[Por Vanessa Maeji]
Aprender a ser dentro de suas possibilidades. É em torno disso que o jornalista Bernardo Kucinski apresentou sua palestra, no último dia 12, para os alunos de jornalismo da ECA-USP. Kucinski, que até ano passado dava aulas no curso, pôde ter um contato além da relação autor-leitor com os estudantes, já que um livro de sua autoria, Jornalismo Econômico, foi texto-base para uma das disciplinas de graduação. Talvez por seu saber econômico já ser, teoricamente, conhecido pelos alunos que o foco não tenha sido a economia em si e centrou-se mais no fazer jornalístico.
Como não podia faltar, Bernardo Kucinski deu algumas dicas práticas sobre a profissão, como evitar críticas a colegas, da necessidade de fazer parte de grupos, fora dos quais “é difícil sobreviver”, e a ser correto com fontes e com o que se escreve – em outras palavras, abusar do “fair play”.
No entanto, saber lidar com as próprias etapas, para Kucinski, é essencial no jornalismo. Ele lamentou haver o jovem protótipo de jornalista que já possui um ceticismo tamanho frente ao que faz. “Ninguém precisa ser jornalista”, afirmou. Mas declarou que este profissional deve ter a “dupla capacidade de se maravilhar e se indignar”. Ele acredita que o melhor caminho talvez seja começar a profissão em veículos que permitem maior liberdade e que, assim, o jornalista possa se lapidar e aprofundar seus aprendizados sem se preocupar em seguir as regras da casa, antes de sofrer o que Kucinski considera uma espécie de “domesticação”.
E esta posição de humildade em aceitar seus próprios desconhecimentos (e que, em verdade, tem um fundo egocêntrico), remete ao papel do jornalismo econômico do Brasil no cenário mundial. O professor ressaltou a inexistência deste tipo de jornalismo brasileiro, pois afirmou ser “de fora e fora de contexto” o que se conhece sob o nome de “jornalismo econômico”. É um processo similar ao que acontece com países periféricos quando se adquire o hábito sem haver produção – o que pode ser prejudicial. O professor acredita que tentar se inserir na economia sem, de fato, conhecer do que se é capaz pode se tornar um empecilho. O Brasil, por exemplo, não deve ter a mesma dinâmica nas teorias econômicas daquela de países centrais – apesar de ser afetado por elas –, pois sua economia tem características diferentes.
Saber que o subdesenvolvimento não é um estágio do desenvolvimento e que um país não necessariamente avança para o último pode ser importante para se posicionar na economia global – dentro do que o país pode ser. Aceitar o aprendizado e tempo das etapas e ter consciência que elas não farão com que se torne um país central podem ser fator decisivo na constituição de uma teoria da economia propriamente brasileira. Dessa mesma forma, ter noção de que seja muito provável que não se alcance veículos maiores não diminui a importância de ter um by line, uma autoria e responsabilidade naquilo que se faz.
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