terça-feira, 22 de abril de 2008

BC inglês socorre bancos com US$ 100 bi

Folha de São Paulo - dia 22/04/08

Para aliviar crise de crédito, pacote permite que instituições financeiras troquem papéis hipotecários de alto risco por títulos públicos

Ajuda dos bancos centrais é alvo de críticas por envolver o chamado risco moral de salvar instituições que se arriscaram em excesso

DA REDAÇÃO

O Banco da Inglaterra anunciou um pacote no valor mínimo de US$ 100 bilhões (50 bilhões de libras) para socorrer o sistema financeiro britânico, em uma das intervenções mais diretas de um banco central para manter a confiança do mercado em meio à crise global de crédito. A instituição disse esperar que a injeção de recursos, a ser feita por uma operação de troca de ativos, possa aumentar a liquidez e aliviar as restrições no mercado de hipotecas, que tornaram mais caros os financiamentos imobiliários.
O pacote permite aos bancos trocarem títulos hipotecários de alto risco por títulos do governo, mais seguros e mais facilmente comercializáveis.
"Como os mercados para muitos papéis encontram-se fechados, os bancos possuem em seus balanços um "excesso" desses papéis, os quais não conseguem vender ou oferecer como garantia para levantar fundos", explicava nota divulgada pelo Banco da Inglaterra.
O presidente da instituição, Mervyn King, ressaltou que irá proceder com a operação mesmo que seja necessário dispor de mais de 50 bilhões de libras.
O plano recebeu o apoio do Tesouro britânico e da associação dos bancos, que o qualificou como "inovador" e "único".
Por outro lado, analistas disseram que, embora a medida possa produzir efeitos positivos no curto prazo, as restrições na troca de ativos poderão diminuir a demanda das instituições financeiras. Para se beneficiarem do pacote, os bancos terão de oferecer ao Banco da Inglaterra ativos de valor significativamente maior do que os títulos do governo.
"Isso não sanará os males já provocados à economia", afirmou Alan Clarke, economista do BNP Paribas. "Talvez consiga apenas impedir que as coisas fiquem ainda piores."
O plano anunciado ontem vem na seqüência de outras iniciativas do Banco da Inglaterra para enfrentar o impacto da crise de crédito. Desde dezembro, a instituição cortou a taxa de juros três vezes, de 5,75% para 5%, e forneceu liquidez de emergência para os bancos.
Em fevereiro, o governo do Reino Unido nacionalizou temporariamente o Northern Rock, a quinta maior instituição de financiamento do país, atingida pela crise bancária e alvo de uma corrida dos clientes às agências para saques.

Risco moral
No mês passado, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciou socorro semelhante aos bancos dos EUA, com leilões semanais para instituições financeiras de até US$ 200 bilhões em títulos do Tesouro, considerados os mais seguros do mundo. Em troca, o Fed passou a aceitar como garantia até os arriscados títulos lastreados em hipotecas "subprime" (para pessoas com histórico ruim de pagamento), a origem da crise financeira.
O socorro dado aos bancos privados é alvo de críticas de economistas sobre o que chamam de "moral hazard" (risco moral) dos bancos centrais de salvarem investidores e instituições que se arriscaram em excesso em busca de lucro.

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