quinta-feira, 19 de junho de 2008

Kucinski mostra a trilha para um bom jornalismo

Por: Renato Santino
nºUSP: 5902972



Na opinião de Bernardo Kucinski, as perspectivas atuais do jornalismo brasileiro são bastante preocupantes. Aposentado desde o fim de 2007, o ex-docente responsável pelas aulas de Jornalismo Econômico na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo, originalmente graduado em Física, mas doutorado em Ciências da Comunicação, trabalhou em grandes veículos de comunicação brasileiros e estrangeiros e chegou ao posto de assessor de comunicação do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Em palestra ministrada aos estudantes de sua antiga disciplina, o ex-professor pôde debater sobre os rumos do jornalismo e apresentou um panorama crítico sobre o exercício da função nos dias atuais.

Durante a palestra, ministrada na última quinta-feira, dia 12 de junho, o conferencista criticou duramente a ausência de uma teoria do jornalismo autenticamente brasileira. Desta forma, o modelo jornalístico brasileiro acaba fatalmente atrelado aos manuais norte-americanos e europeus, o que acaba por descaracterizar o jornalista do nosso país, o qual é limitado por teorias que não se adequam à nossa realidade.

O autor do livro Jornalismo Econômico, publicado em 1996 pela Edusp, ainda comenta um problema recorrente quando se trata desta vertente do jornalismo que é abordado no livro supracitado, que é o do “economês”, linguagem formada por jargões, sobre os quais Kucinski afirma que são “uma maneira de esconder sua própria ignorância”. Ininteligível pela maioria da população, este rebuscamento acaba por afastar o leitor comum, que perde o interesse em um conteúdo importante para análise da situação de um país. Desta forma, o jornalismo econômico, feito pela elite, define um público-alvo: a própria elite.

Kucinski ainda explica a relação entre o byline (assinatura do autor da matéria) e a perpetuação dos padrões elitistas do jornalismo econômico. Para ele, há um grande esforço para se conseguir o byline, mas para alcançá-lo, é necessário seguir as regras dos grandes jornais. Como os "jornalões" possuem visões de mundo próximas, o jornalista se vê encurralado: ou segue as regras e consegue divulgar seu nome, ou as confronta e corre o risco de ver um triste "Da Redação" assinando sua matéria. Como alternativa a essa "sinuca de bico", Kucinski propõe que o jornalista inicie sua carreira na mídia alternativa, onde não haja a possibilidade de assinar seus textos.

Bernardo Kucinski ainda deu algumas dicas para os jovens jornalistas para que possam seguir uma carreira de sucesso. Para ele, o bom jornalista deve ser íntegro e, acima de tudo, deve respeitar sua fonte e seu leitor. Devido à escassez crescente destes valores no atual panorama do jornalismo, torna-se comum o receio da fonte conceder uma entrevista a qualquer jornalista, pois não há garantias do que ele fará com as informações que lhes serão passadas, visto que o mau uso dessas informações é bastante comum. Uma vez que se possui a confiança da fonte, o jornalista pode se aprofundar cada vez mais no assunto, o que não seria possível sem essa confiança.

Outra dica importante dada pelo jornalista aos seus futuros colegas de profissão foi a de “jamais criticar o trabalho de um colega”. Kucinski relata a importância das “panelinhas” para uma carreira bem sucedida. Para tal, o bom relacionamento com todos os seus companheiros de trabalho é importante, mas é ainda mais importante estreitar os laços com algum grupo no qual o jornalista possa confiar e usar como apoio.

Um comentário:

RRRR disse...

Hmmm, acho que já li essa matéria antes...

=P