terça-feira, 17 de junho de 2008

O jornalismo atual, segundo Bernardo Kucinski

Por Adriana Nakamura (nUSP 5904251)

O Jornalista Bernardo Kucinski esteve na Escola de Comunicações e Artes da USP nesta última quinta-feira, 12 de junho, para palestrar aos alunos do terceiro semestre de Jornalismo. Kucinski discorreu sobre os problemas, os vícios e as deficiências do jornalismo atual, além de dar algumas orientações àqueles que pretendem seguir a carreira.

“Falta para nós, aqui no Brasil, uma teoria do jornalismo em sistemas autoritários”, foi o comentário que abriu a palestra. A análise girou em torno da contradição entre as teorias jornalísticas importadas dos Estados Unidos e da Europa e a realidade das redações brasileiras. Segundo Kucinski, os grandes veículos de comunicação daqui impõem autoritariamente suas ideologias sobre os redatores e é preciso batalhar muito para se conquistar o direito de assinar uma matéria e de ser reconhecido na profissão. Ele acredita que uma das saídas para driblar o autoritarismo das redações é adotando uma posição defensiva. É recomendável que o jornalista tenha seus próprios instrumentos, fontes e arquivos para que não dependa da empresa. Além disso, é interessante dar privilégio aos veículos menores, principalmente no início da carreira, pois nos grandes jornais não há espaço para desenvolver-se com liberdade.

Uma outra forma de defesa é a formação de panelinhas. “Aqui não existe aquela coisa de você ser chamado porque você é bom. Você é chamado porque você é daquela panelinha”, afirmou. Neste ambiente, que é muito mais competitivo hoje, é importante pertencer a um grupo para sobreviver na profissão. O palestrante deu ainda outras dicas aos universitários, como “nunca critiquem um colega de profissão” e “sejam sempre corretos com as fontes e com seus leitores”.

Durante a palestra, Kucinski fez uma crítica ao jornalismo cívico, alegando que a profissão exige um compromisso com a verdade, a qual não deve, em hipótese nenhuma, ser suprimida, administrada, omitida ou postergada, mesmo quando a revelação de uma notícia possa levar a uma tragédia, como ocorre em casos de seqüestro, por exemplo. “Você nunca é responsável por ter dito uma verdade, (...) mas se o fato de você dizer uma mentira levar a uma coisa desastrosa, você é co-responsável.”, declarou.

B. Kucinski ministrara aulas de Jornalismo Econômico na ECA até o ano passado, quando “foi aposentado à força, por idade”, como ele mesmo diz. O ex-professor, que também já ocupou o cargo de assessor de comunicações do presidente Lula, acredita que o jornalismo econômico não tenha no Brasil a mesma função que exerce em outros países. Nesta sociedade marcada pela polarização da renda, os jornais falam para um público restrito, os enfoques são aqueles desejados pelas elites e a abordagem obedece aos interesses dos bancos. A imprensa da economia brasileira é dominada pelo capital financeiro. Além disso, os jornalistas não são preparados satisfatoriamente para tratar dessa área, que é tão complexa. “Boa parte dos jargões que o pessoal usa, no fundo, é uma maneira de se proteger, de esconder a própria ignorância”, revelou.

Questionado sobre as mídias digitais, ele disse que a internet é “revolucionária, libertária e gera grande interlocução do leitor”, além de “um novo tipo de satisfação” no jornalista, na medida em que ele pode obter respostas imediatamente dos seus leitores. Por outro lado, o ex-professor declarou que é muito difícil prever o futuro do jornalismo frente aos avanços tecnológicos. “O jornalista perdeu o monopólio da informação; qualquer um pode falar”. Kucinski citou também os cinegrafistas amadores e classificou o processo como uma democratização dos meios informativos.

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