por Pedro Maino, nº. USP 5903288
Profissionais brasileiros se auto-censuram e nem sempre jogam limpo na visão do professor aposentado do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP
Em palestra realizada no último dia 12, o jornalista econômico e ex-professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Bernardo Kucinski, falou, em palestras aos alunos do segundo ano, sobre a diferença entre os tipos de jornalismo praticados no Brasil e no exterior. Para o palestrante, que trabalhou tanto no Brasil quanto na imprensa estrangeira, há muitas diferenças entre o jornalismo aqui e nos Estados Unidos, por exemplo.
Segundo Kucinski, os jornalistas brasileiros são contratados apenas por seus serviços, ao contrário do que os estudantes possam pensar. “As empresas não querem você por suas idéias. Elas querem que o profissional exerça uma tarefa, enquanto as idéias cabem aos editores”, explicou o professor, que explicou a situação como um processo de domesticação do jornalista. “No período da ditadura era assim, mas isso ainda se observa nos dias de hoje”.
O convidado explicou ainda que os repórteres brasileiros sofrem com a auto-censura. “Aqui, o jornalista deixa de publicar algo por receio de se comprometer com a fonte e, com isso, perdê-la. É publicada então uma ‘ficção sobre o real’ e a verdadeira história só aparece depois do expediente. Só que ninguém precisa ser jornalista. Quem não quiser se comprometer pode arranjar outra profissão”, analisou, apontando o contrário em outros países. “Isso nem é cogitado por um repórter estrangeiro. Se ele tem uma informação apurada e confiável, nunca irá passar pela cabeça dele segurar esta notícia”.
A respeito da atual ética vigente no jornalismo brasileiro, Kucinski foi crítico, afirmando que no Brasil impera a ‘ética da malandragem’. “Infelizmente, a honestidade está lá embaixo na nossa escala de valores. O profissional pensa apenas em conseguir o que precisa e tem uma relação predatória com sua fonte”. Em uma comparação com os americanos, o palestrante ressaltou que apenas dois pontos são importantes no Código de Ética deles. “Nos Estados Unidos, o jornalista deve ser correto com as fontes: buscar a verdade e jogar limpo (fair play)”.
Ainda sobre a ética e a atuação do profissional no Brasil, o professor explicou que isso faz com que as fontes tenham pavor de jornalistas. “Eles nunca sabem se você escreverá apenas o que ele disse”. No entanto, deu dicas para ganhar a confiança dos entrevistados. “No início, pode parecer mais complicado jogar limpo, mas isso te dá uma credibilidade que te diferencia dos demais no futuro”.
Kucinski criticou ainda a relação tangencial de alguns jornalistas com o conhecimento e disse que é algo comum. “Certa vez em uma entrevista, o âncora me questionou sobre quais perguntas deveria me fazer ao vivo. Isso, obviamente, o livra das responsabilidades de se aprofundar no assunto tratado”. Ele, por outro lado, aconselhou aos alunos que façam justamente o oposto. “Jornalista bom é aquele que é informado, que sabe do que está falando e se aprofunda no tema”.
Durante a palestra, o professor revelou ainda uma série de outras dicas para que os estudantes possam se dar bem na imprensa, considerada com autoritária por ele. Uma delas se refere ao material utilizado pelo jornalista. “O brasileiro precisa fazer uso de uma ética defensiva, ou seja, deve ser dono de seu próprio material. Não pode depender de uma empresa, pois você pode ‘tomar um pé’ dela a qualquer momento”.
Além disso, Kucinski falou que o jornalista deve ser muito bom. “Pode parecer óbvio, mas, além de inteligente, você deve ser esperto e saber se inserir no sistema. É importante, por exemplo, não criticar, um colega de profissão. Além disso, é fundamental estar em uma ‘panelinha’. Ninguém te contrata porque você é bom, mas porque pertence a determinado grupo”. Bem humorado, o professor afirmou que, em último caso, o profissional deve montar a própria ‘panelinha’.
O professor encerrou dizendo que ninguém será um bom jornalista em um dia, ou em um determinado momento. De acordo com ele, o talento deve aparecer durante a faculdade. “Se a pessoa não escreveu algo descente para o ‘Jornal do Campus’, (com circulação interna na Universidade de São Paulo), dificilmente escreverá algo assim no futuro”. Para Kucinski, a vida profissional começa na escola.
Em palestra realizada no último dia 12, o jornalista econômico e ex-professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, Bernardo Kucinski, falou, em palestras aos alunos do segundo ano, sobre a diferença entre os tipos de jornalismo praticados no Brasil e no exterior. Para o palestrante, que trabalhou tanto no Brasil quanto na imprensa estrangeira, há muitas diferenças entre o jornalismo aqui e nos Estados Unidos, por exemplo.
Segundo Kucinski, os jornalistas brasileiros são contratados apenas por seus serviços, ao contrário do que os estudantes possam pensar. “As empresas não querem você por suas idéias. Elas querem que o profissional exerça uma tarefa, enquanto as idéias cabem aos editores”, explicou o professor, que explicou a situação como um processo de domesticação do jornalista. “No período da ditadura era assim, mas isso ainda se observa nos dias de hoje”.
O convidado explicou ainda que os repórteres brasileiros sofrem com a auto-censura. “Aqui, o jornalista deixa de publicar algo por receio de se comprometer com a fonte e, com isso, perdê-la. É publicada então uma ‘ficção sobre o real’ e a verdadeira história só aparece depois do expediente. Só que ninguém precisa ser jornalista. Quem não quiser se comprometer pode arranjar outra profissão”, analisou, apontando o contrário em outros países. “Isso nem é cogitado por um repórter estrangeiro. Se ele tem uma informação apurada e confiável, nunca irá passar pela cabeça dele segurar esta notícia”.
A respeito da atual ética vigente no jornalismo brasileiro, Kucinski foi crítico, afirmando que no Brasil impera a ‘ética da malandragem’. “Infelizmente, a honestidade está lá embaixo na nossa escala de valores. O profissional pensa apenas em conseguir o que precisa e tem uma relação predatória com sua fonte”. Em uma comparação com os americanos, o palestrante ressaltou que apenas dois pontos são importantes no Código de Ética deles. “Nos Estados Unidos, o jornalista deve ser correto com as fontes: buscar a verdade e jogar limpo (fair play)”.
Ainda sobre a ética e a atuação do profissional no Brasil, o professor explicou que isso faz com que as fontes tenham pavor de jornalistas. “Eles nunca sabem se você escreverá apenas o que ele disse”. No entanto, deu dicas para ganhar a confiança dos entrevistados. “No início, pode parecer mais complicado jogar limpo, mas isso te dá uma credibilidade que te diferencia dos demais no futuro”.
Kucinski criticou ainda a relação tangencial de alguns jornalistas com o conhecimento e disse que é algo comum. “Certa vez em uma entrevista, o âncora me questionou sobre quais perguntas deveria me fazer ao vivo. Isso, obviamente, o livra das responsabilidades de se aprofundar no assunto tratado”. Ele, por outro lado, aconselhou aos alunos que façam justamente o oposto. “Jornalista bom é aquele que é informado, que sabe do que está falando e se aprofunda no tema”.
Durante a palestra, o professor revelou ainda uma série de outras dicas para que os estudantes possam se dar bem na imprensa, considerada com autoritária por ele. Uma delas se refere ao material utilizado pelo jornalista. “O brasileiro precisa fazer uso de uma ética defensiva, ou seja, deve ser dono de seu próprio material. Não pode depender de uma empresa, pois você pode ‘tomar um pé’ dela a qualquer momento”.
Além disso, Kucinski falou que o jornalista deve ser muito bom. “Pode parecer óbvio, mas, além de inteligente, você deve ser esperto e saber se inserir no sistema. É importante, por exemplo, não criticar, um colega de profissão. Além disso, é fundamental estar em uma ‘panelinha’. Ninguém te contrata porque você é bom, mas porque pertence a determinado grupo”. Bem humorado, o professor afirmou que, em último caso, o profissional deve montar a própria ‘panelinha’.
O professor encerrou dizendo que ninguém será um bom jornalista em um dia, ou em um determinado momento. De acordo com ele, o talento deve aparecer durante a faculdade. “Se a pessoa não escreveu algo descente para o ‘Jornal do Campus’, (com circulação interna na Universidade de São Paulo), dificilmente escreverá algo assim no futuro”. Para Kucinski, a vida profissional começa na escola.
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