Ugo Pozo (Nº USP: 4903258)
O jargão econômico seria uma forma de esconder a ignorância dos atuais jornalistas da área de economia, de acordo com Bernardo Kucinski. O veterano jornalista econômico, ex-professor e ex-assessor de comunicação do presidente Lula esteve na Escola de Comunicações e Artes, na Universidade de São Paulo, e, em palestra ministrada no dia 12 de junho, fez duras críticas à forma como o jornalismo é conduzido atualmente no país.
Para Kucinski, boa parte dos jornalistas da área econômica atualmente não possuem compreensão plena dos processos que noticiam. Isso os levaria a se apoiarem no denso jargão econômico para tratar de assuntos que não são capazes de explicar de uma forma clara.
O jornalista, porém, é contra a simplificação exagerada. “Não se deve diminuir o nível de complexidade dos processos, e sim utilizar uma linguagem simples para explicar processos complexos”, afirma. Como exemplo, Kucinski citou uma série de matérias que realizou para a Gazeta Mercantil, durante o segundo choque do petróleo, em que traduzia em termos claros o desenrolar da crise.
“Espião do Mossad”
Kucinski também fez comentários a respeito de sua reportagem considerada mais polêmica: o caso do urânio que o Brasil vendeu ao Iraque, em 1981. “Como isso foi logo depois de Israel ter bombardeado o Iraque, no dia seguinte, os outros jornais, que não tinham condições de ir contra o poder instituído, saíram publicando que eu era um ‘espião do Mossad’ [serviço secreto israelense].”
Entretanto, Kucinski, que é graduado em física, tinha acesso a círculos de físicos brasileiros, em que a venda era tratada até mesmo com naturalidade. “O Estadão não quis se envolver diretamente comigo, mas me ajudou porque veio aqui no IPEN [Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares], de onde saíam os caminhões carregados de urânio, e fez uma matéria completa, irrefutável”.
O fim do “monopólio da mediação” do jornalista
Outro tema abordado por Kucinski foi o surgimento de novas mídias e as conseqüências para o jornalismo impresso. Categórico, cravou que “o jornalismo escrito não vai morrer”, mas que o jornalista teria perdido o “monopólio da mediação da informação”.
“Há alguns anos atrás, a [Rede] Globo [de Televisão] tinha em seu cadastro cerca de 20 mil cinegrafistas amadores. Hoje, [com a popularização da Internet e das câmeras digitais], quantos não devem ser?”, conjecturou.
Para ele, a Internet é revolucionária e libertária, e traria a democratização para a área da comunicação. “Antes, o jornalista esperava pelo retorno de seus pares, como um editor que colocasse sua matéria na capa. Hoje, o retorno vem direto do leitor”, exemplificou.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
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