a vertente econômica do jornalismo.

Durante a palestra, realizada na última quinta-feira, 12, Bernardo Kucinski enfatizou a falta de uma teoria do jornalismo própria do nosso país. Segundo ele, nos contentamos em importar teorias dos manuais jornalísticos da Europa ou dos Estados Unidos. Assim, jornalistas são feitos reféns das posições tomadas sobre a profissão no exterior e, o que é pior, não é estabelecido um padrão de comportamento.

Apesar de criticar essa situação, Kucinski elogia algumas atitudes que os profissionais do jornalismo tomam no exterior e que, segundo ele, seria bom se copiássemos essas posições em determinadas situações. Por exemplo, o jornalista costuma ter o compromisso com a verdade nos EUA, quão dura ela possa ser. Enquanto no Brasil algumas informações mais "picantes" – segundo o próprio Kucinski – acabam sendo deixadas de fora, elas só engrandecem o furo para os norte-americanos, que muitas vezes procuram esses detalhes mais comprometedores. Para piorar a situação, o que acaba determinando se a informação é comprometedora o suficiente ou não é a própria moral do jornalista que a apurou, o que, obviamente, varia muito de acordo com a vivência de cada um. Portanto, essa auto-censura baseada em fatores muito subjetivos acaba prejudicando o jornalismo no Brasil.

Ao mesmo tempo que falou sobre a falta de uma teoria brasileira própria do jornalismo, Kucinski deu um enfoque grande na palestra para o autoritarismo presente atualmente nas redações. Isso é representado de várias maneiras, seja na insistência dos editores em vasculhar os textos jornalísticos a fim de canetá-los – uma matéria perfeita seria impossível –, seja no fato de os chefes exigirem uma posição favorável de seus empregados para que consigam algum destaque na redação. Para ele, o grupo seleto dos que têm voz ativa nos jornais a conquistou sendo condescendente com o sistema; você é premiado quando escreve o que o sistema quer, da mesma foram que é punido quando escreve algo que o desagrade.

Falando especificamente sobre o jornalismo econômico, sua especialidade, o professor elencou os principais defeitos da área. Um, já citado em seu livro Jornalismo econômico (publicado originalmente em 1996, pela Edusp, com última revisão em 2007), é o da linguagem rebuscada que a seção de economia dos jornais costumam usar. Os jargões e a quantidade de números empregados mostram que os autores das matérias escrevem para um leitor já entendido do assunto, não admitindo aquele que está por fora do mundo econômico. Nas palavras de Kucinski, “os jornalões praticam um jornalismo fechado”, ou seja, é a elite escrevendo para a elite.

Por fim, o jornalista condenou, ainda, o fato de hoje o jornalismo econômico como um todo, nos grandes jornais, ser pautado pelo capital financeiro. Ele afirma haver uma grande promiscuidade entre os profissionais do jornalismo e do mercado financeiro, acarretando em uma cobertura passiva e condescendente com as medidas governamentais que favorecem o mercado. Essas medidas que favorecem o mercado e a passividade da grande imprensa – Kucinski usou o termo “jornalões – fazem com que o Brasil torne-se um “terreno de engorda do capital financeiro”, segundo o professor, um local intermediário em que os investimentos sejam feitos em curto prazo e contem com lucro certo.

O jornalismo na visão de Bernardo Kucinsky

Por Priscilla Sobral (N° USP - 5903830)
No dia 12 de Junho o professor Bernardo Kucinsky ministrou palestra para os alunos do segundo ano de jornalismo da ECA - USP. Na palestra, que fez parte do cronograma das aulas da matéria Fundamentos da Economia, ministrada pelo Prof. Cláudio Cerri, Kucinsky contou um pouco de sua experiência no jornalismo brasileiro e estrangeiro e abordou temas como a teoria do jornalismo, a economia brasileira e conseqüentemente o jornalismo econômico feito no Brasil, além de dar alguns conselhos aos jovens estudantes.
Inicialmente Kucinsky versou sobre as teorias do jornalismo, afirmando que o Brasil as importa e por isso elas não se adaptam a realidade brasileira. A teoria ideal para os jornalismo nacional seria, na opinião do palestrante, a de um jornalismo em sistemas autoritários. Atreladas a tal sistema surgem conseqüências como a ética defensiva, termo para designar o cuidado que o jornalista tem que ter com seus arquivos e fontes, arquivando-os sempre, com o objetivo de manter referências do que publicou.
O jornalismo econômico foi um ponto de destaque na conferência. Kucinsky apontou a importante diferença entre a inflação de custos, que o país enfrenta atualmente, e a inflação de demanda, salientando que tal divergência não é questionada pelos jornalistas, porque a inflação de custos interessa aos bancos. Esses, por sua vez, dominam o jornalismo econômico brasileiro, já viciado em entrevistar sempre os mesmos personagens, cuja principal função seria a de garantir de que a economia está bem ou, no máximo, ficará bem em breve. A questão dos jargões econômicos também foi abordada pelo professor, que disse serem os jargões usados por aqueles que não conhecem bem o assunto sobre o qual estão escrevendo.
Quanto a economia brasileira Kucinsky foi enfático ao afirmar que ela é “ O Terreno de engorda do capital financeiro”. As empresas produzem e lucram aqui, devido a mão de obra barata e aos juros altos, mas todas as decisões estratégicas são tomadas na sede da companhia, localizada, quase que sem exceções no exterior. Outro aspecto fundamental da economia nacional abordado por Kucinsky foi a desigualdade social, que chega a afetar os grandes jornais, como o Estado de São Paulo, e os jornais especializados, como o Valor Econômico, que falam somente para o setor burguês da população.
A inovação tecnológica foi abordada em diversos aspectos. O palestrante falou sobre o fenômeno da diminuição das redações e aumento de jornalistas especializados, sobre o florescimento de novos veículos devido ao fácil acesso a tecnologia e ao advento da Internet como uma mídia inovadora, capaz de proporcionar a interação autor-leitor de modo mais palpável. O desaparecimento da mídia escrita foi uma das questões respondidas pelo jornalista que diz ser muito cedo para definir algo acerca, mas que a mídia escrita não desapareceu com a chegada da televisão ou do rádio.
Uma parte significativa da palestra foi dedicada a dicas do professor aos futuros jornalistas. A primeira foi sobre a importância do byline, a assinatura do jornalista na matéria. Kucinsky destacou o byline como fundamental para que o jornalista seja, desde o inicio da carreira, responsável pelo que escreve. Em seguida falou-se sobre a importância do jornalista ser capaz de se impressionar com os fatos e se arriscar a escrever sobre tudo aquilo que ele considera importante e sobre o compromisso do jornalista com a verdade e as conseqüências que a publicação ou não dessa pode acarretar na vida tanto do jornalista quanto de seus personagens.
Ao fim da palestra, depois de responder algumas questões dos alunos, Kucinsky fez uma importante crítica feita aos jovens jornalistas: Eles perderam o respeito pelas pessoas, o que acarreta um aumento no número de casos de calúnia e difamação. Como resposta para esse desrespeito o jornalista disse que o jornalista tem grande poder, mas que todo grande poder traz uma grande responsabilidade.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O jornalismo atual, segundo Bernardo Kucinski

Por Adriana Nakamura (nUSP 5904251)

O Jornalista Bernardo Kucinski esteve na Escola de Comunicações e Artes da USP nesta última quinta-feira, 12 de junho, para palestrar aos alunos do terceiro semestre de Jornalismo. Kucinski discorreu sobre os problemas, os vícios e as deficiências do jornalismo atual, além de dar algumas orientações àqueles que pretendem seguir a carreira.

“Falta para nós, aqui no Brasil, uma teoria do jornalismo em sistemas autoritários”, foi o comentário que abriu a palestra. A análise girou em torno da contradição entre as teorias jornalísticas importadas dos Estados Unidos e da Europa e a realidade das redações brasileiras. Segundo Kucinski, os grandes veículos de comunicação daqui impõem autoritariamente suas ideologias sobre os redatores e é preciso batalhar muito para se conquistar o direito de assinar uma matéria e de ser reconhecido na profissão. Ele acredita que uma das saídas para driblar o autoritarismo das redações é adotando uma posição defensiva. É recomendável que o jornalista tenha seus próprios instrumentos, fontes e arquivos para que não dependa da empresa. Além disso, é interessante dar privilégio aos veículos menores, principalmente no início da carreira, pois nos grandes jornais não há espaço para desenvolver-se com liberdade.

Uma outra forma de defesa é a formação de panelinhas. “Aqui não existe aquela coisa de você ser chamado porque você é bom. Você é chamado porque você é daquela panelinha”, afirmou. Neste ambiente, que é muito mais competitivo hoje, é importante pertencer a um grupo para sobreviver na profissão. O palestrante deu ainda outras dicas aos universitários, como “nunca critiquem um colega de profissão” e “sejam sempre corretos com as fontes e com seus leitores”.

Durante a palestra, Kucinski fez uma crítica ao jornalismo cívico, alegando que a profissão exige um compromisso com a verdade, a qual não deve, em hipótese nenhuma, ser suprimida, administrada, omitida ou postergada, mesmo quando a revelação de uma notícia possa levar a uma tragédia, como ocorre em casos de seqüestro, por exemplo. “Você nunca é responsável por ter dito uma verdade, (...) mas se o fato de você dizer uma mentira levar a uma coisa desastrosa, você é co-responsável.”, declarou.

B. Kucinski ministrara aulas de Jornalismo Econômico na ECA até o ano passado, quando “foi aposentado à força, por idade”, como ele mesmo diz. O ex-professor, que também já ocupou o cargo de assessor de comunicações do presidente Lula, acredita que o jornalismo econômico não tenha no Brasil a mesma função que exerce em outros países. Nesta sociedade marcada pela polarização da renda, os jornais falam para um público restrito, os enfoques são aqueles desejados pelas elites e a abordagem obedece aos interesses dos bancos. A imprensa da economia brasileira é dominada pelo capital financeiro. Além disso, os jornalistas não são preparados satisfatoriamente para tratar dessa área, que é tão complexa. “Boa parte dos jargões que o pessoal usa, no fundo, é uma maneira de se proteger, de esconder a própria ignorância”, revelou.

Questionado sobre as mídias digitais, ele disse que a internet é “revolucionária, libertária e gera grande interlocução do leitor”, além de “um novo tipo de satisfação” no jornalista, na medida em que ele pode obter respostas imediatamente dos seus leitores. Por outro lado, o ex-professor declarou que é muito difícil prever o futuro do jornalismo frente aos avanços tecnológicos. “O jornalista perdeu o monopólio da informação; qualquer um pode falar”. Kucinski citou também os cinegrafistas amadores e classificou o processo como uma democratização dos meios informativos.

domingo, 15 de junho de 2008

Reportagem sobre a palestra de Bernardo Kuscinski

Os alunos devem cobrir o evento produzindo um texto jornalístico de 50 linhas, no máximo, com título de até 45 toques.

Pode ser uma reportagem da palestra ou uma entrevista com o conferencista, a escolher.

Os trabalhos individuais e assinados (sem esquecer o número USP), devem ser postados no blog da classe ("somos nozes") até o dia 19 de junho.

Será a terceira nota do curso, compondo com as provas a média sobre a qual incidirá até 0,5 ponto, referente à participação individual no Observatório da Crise.