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Bernardo Kucinski critica a grande mídia e dá conselhos sobre a profissão do jornalista
Nessa última quinta-feira, dia 12 de Junho, Bernardo Kucinski, jornalista e ex-professor da USP, ministrou uma palestra aos estudantes de jornalismo da ECA. O tema partiu de economia e seguiu analisando a profissão do jornalista, com conselhos e dicas aos futuros profissionais. Kucinski começou sua palestra destacando a desigualdade social em que vivemos e como isso influencia no jornalismo. “Se vocês trabalham nos jornalões,” disse o professor, “ (...) estão escrevendo em um jornal que fala do próprio umbigo. Estão falando de uma elite para uma elite, não tem nada a ver com o povo”. Isso influencia não apenas o foco e os temas a serem tratados nos jornais mas também o que não deve ser falado. “Nesses últimos 10 anos, há um domínio muito notável e impressionante do capital financeiro sobre o jornalismo econômico. Ele praticamente pauta os jornais.”, diz Kucinski, e como exemplo disso citou o atual retorno na inflação.
Embora seja normal sempre haver uma inflação de fundo, atualmente ela vem subindo e atingindo outras faixas. Apesar de todos os jornalistas entenderem muito bem a situação, estão omitindo deliberadamente o fato da atual crise de preços ser resultado de uma inflação de custo, e não de demanda. “Essa distinção é importante porque elas exigem remédios totalmente diferentes.”, frisa Kucinski. Uma inflação de custo se dá quando o preço sobe devido a um aumento no custo de produção. Isso representa um confisco de dinheiro público, pois não podemos deixar de consumir certos produtos, e acabamos pagando mais, mesmo com o preço elevado. Nesse caso, não se deve tomar medidas de confisco, pois a situação em si já derruba a demanda e já acarreta em menos dinheiro para a população gastar em outros bens. Já uma inflação de demanda se dá quando as pessoas estão comprando demais e não há oferta suficiente. Aí sim, é necessário impor um imposto, diminuir salários ou aumentar as taxas de juros para que as pessoas tenham de pagar mais pelos bens e, conseqüentemente, diminuir a demanda. É uma solução completamente oposta da necessária para uma inflação de custo.
Isso porém, não é mencionado nos jornais e não está em discussão. O motivo é o interesse dos bancos em aproveitar a inflação para elevar as taxas, mantendo a ignorância da população sobre o fato de que essa inflação de custo não se revolve com o aumento de juros. “Os juros iam caindo, (...) as pessoas estavam indo para a poupança. Então eles aproveitaram a crise para retomar o estado de juros absurdamente altos.” Por conta disso, nenhum jornal publica nem discute o tipo de crise e inflação que estamos passando. Essa podagem do que se pode ou não escrever, porém, depende do veículo onde se trabalha. Segundo o palestrante, vivemos uma contradição no jornalismo: enquanto os grandes jornais estão cada vez mais autoritários e jornalistas são demitidos por não quererem seguir as rédeas da empresa, está havendo um grande crescimento de outras modalidades de imprensa escrita e novos mercados para se escrever. “É muito importante não ficar obcecado (para trabalhar) na grande imprensa”, sugere Kucinski. E aconselha que o ideal é começar por veículos que são menos usados na luta ideológica, onde há mais liberdade para se desenvolver como jornalista, para “só depois enfrentar a barra pesada na telinha da Globo, na Folha, na Veja, e nesses lugares que são realmente massacrantes”.
Para Bernardo Kucinski, o bom jornalista é aquele que se aprofunda o máximo nos assuntos que vai tratar e é honesto com a fonte e com o leitor. Além disso, é bom procurar pertencer a grupos de influência e evitar criticar colegas de profissão. O professor também elogiou a profissão e definiu o profissional do jornalismo com paixão: “O jornalista tem que ter a dupla capacidade de se maravilhar e se indignar com as coisas”.
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