Por Eduardo Tavares (nº USP 4921589)
“Falta uma teoria do jornalismo em sistemas autoritários”. Essa foi a tônica da palestra ministrada pelo ex-professor de Jornalismo Econômico da ECA-USP, Bernardo Kucinski na última quinta-feira (12). Na aula, Kucinski desenvolveu uma análise da atual cobertura jornalística da economia brasileira, a qual, segundo ele, se encontra deficiente. O professor também abordou aspectos da profissão jornalística, além de dar conselhos aos estudantes.
De quem começou há muito tempo...
A principal carência do jornalismo brasileiro, segundo Kucinski, é o fato de que, diferentemente das coberturas em outros países, as idéias do próprio jornalista não apresentam grande relevância na elaboração das matérias. No Brasil ocorre uma “despersonalização” do jornalista, à medida que ele é “domesticado” conforme o projeto editorial da empresa em que trabalha. Kucinski, que possui uma vasta experiência na grande imprensa, criticou a atuação dos editores, que frequentemente deformam as matérias escritas pelos jornalistas, moldando os textos para adequá-los à mensagem que o veículo quer transmitir.
A censura que os jornalistas fazem sobre seu próprio trabalho também representa um grande obstáculo para o ganho de qualidade no jornalismo. Kucinski critica o hábito de muitos profissionais que administram a quantidade de informação a ser disponibilizada em suas matérias. Comportamentos como esse, visando algum tipo de privilégio ou prestígio ao manter informações em segredo, criam um paradoxo, já que a função do jornalista é incompatível com a atitude de impedir que a verdade completa seja propagada.
Quanto ao jornalismo econômico, especificamente, Kucinski o aponta como um agente de função ideológica, com o objetivo de convencer os leitores de que a situação está sob controle, quando, na verdade, não é exatamente essa a situação. O professor afirma que não há profundidade na cobertura, e o tipo de informação veiculada – e o modo como isso é feito – demonstram uma comunicação horizontal, de elite para elite. Os “jornalões”, como define Kucinski, são ainda caracterizados pela mesmice e pelo autoritarismo em seus noticiários.
Um exemplo comentado pelo professor diz respeito à atual discussão sobre o aumento da inflação, e as medidas do BC e do governo para conter esse aumento. A falha dos jornalistas, nesse caso, estaria no fato de não proporem reflexões sobre questões básicas, como as causas da inflação. Para Kucinski, abordagens cruciais como a demanda e os custos, que influenciam diretamente na oscilação da inflação, têm sido feitas de forma superficial. E essa insuficiência na investigação dificulta, inclusive, a procura de soluções para o aumento inflacionário.
Outra característica que denuncia a superficialidade na cobertura jornalística da economia é vocabulário utilizado nas notícias dos “jornalões”. O excesso de jargões, e o vocabulário por vezes exageradamente técnico e rebuscado significam, muitas vezes, uma tentativa dos jornalistas em esconder sua própria ignorância sobre o tema. Tal postura acaba por enfraquecer a credibilidade do jornalista, não somente frente aos leitores, mas também para com as fontes.
...para quem está apenas começando
Entretanto, ainda que o autoritarismo da grande mídia seja predominante, essa situação desestimulante é compensada pelo que Kucinski aponta como o “florescimento de outros tipos de imprensa escrita”. Essas novas mídias, segundo o professor, seriam uma boa alternativa, não só para leitores, mas também para jornalistas iniciantes, por estarem menos sujeitas a serem instrumentos na luta ideológica. Por isso, o conselho do professor para os jovens profissionais é que não fiquem obcecados com a grande mídia.
Kucinski ainda exorta aos jornalistas em formação a que persigam valores fundamentais da profissão, como o respeito e a honestidade com as fontes e com os leitores, a ética na investigação e o incessante desejo de aprofundamento nos assuntos sobre os quais se escreve. E, principalmente, Kucinski enfatiza o fato de que o jornalista deve “ter a capacidade de se maravilhar e também se indignar com o que está acontecendo”.
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