sábado, 14 de junho de 2008

Bernando Kucinski discute jornalismo na ECA

Por Cristiane Sinatura (nUSP: 5904417)

“Não vale a pena ser jornalista só por ser”. Com essa frase, o ex-professor de Fundamentos de Economia da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Bernardo Kucinski, ilustrou o exercício jornalístico como deveria ser, em palestra ministrada aos alunos do terceiro semestre de Jornalismo da ECA

Segundo ele, o jornalismo no Brasil vive em um sistema autoritário, em que a grande censura é feita justamente pelos próprios jornalistas. “Eles sabem muito mais do que publicam”, explica Kucinski. “A culpa é, em parte, dos jornais brasileiros, que procuram profissionais não por suas idéias, mas unicamente para cumprir tarefas”.

Adentrando a área do jornalismo econômico, o professor, que já foi assessor de comunicação do presidente Lula, diz que a falta de abordagens mais profundas e pouco acessíveis ao público leigo se deve principalmente ao interesse dos bancos que, em um país pouco esclarecido, podem atuar com mais facilidade a favor de seus próprios lucros. “O que temos hoje é uma relação de promiscuidade entre o jornalismo econômico, principalmente aquele feito pela grande imprensa, e o capital financeiro”, expõe Kucinski. “O melhor trabalho atualmente é feito pelos veículos menores”.

Dessa maneira, o jornalismo econômico brasileiro, repleto do que Kucinski chama de “panelinhas” (grupos muito restritos de jornalistas, balisados por um interesse em comum) não exerce a mesma função que a imprensa estrangeira. “Ao invés de esclarecer, aqui os jornais fazem um jornalismo de elite para elite e levam o povo a crer que está tudo bem com a economia nacional”, acrescenta o professor, graduado em Física pela USP, especializado em Comunicação e autodidata em Economia.

Na palestra, o autor do livro “Jornalismo econômico” deu uma série de dicas para aqueles que desejam sobreviver no mercado sem se vender. “Vocês têm que ser muito bons. Para isso, estudem muito sobre todos os assuntos que abordarem, descubram as melhores fontes e mantenham a capacidade de se maravilhar e de se indignar com as coisas”.

Kucinscki também teceu críticas aos estudantes de jornalismo em geral, alegando que hoje a maioria já começa muito cínica, ou seja, desprovida de idealização. Com base em sua vivência na ECA, como professor do curso de Jornalismo, ele afirma que os erros começam já na faculdade. “Se você não faz alguma coisa que presta já no Jornal do Campus, dificilmente fará ao longo da carreira. O bom jornalismo começa na escola”.

Depois de quase um hora de palestra, Kucinski deu início a uma discussão com a classe, conduzida pelas perguntas dos alunos. Nesta segunda parte, o professor continuou a dar dicas como “não discuta com o editor” e “não critique seu colega”.

Perguntado sobre a contradição entre sua afirmação de que os jornais não procuram jornalistas por suas idéias e a crescente prática do jornalismo opinativo na imprensa atual, Kucinski esclarece que “quem pode opinar é uma 'panelinha' muito restrita e seleta, de profissionais já estabelecidos”.

Sobre a “profecia” que determina o fim do jornalismo impresso, Kucinski é enfático: “Os jornais nunca vão desaparecer. As revistas ilustradas, como Life e Manchete, sumiram quando a tevê começou a dominar o jornalismo, mas hoje esse segmento está reaparecendo”.

O professor também vê a internet com bons olhos. Para ele, se antes era o editor quem permitia grandes satisfações ao jornalista, ao conceder-lhe uma manchete de capa, hoje é o próprio leitor internauta que se encarrega disso. O jornalista pode perceber a repercussão de sua matéria tão logo a publica na internet, graças à relação interativa que se estabelece com o leitor, que agora pode comentar em tempo real.

Para encerrar, de volta à questão do jornalismo econômico, Kucinski afirmou que o jornalista dessa área, além de não se vender ao mercado, precisa entender melhor o próprio processo econômico para fazer um bom trabalho.

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