Por Pedro José Sibahi
O jornalista e cientista político, ex assessor da Presidência e antigo militante estudantil, Bernardo Kucinski, esteve no último dia 12 na Universidade de São Paulo, em palestra para alunos.
Falando em tom um tanto amargado pela vida, mas jamais arrependido pelo caminho escolhido, Bernardo falou de sua experiência profissional na imprensa e na academia, deu opiniões e conselhos, fez críticas quanto à cobertura na atualidade e comentários sobre suas perspectivas para o futuro do jornal.
De início ele apontou a necessidade de se desenvolver uma teoria do jornalismo que condissesse com as características do nosso país. Kucinski definiu o Brasil - assim como outros países em desenvolvimento - como imerso em um regime autoritário, assim, o jornalismo também necessitaria de uma “Teoria do jornalismo em sistemas autoritários”. Essa construção se faz importante pois nossa realidade não condiz com a dos países desenvolvidos, nos quais as noções de democracia e liberdade são mais desenvolvidas, assim como as forças políticas são diferentes. Fazendo uma comparação entre estes dois modelos, Bernardo falou de sua experiência no exterior. “Lá eles o querem pelo que você é. Aqui, eles precisam de você para realizar uma tarefa”. Para o ex-professor a diferença fica explícita principalmente no momento de assinar a matéria: enquanto em outros países a regra é colocar seu nome, aqui é preciso insistir muito e, muitas vezes, só ser aceito depois de "domesticado". Através dessa domesticação as empresas asseguram que nada contra os interesses da casa seja publicado.
Falando de sua especialidade, o jornalismo econômico, Kucinski teceu diversas críticas. A principal foi quanto à elitização das publicações, fechadas sobre sí mesmas, excluindo grande parte do público através de um "economequês" que normalmente esconde a ignorância do próprio jornalista. Além disso, o poder do capital financeiro sobre as pautas das publicações tem sido muito maior do que o aceitável, refletindo o que já ocorre no próprio sistema financeiro. Hoje o Brasil é terreno de engorda para o capital internacional. “Ele chega pequeno, cresce, e vai embora.” Como a economia é dependente, o capital econômico acaba se submetendo ao capital financeiro. Isto poderia ser observado, por exemplo, na questão da volta da inflação. Segundo ele, uma importante discussão sobre qual seria o tipo da inflação que está nos atingindo, de custo ou de demanda, está sendo negligenciada pela imprensa. Assim, preserva-se o interesse do capital financeiro, personificado pelos bancos, interessado em aproveitar a situação para retomar a trajetória de crescimento dos juros, inflando seus lucros. Juros altos poderiam solucionar uma inflação de demanda, mas não resolveriam o problema de uma inflação de custo, como a que estamos vivendo.
Quando falava sobre os grandes jornais, Bernardo disse esperar que eles se tornem cada vez mais autoritários, mas que veículos alternativos tem aparecido, inclusive através de ONGs. Estes novos meios parecem ser a saída do monopólio informacional, apesar de ressalvas quanto à alguns deles e as práticas de um jornalismo menos criterioso. Pensando nas escolhas de uma carreira, ele também acrescentou que de qualquer forma é sempre importante que "o jornalista seja dono dos seus próprios meios", e ressaltou a necessidade de se criar um arquivo próprio de entrevistas, material de referência, etc.
Finalizando sua palestra, Kucinski deu diversos conselhos, baseado no que vivenciou. Falou da importância que dá à ética, tanto com leitores quanto com fontes, assim como o repúdio quem tem pela chamada promiscuidade. Explicou os problemas quanto a falta de regulamentação através de uma lei de imprensa, o que leva ao uso do código civil e aos muitos processos por calúnia e difamação. Não deixou de criticar os "Cães de Guarda", colunistas que defendem o status quo através da imprensa, e colocou a importância de se levar a sério enquanto profissional desde cedo, comprometendo-se com o trabalho.
Citando o exemplo de um ex-aluno que fez seu TCC sobre a guerra na Indonésia, ele marcou muitos colegas com a predição de que não se deve almejar grandes trabalhos no futuro, pois os melhores jornalistas se destacam no dia-a-dia da escola.
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