quinta-feira, 19 de junho de 2008

Kucisnki revela as verdades do jornalismo em palestra

Ex-professor do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP critica o jornalismo brasileiro e revela as minúcias do mundo das redações

Francisco Laurentiis (número USP: 5904504)

Na última quinta-feira (12/06), Bernardo Kucinski, jornalista de renome internacional e atual ombudsman do Jornal do Campus (feito pelos alunos do curso de jornalismo da Escola de Comunicações e Artes) deu uma palestra descontraída, mas sobre temas sérios, aos alunos da disciplina Fundamentos de Economia. Na conversa, o ex-professor de economia da ECA, que se aposentou no final de 2007, abordou não apenas a economia mundial, principal foco do curso, mas também os problemas nas coberturas jornalísticas feitas pelos grandes veículos e o sistema autoritário das redações. Ele ainda deu dicas aos estudantes de como se destacar em um mercado de trabalho acirrado como é o do jornalismo.

Kucinski tem autoridade de sobre falar sobre o mundo do jornalismo. Sua experiência em meios de comunicação nacionais, como a Veja e a Gazeta Mercantil, e estrangeiros (como o jornal The Guardian e a rede de televisão BBC, ambos da Inglaterra), além de seu trabalho como escritor (é autor de Jornalismo Econômico, publicado pela Edusp, entre outros), são provas disso. E, logo no início da palestra, declarou com a sinceridade quem nunca lhe faltou em muitos anos de profissão: “Falta uma ideologia jornalística genuinamente brasileira”. Segundo o ex-professor, os valores do jornalismo nacional são importados dos Estados Unidos e da Europa e nossas principais publicações estão sempre copiando o que fazem as estrangeiras. Ele também comparou o jornalismo brasileiro com a economia do país: “A economia do Brasil é guiada e direcionada pelos estrangeiros”, já que as decisões econômicas mais importantes não são tomadas no país, mas nos países estrangeiros. Kucinski completou dizendo que o Brasil é um “terreno de engorda” do capital estrangeiro.

Em seguida, o jornalista fez críticas ao sistema autoritário imposto pelas redações brasileiras. Segundo o palestrante, os editores, “responsáveis pelas idéias”, são meros “cortadores”, “canetadores” de matérias, enquanto os jornalistas, “responsáveis por todo o trabalho”, são os “cordeirinhos” das redações: eles só assinam as matérias se seguirem à risca os manuais técnicos e ideológicos dos veículos, são muitas vezes obrigados a se “autocensurarem” para evitar problemas jurídicos para os veículos e não se aprofundam nos assuntos abordados para “não complicar” para os editores. Kucinski também destacou um dos piores hábitos do jornalista brasileiro: “Jornalista brasileiro gosta de formar ‘panelinhas’ redações”. Como jornalista, ele garante que isso atrapalha principalmente a troca de informações entre os profissionais e desestabiliza o ambiente de trabalho na redação. O palestrante ainda se mostrou um severo defensor da ética no jornalismo: “O profissional de mídia deve ser sempre correto e honesto com suas fontes, e também não deve criticar colegas de profissão”.

O jornalismo econômico brasileiro também foi tema da palestra. Kucinski destacou que os as notícias do caderno de economia são muitas vezes persuasivas, enganosas e pouco compreensíveis para maior parte da população. Ele também critica o excesso de jargões utilizados pelos jornalistas da área: “Usar jargões é uma forma de mascarar a própria ignorância perante um assunto”. A seleção de valores empregada no caderno econômico foi definida por Kucinski como negligente: “Há excessiva promiscuidade entre editores, jornalistas e o capital financeiro”. Para o palestrante, muitos assuntos não aparecem no caderno de economia pois não interessam à “elite” para quem essa parte do jornal é dirigida.

Para os alunos que esperavam ver uma palestra sobre o “romantismo” do jornalismo e a crise econômica contemporânea, as críticas ácidas de Kucinski podem até ter soado um pouco exageradas. Mas a sinceridade de jornalista, aliada à boa argumentação do professor, mostraram as verdades por trás das redações e advertiram os futuros jornalistas da ECA sobre o que vão encontrar daqui a algum tempo. Kucinski falou a verdade, como sempre fez em sua carreira, e como deve fazer todo jornalista, não importando a ocasião.

2 comentários:

RRRR disse...

Venho aqui entregar-lhe, mais uma vez, o prêmio Luis Santoro/Renato Santino do semestre. Parabéns! Você já está na lista para a iniciação científica com Alice Mitika!

Butico disse...

Obrigado, acho que eu mereço mesmo =)