quarta-feira, 18 de junho de 2008

Uma visão realista da profissão para futuros jornalistas

Por Renato Rostás (nº USP 5903191)

Para Bernardo Kucinski, o jornalismo brasileiro e seu profissional encontram-se em uma crise. Ex-professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, hoje aposentado, Kucinski possui graduação em Física, mas ministrava aulas de Jornalismo Econômico. Trabalhou na área tanto no exterior quanto em publicações nacionais e chegou até a ser assessor de comunicação do presidente Lula. Em palestra para os alunos de 3° semestre de Jornalismo da ECA, o jornalista procurou expor os pontos sobre a carreira que atualmente o deixam descontente e o que afeta negativamente a vertente econômica do jornalismo.

Durante a palestra, realizada na última quinta-feira, 12, Bernardo Kucinski enfatizou a falta de uma teoria do jornalismo própria do nosso país. Segundo ele, nos contentamos em importar teorias dos manuais jornalísticos da Europa ou dos Estados Unidos. Assim, jornalistas são feitos reféns das posições tomadas sobre a profissão no exterior e, o que é pior, não é estabelecido um padrão de comportamento.

Apesar de criticar essa situação, Kucinski elogia algumas atitudes que os profissionais do jornalismo tomam no exterior e que, segundo ele, seria bom se copiássemos essas posições em determinadas situações. Por exemplo, o jornalista costuma ter o compromisso com a verdade nos EUA, quão dura ela possa ser. Enquanto no Brasil algumas informações mais "picantes" – segundo o próprio Kucinski – acabam sendo deixadas de fora, elas só engrandecem o furo para os norte-americanos, que muitas vezes procuram esses detalhes mais comprometedores. Para piorar a situação, o que acaba determinando se a informação é comprometedora o suficiente ou não é a própria moral do jornalista que a apurou, o que, obviamente, varia muito de acordo com a vivência de cada um. Portanto, essa auto-censura baseada em fatores muito subjetivos acaba prejudicando o jornalismo no Brasil.

Ao mesmo tempo que falou sobre a falta de uma teoria brasileira própria do jornalismo, Kucinski deu um enfoque grande na palestra para o autoritarismo presente atualmente nas redações. Isso é representado de várias maneiras, seja na insistência dos editores em vasculhar os textos jornalísticos a fim de canetá-los – uma matéria perfeita seria impossível –, seja no fato de os chefes exigirem uma posição favorável de seus empregados para que consigam algum destaque na redação. Para ele, o grupo seleto dos que têm voz ativa nos jornais a conquistou sendo condescendente com o sistema; você é premiado quando escreve o que o sistema quer, da mesma foram que é punido quando escreve algo que o desagrade.

Falando especificamente sobre o jornalismo econômico, sua especialidade, o professor elencou os principais defeitos da área. Um, já citado em seu livro Jornalismo econômico (publicado originalmente em 1996, pela Edusp, com última revisão em 2007), é o da linguagem rebuscada que a seção de economia dos jornais costumam usar. Os jargões e a quantidade de números empregados mostram que os autores das matérias escrevem para um leitor já entendido do assunto, não admitindo aquele que está por fora do mundo econômico. Nas palavras de Kucinski, “os jornalões praticam um jornalismo fechado”, ou seja, é a elite escrevendo para a elite.

Por fim, o jornalista condenou, ainda, o fato de hoje o jornalismo econômico como um todo, nos grandes jornais, ser pautado pelo capital financeiro. Ele afirma haver uma grande promiscuidade entre os profissionais do jornalismo e do mercado financeiro, acarretando em uma cobertura passiva e condescendente com as medidas governamentais que favorecem o mercado. Essas medidas que favorecem o mercado e a passividade da grande imprensa – Kucinski usou o termo “jornalões – fazem com que o Brasil torne-se um “terreno de engorda do capital financeiro”, segundo o professor, um local intermediário em que os investimentos sejam feitos em curto prazo e contem com lucro certo.

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