quinta-feira, 19 de junho de 2008

Conselhos a um jovem jornalista

Em palestra a estudantes, o ex-professor Bernardo Kucinski falou dos desafios do jornalismo no país.


Por Bruno Benevides (nº USP: 5903969)


O ex-professor da Universidade de São Paulo (USP) Bernardo Kucinski destacou a importância da honestidade no jornalismo e mostrou as dificuldades para um profissional defender suas idéias. Em palestra intitulada “Jornalismo em sistemas autoritários”, dada para alunos do curso de jornalismo da USP, ele destacou que no Brasil um repórter costuma receber pressão de diferentes grupos, mas que a tarefa dele é divulgar as informações.
Para Kucinski o que caracteriza o Brasil como um sistema autoritário é a nossa economia dependente do exterior, uma vez que os centros de decisão das empresas não estão aqui. Ele diz ainda que o país serve como “terreiro de engorda do capital estrangeiro”, de modo que investidores internacionais ganham dinheiro e depois vão embora, sem deixar qualquer legado.
Esta estrutura, ainda segundo ele, traz dificuldades ao jornalista, principalmente o de economia, pois o capital financeiro acaba exercendo grande pressão para que a mídia não trate de assuntos potencialmente desagradáveis para os investidores. Isto geraria um conflito, pois a tarefa do repórter é revelar informações, ao mesmo tempo que é pressionado para escondê-las. Para Kucinski muitos profissionais acabam fazendo uma “auto-censura”, o que significa que ter cuidados excessivos ao fazer as matérias, segurando informações que poderiam causar problemas para algumas pessoas ou grupos.
O resultado de tudo isso acaba refletido na grande imprensa, defende Kucinski. Ela estaria repetitiva e autoritária, desrespeitando os leitores. Ele acusa esta, também, de fazer uma “ficção sobre o real”, de tratar apenas da elite, dela mesma e esquecer o mundo real. Para ele a função do jornalista deveria ser persuadir a população para o debate, municiando-a com informações.
Kucinski, que já trabalhou em veículos como Veja e The Guardian e se aposentou da USP no ano passado, criticou ainda a falta de uma teoria jornalística nacional. O jornalismo brasileiro se basearia em teses estrangeiras que são inadequadas à nossa realidade. Isso porque essas teses vêm de países que não são dependentes, o que muda completamente a estrutura social e de poder. “(Os veículos de comunicação) não querem você por suas idéias, querem você para fazer uma tarefa”, diz ele, completando que “quem tem as idéias é o editor, o dono”. Em outros países não dependentes, como os EUA e as potências européias, o jornalista seria contratado exatamente a partir de suas idéias e convicções. Apesar de todas as críticas que fez, Kucinski vê algumas saídas no jornalismo. O mais importante é “não ficar obcecado pela grande imprensa”, tentando assim achar seu espaço. Para ele o florescimento de outras modalidades, como a Internet e as revistas de nichos específicos, é um bom caminho. Destaca ainda que é importante ser correto e ético tanto com as fontes quanto com os leitores, finalizando que o jornalista deve “tanto se maravilhar quanto se indignar com o que vê”.

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