quarta-feira, 18 de junho de 2008

Kucinski passa experiência a novos jornalistas


O jornalista e ex-professor da USP fala sobre as perspectivas para a atuação de futuros colegas de profissão

Por Bruna Escaleira (Nº USP: 5903778)

“No jornalismo, você nunca é responsável por dizer a verdade, mas é responsável por suas omissões, pois sua função é revelar”, aponta Bernardo Kucinski a estudantes de jornalismo da Universidade de São Paulo. Aposentado ao final de 2007, após ministrar a disciplina “Jornalismo Econômico” desde 1996, o profissional voltou à sala de aula, na noite da última quinta-feira (12), como conferencista convidado.

Sua experiência em meios de comunicação nacionais (como Veja, Gazeta Mercantil e os jornais alternativos Opinião, Movimento e Em Tempo) e estrangeiros (como o jornal The Guardian e a rede de televisão BBC), além de sua participação em publicações alternativas atuais (como a revista eletrônica Carta Maior), lhe permite propor perspectivas para o futuro. Para o ex-professor, o novo profissional da comunicação deve estar atento às possibilidades de atuação na “imprensa alternativa”, uma vez que os grandes jornais “estão cada vez mais autoritários”, com estruturas hierárquicas mais rígidas.

Kucinski aconselha os estudantes a “não se afligirem por começar (carreira) em grandes jornais; começar onde se tem mais liberdade” e possibilidade de assinar matérias, “o que também cria mais responsabilidade”. Para ele, um dos campos atualmente mais abertos ao desenvolvimento de jornalistas é o trabalho com Organizações Não Governamentais.

No entanto, independente da área de atuação, o jornalista deve sempre “ser correto com as fontes e os leitores”, pois isso cria “a longo prazo, uma credibilidade que o destaca”. Kucinski defende que “qualidade e uso ético” da informação são indispensáveis no atual cenário de perda do “monopólio da informação” pelos jornalistas, devido à disseminação de novas tecnologias.

O autor de “Jornalismo na era virtual - ensaios sobre o colapso da razão ética” (São Paulo: Fundação Perseu Abramo; UNESP, 2005), ressaltou que a Internet é “uma mídia revolucionária e libertária, que gera grande interlocução com os leitores”, pois estes podem expor seus comentários com mais facilidade do que na mídia impressa. Isto também é importante para o jornalista, que recebe respostas mais imediatas, diretamente do público.

Sobre o jornalismo econômico, destacado pelos estudantes como nicho no qual enfrentam maiores dificuldades, sobretudo, em relação à linguagem, Kucinski comenta: “boa parte do jargão (usado no jornalismo de economia) é uma maneira de (o jornalista) esconder sua própria ignorância”. “A linguagem simples é vista como vulgar, mas não é necessariamente assim; é preciso explicar novos conceitos”, até que se tornem familiares para o público, expôs.

“Muitos de nós só começamos a entender, de verdade, as matérias de economia quando passamos pelo curso (de jornalismo econômico), quando nos foram introduzidos alguns conceitos; mas como passar isso para os leitores ‘não iniciados’?”, questionaram alguns alunos presentes.

“O ponto de partida para escrever de forma inteligível e acessível é entender o processo” econômico do qual se está tratando, continuou Kucinski, que critica o jornalismo “tangencial” ou superficial. Segundo ele, o jornalista precisa aproveitar a oportunidade de “mergulhar no tema de cada matéria”, o que sempre enriqueceu e enriquecerá o trabalho do comunicador social em qualquer época.

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