Veterano do jornalismo econômico fala para estudantes sobre os percalços da profissão na prática.
por André Cabette Fábio
Quinta-feira, dia 12 junho Bernardo Kucinski se dirigiu a uma turma de 30 alunos do segundo ano de Jornalismo da USP. No lugar da aula de Jornalismo Econômico, matéria que o próprio costumava passar e que normalmente ocorre às quintas, ocorreu uma palestra com o jornalista veterano. O comparecimento dos alunos foi incomumente alto para os padrões da turma de jornalismo noturno de 2007.
Kucinski começa a palestra fazendo algumas considerações a respeito da cobertura econômica atual, em particular a respeito da volta da inflação. Para o jornalista, a cobertura que a mídia tem feito do assunto é omissa. “Todo mundo aqui [no Brasil] entende muito de inflação”, mesmo assim, diz, uma distinção importantíssima é deixada de lado. Ele ressalta que o que vemos atualmente é uma inflação causada por aumento de custos e não de demanda. Uma inflação de demanda é proveniente do aumento do ritmo de consumo maior que o ritmo de produção. Uma inflação de custos, por sua vez, é causada pelo aumento dos custos de produção, no caso isso acontece com o alardeado aumento dos preços das commodities. “é importante essa distinção porque elas [as formas de inflação] exigem remédios totalmente diferentes”. Uma saída para uma inflação de demanda é o “confisco” do dinheiro do consumidor, ou seja, diminuir seu poder de compra e, conseqüentemente, a demanda em si, daí o aumento dos juros. Para uma inflação de custos, no entanto, isso não faz sentido, “é um remédio totalmente oposto”. Nesse caso, o poder de consumo da população não é a raiz do problema, diminuí-lo com juros não seria uma solução. Pra Kucinski, a imprensa estaria omitindo essa discussão pois “é interesse dos bancos aproveitar essa crise pra retomar um processo de elevação dos juros”.
A maior parte da palestra, no entanto, não foi dedicada à cobertura econômica. Kucinski aproveitou a hora e meia que teve com os futuros jornalistas para passar um pouco da experiência de seus vários anos de carreira. É um retrato realista e um tanto desiludido da profissão, vindo de um homem que diz ter brigado com todo tipo de redação possível – Kucinski diz que resolveu prestar concurso para professor da USP depois que brigou com a revista Ciência Hoje. “O sistema aceita os dissidentes até um certo ponto. Passou dali o cara entra numa espécie de lista negra”. A partir disso Kucinski passa algumas dicas práticas para os futuros jornalistas se manterem no mercado com a integridade de suas idéias. “uma solução (...) é ser muito bom”, ou seja, mergulhar em cada tema que for cobrir, evitar o chamado “jornalismo tangencial”. Dessa forma o jornalista questionador compensa o fato de ser um “risco à empresa”. Ele destaca também o dever e a necessidade de ser correto com suas fontes e seus leitores. Esse é o tipo de relação que independe da empresa para qual se trabalha. Uma atitude ética atrelada a seu nome é algo que demissão nenhuma atinge.
Kucinski destaca também alguns cuidados quase que políticos que devem ser tomados. “O jornalismo no Brasil, como muitas coisas, é formado por panelinhas”. Entrar nessas “panelinhas” é imprescindível para manter algum apoio dentro do mercado. “Nunca critique um colega de profissão”, sob a pena de criar um atrito duradouro, também é algo que o jornalista recomenda fortemente.
Mas, desse choque de jornalismo prático pelo qual os 30 alunos passaram, há uma mensagem que deixou uma impressão mais forte.
“Vocês não podem ser grandes jornalistas num certo dia, depois, no futuro. É uma coisa que já começa na escola”.
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3 comentários:
"O comparecimento dos alunos foi incomumente alto para os padrões da turma de jornalismo de 2007" ¬¬'
Hhahaha! Vai porretar, seu vagabundo!
Este mundo está perdido...
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