quinta-feira, 19 de junho de 2008

Samurais da informação

12/06/08

por Lia Chartouni Segre (n° USP 5993088)

Em palestra ministrada a alunos do segundo ano de jornalismo, Bernardo Kucinski fala de ética e valores da profissão

“Compromisso com os leitores e com a verdade”. Por trás da frase aparentemente batida há uma grande mensagem: pelo menos para o ex-professor de jornalismo da ECA, Bernardo Kucinski. Homem de história notável e gestos simples, impressionou os jovens futuros colegas de profissão com sua postura admiravelmente firme em um meio corrompido. O choque entre duas gerações tão antagônicas seria considerável de qualquer jeito, ainda mais pelo fato de uma das partes ter tanto a dizer a respeito do que a maioria daqueles que estavam na sala tanto ouvem falar, e querem ainda vivenciar. Se for de uma época (discutivelmente) de ouro então, nem se fala.

"Sou um clássico", disse a certa altura da falação, explicando em muito sua opção de defender formas menos inovadoras de se fazer jornalismo. Sente saudades dos tempos de redação, aonde se aprendia fazendo, discutindo em um ambiente naturalmente favorável ao encontro humano e a elucubração sobre o que se acontecia além dos escritórios. Critica o jornalismo de colunas, com cada repórter na sua torre de marfim e especialidade própria. Mesmo com um discurso em vários pontos, demasiado nostálgicos e irreais para a atual conjuntura; a sua principal tecla – postura ética jornalista - é mais que atual.

Mesmo sendo saudosista em alguns aspectos, Kucinski sempre foi lúcido quanto ao panorama da imprensa no país. A crise ética é muito mais antiga do que ele gostaria, e sim, há mais carreiristas e inconseqüentes no meio do que seria aceitável. Avisa que o que acontece hoje é longe do decente, seja entre repórteres, seja na relação repórter-empresa. Essas, diz, estabelecem um diálogo utilitarista com o funcionário. Por isso, aconselha a ser independente, se garantir com a sua agenda pessoal (em arquivos seguramente gravados em casa), coleção de reportagens, matérias, enfim: ter seu próprio método de trabalho. Tanto cuidado, perceberam os aspirantes a repórteres, não é exagero para os tempos turbulentos que estamos passando.

Bakumatsu: turbulência e renascimento

Tempos de redação são cada vez mais distantes: é mais que consenso hoje em dia que com a internet e as facilidades em geral de conexão (a qualquer lugar, de qualquer lugar), que não é preciso estar em alguma sede de veículo para fazer notícias. "Há uma democratização incrível", opina o jornalista, e concorda que, mais que em outras épocas, com as novas ferramentas, qualquer um faz notícia. Entre esse ser informacional e emissor e o jornalista, Kucinski acredita caber ao segundo maior responsabilidade sobre o que emite. Segundo o professor, não há como prever o futuro do ramo e do exercício profissional, mas há coisas que nunca mudam.

É preciso ser sempre fiel às suas fontes, respeitá-las; e aos seus leitores. Não é raro encontrar jornalistas que ao invés de fazerem entrevistas, buscam aspas ou esperam um erro para fazer manchetes curiosas, polêmicas. Só que esse profissional certamente perderá a credibilidade. Mesmo que o caminho da incorruptibilidade seja mais difícil do que a desonestidade - vigente -, ao final, você terá contatos que confiam em você - diz o experiente profissional, dando a receita que seguiu. Com essa fórmula que teve muitas portas fechadas, principalmente no começo, mas foi a que o possibilitou chegar à função de assessor da Presidência da República.

As virtudes não param por aí. Sim, é preciso ser perfeito, ou ao menos tentar errar o mínimo, pois sempre terá alguém para apontar suas falhas. Mas por isso também é bom ter amigos - e discorreu sobre a importância da panelinha como pé de sustentação para uma carreira saudável: ninguém é nada sozinho. E aconselha mais: nunca criticar os colegas. É necessário ser uma rocha, que não sucumba ao mais corriqueiro e usual, tão clichê.

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