quinta-feira, 15 de maio de 2008

Roda-mundo, roda-gigante.

- Resposta do Grupo Commodities às questões do Grupo China -
É interessante notar, no quadro globalizado e feroz da economia atual, como pontos aparentemente distantes se ligam de tal maneira que torna-se impossível entender um problema sem abarcar uma série de outros, o que faz de toda resposta mera conjectura.
A crise provocada pela bolha imobiliária estadunidense, onde deitava em berço esplêndido boa parte dos ativos financeiros, que agora assolam o mercado de commodities, é em boa parte responsável (parte, não todo, sejamos claros) pela inflação crescente na China, que agora se vê.
Simples assim: quem estava perdendo com os subprimes yakees, resolveu pegar seu dinheirinho – mesmo que imaginário – e investir em ativos reais. E lá estavam, belas e vistosas, as commodities, vendendo horrores por conta da alta demanda de países emergentes, tais como China e Índia. Muita gente, muita comida, e lá foram os senhores especuladores, moçoilos dados à esperteza, intermediarem as compras e vendas nos mercados futuros.
Aí, é a lógica: muita demanda, oferta menor, gente querendo lucrar. As commodities dispararam. O petróleo, esta semana, encostou os 126 dólares o barril, e pode chegar a 200 dólares, segundo especialistas.
Na China, os preços ao consumidor no país subiram 8,5% em abril, na comparação com abril de 2007. O índice superou o registrado em março, quando os preços ao consumidor tiveram alta de 8,3% (em fevereiro, o índice subiu 8,7%, maior em 12 anos). A alta dos alimentos responde por parte considerável desse resultado - os preços na categoria subiram 22,1% no mês passado. Além dos alimentos, outros itens vêm pressionando a inflação, como petróleo e metais. O Banco do Povo da China (BC chinês) vem adotando medidas como elevações de juros para controlar os preços e desaquecer a economia.
Mas...(e se há um...)
O yuan, moeda chinesa, está se valorizando frente ao dólar, depois de mais de uma década de câmbio estável. Isso tem acontecido mais por causa do dólar, que se desvalorizou frente às outras moedas, do que propriamente por políticas cambiais da China. Se estas continuarem resistindo às pressões de valorização do yuan, a inflação, que já passou de 6%, vai continuar aumentando.
O governo chinês deve manter o controle sobre a taxa de câmbio, permitindo uma valorização gradual em relação ao dólar. Com o yuan mantido desvalorizado em relação à moeda americana, os produtos chineses chegam aos mercados internacionais mais baratos que os americanos. O governo americano vem pressionando por uma maior flutuação da moeda chinesa.
O BC chinês estabeleceu uma margem de 0,5% na qual o yuan pode flutuar em relação ao dólar.
Moral da estória: é possível que as condições globais se tornem propícias, e permitam que a China ajuste o seu regime cambial sem prejudicar por demais o crescimento do PIB. Assim como existe um risco real de que um ajuste forçado tenha impacto negativo sobre o crescimento. Nessa segunda cena possível, segundo Michael Pettis, professor de Finanças da Universidade de Pequim, “Esse ajuste, de corte brusco do crescimento chinês e, com ele, da demanda chinesa por importações, poderá levar a uma queda repentina nos preços das commodities.”
Não à toa, já há quem enxergue na questão das commodities potencial para desencadear toda uma nova crise, tal qual a bolha imobiliária.
Pois que a ciranda começaria, tudo de novo.

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